Necessitamos da oração - Gebaldo José de Sousa


“Que me importa a abundância das vítimas? Julgais que me contento com o seu sangue e os seus holocaustos? Tenho em abominação os vossos hinos, as vossas festas e as vossas orações. Purificai os vossos corações; tirai das minhas vistas a iniquidade dos vossos pensamentos; não continueis a praticar obras perversas; aprendei a fazer o bem; procurai adquirir o discernimento; socorrei o oprimido; fazei justiça ao órfão e defendei o perseguido.”  Isaías 1:15 a 17.

“Nem todo o que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus, mas aquele que faz vontade de meu pai que está nos céus.” - Mt 7:21.

“Não estejais falando com Deus e pensando noutra coisa, que isto é não entender o que seja a oração mental.” Tereza de Jesus (1515-1582).


Melhor orar menos, mas despertos, conscientes. Oração exige concentração. Melhor prece é eleger como objetivo da própria vida o tornar os outros felizes.

Colhemos em ‘O Evangelho segundo o Espiritismo” preciosas orientações sobre o tema: primeira coisa ao despertar é a prece, o pensamento em Deus; gratidão pelo sono e pelo recomeço de novo dia.

É o que também nos recomendam os Espíritos: “Comece o dia à luz da oração. O amor de Deus nunca falha”.

“Dai-me forças para não falir de novo e coragem para a reparação da minha falta.”

Pedir a oportunidade de conquistar virtudes.

“Rogai-Lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação, e da fé.”

Não cuidar de pedir coisas materiais.

“O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos (...).”

“Buscai primeiro o reino dos Céus e a sua Justiça e o mais vos será acrescentado.”

“Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós.”

E orar com humildade, sem impor condições ao Pai, com submissão aos supremos desígnios, como nos ensina Jesus na Oração Dominical: “Seja feita a vossa vontade...”.

Pedir o de que realmente necessitamos, eis que nos iludimos quanto às nossas necessidades: não o fim das provas, não a posse de riquezas e alegrias ainda imerecidas; se possível a saúde física e mental, mas a coragem e a serenidade de suportar expiações e provações de toda ordem.

Convém-nos compreender que não se ora só com palavras, mas na forma de viver; de cumprir as próprias tarefas; de se relacionar com as pessoas; de pensar (cultivando bons pensamentos); e, sobretudo, com a prática de boas ações, incansavelmente, sem se preocupar com recompensas.

“Oremos, meus irmãos, mas oremos servindo.” (Albino Teixeira/Chico-Caminho Espírita.)

“Como vedes, a prece pode ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção acarretar aos vossos trabalhos.”

Orar com pensamentos que partam do coração. Nada de preces decoradas, recitadas automaticamente; mas, se for o caso, fazê-las observando o sentido de cada frase, para melhor compreendê-las. Quem passa por grandes dores, quase sempre aprende a orar e valoriza a prece.

Orar em qualquer lugar: ao passar por Hospital, rogar por enfermos, médicos, enfermeiras e demais trabalhadores; ao cruzar com outras pessoas, emitir pensamentos de paz para todas elas.

Envolver em ondas mentais de ternura:

– crianças;      

– jovens;

– profissionais de todas as áreas;

– motorista do ônibus;

– lavradores, no campo;

– políticos; juízes; empresários;

– suicidas;

– viciosos;

– prisioneiros; policiais;

– enfim, a Humanidade inteira: encarnados e desencarnados.

Conscientizarmo-nos de que a prece é compromisso que exige contrapartida; que há a parte que nos compete realizar – “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos que nos devem” – e que requer mudanças de conduta (“Ajuda-te, que o Céu te ajudará!”)

Perceber que não nos cabe só pedir, mas fazer nossa parte; agradecer, louvar, estudar, trabalhar e servir ao semelhante.

Pedir a Deus que dirija nossos passos, ações, pensamentos e palavras, cumprindo nossos próprios deveres, por menores que sejam, com alegria e gratidão.

Nossos sofrimentos originam-se de erros por nós cometidos: pensamentos, palavras e ações, desta e de outras reencarnações, os provocaram.

Quem bebe, ou fuma, ou come demais, ou se irrita, ou se vinga, ou alimenta ódio no coração, acaba com a saúde física e mental. Há que se eliminar tais vícios, eis que acentuam as dores atuais e originam outras no futuro, nesta ou nas próximas voltas às reencarnações.

Evangelizarmo-nos, eliminar maus hábitos físicos e mentais: vícios, falhas morais etc.; adquirir virtudes a pouco e pouco. A Deus não se engana: a reforma íntima é também bela forma de orar.

Se alguém vai às escuras, em noite chuvosa, em caminho pedregoso e acende uma luz, ainda que pequena, as dificuldades não desaparecem, mas pode evitar tropeços (seja a presença de serpentes, buracos ou quaisquer outros).

Realizar o estudo de Evangelho no lar semanalmente; em todos os dias ler obras edificantes, ouvir boa música e atentar para o uso que fazemos de nossa língua, evitando palavrões, zombarias e piadas de mau gosto. A maioria desconhece as consequências desses maus hábitos e os adotam como algo normal.

Esse processo diário de autoeducação desenvolve em nós confiança crescente em Deus, nosso Pai, e nos dá equilíbrio vida afora.

***

Assim é a prece: luz para quem está em provações. Se oramos, nossas dificuldades não desaparecem, mas nossos sofrimentos são amenizados. Com ela iluminamos nossos caminhos.

Com ela deixamos de acrescentar às dores atuais, já de si tão intensas às vezes, carga de aflições desnecessárias, quando as provações nos chegam.

Cultivar religiosidade em todos os momentos, não apenas quando frequentamos este ou aquele templo.

O Evangelho é para a vida toda e para todos os momentos. Nossas dores resultam quase sempre desse desconhecimento: saímos dos templos e voltamos às equivocadas práticas.

Confiar serenamente em Deus: ele quer o melhor para todos nós e sabe as causas desses sofrimentos.

A prática do bem desinteressadamente contribui para diminuir a intensidade dos sofrimentos atuais, eis que “O amor cobre a multidão de pecados”. (I Pe 4:8.)


Referência:

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1ª. impr. Brasília: FEB, 2013. Cap. 27, it. 22, p. 323/4.



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