Nada nesta vida nos pertence - Juan Orozco

Um amigo, certo dia, disse: nascemos sem trazer nada, morremos sem levar nada, mas passamos a vida toda achando que as coisas são nossas e brigamos por aquilo que não trouxemos e tampouco levaremos.

Essa frase resume o apego e a grande valorização aos bens materiais em detrimento dos bens espirituais, aqueles que realmente são conquistas do Espírito para a bagagem da vida eterna.

Muitos depositam tudo na posse de bens materiais, apoderando-se deles como se fossem perenes, deixando-se levar pela ambição, pelo desejo insaciável de acumular bens de fortuna, sem edificar a futura morada pelos verdadeiros valores da vida eterna. Quando menos esperar, em meio aos ambiciosos planos, serão arrebatados para prestar contas da utilização dos bens concedidos pelo Pai.

O vínculo que prende o ser humano fortemente aos bens terrenos desvia-lhe os pensamentos do céu. O avarento será algemado às riquezas que amontoou.

Os bens materiais, talentos e recursos disponibilizados pela Providência divina são empréstimos que serão devolvidos no momento do ajuste de contas perante o Criador.

O tempo concedido para utilização desses bens é a existência terrena, porquanto ao retornarmos para o plano espiritual eles serão devolvidos à divindade. Somos depositários fiéis desses bens para serem empregados em benefício próprio e de nossos semelhantes. Como depositário desses bens, o ser humano não tem o direito de os esbanjar e nem confiscar em seu proveito.

Eles servem para impulsionar o progresso moral e espiritual, ajudando a construir a futura morada, porque a experiência terrena não é mais do que uma etapa para fazer as aquisições dos tesouros libertadores da alma, que levaremos em nossa bagagem evolutiva.

Os bens materiais são necessários no contexto vivencial do plano físico. Nas provas e expiações, o que pesará é o nível de apego aos bens materiais e como os utilizamos.

Elucida o Espírito Lacordaire: “O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais.”

O apego sempre reflete imperfeição moral, seja ele direcionado aos bens materiais ou às pessoas. Não se deve confundir apego com amor. O apego é sempre de natureza restritiva, egoística. O amor, ao contrário, sabe dividir, concede liberdade e desapego.

O apego aos bens materiais torna-se uma jaula que aprisiona o possuidor distraído, que passa a pertencer àquilo que supõe possuir. Causa aflição, pelo medo de perder o que acumula, pela ânsia de aumentar o volume dos recursos e pela circunstância de ter que deixá-los ante a iminência da morte sempre presente na vida.

Restituímos à vida o que ela emprestou em nome de Deus, mas os tesouros espirituais ganhos, no campo da educação e das boas obras, serão somados à bagagem de nossas existências evolutivas.

O desapego aos bens terrenos consiste em apreciar a riqueza no seu justo valor, em saber servir-se dela em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por ela os interesses da vida futura, em perdê-la sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-la.

O ajuste de contas é momento da aferição de valores que, cedo ou tarde, nos alcança. A nossa missão justifica-se pelas obras realizadas. Não há como fugir dessa avaliação. Nesse sentido, os planejamentos reencarnatórios têm como base essa aferição, a análise dos resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo Espírito em cada etapa de aprendizado.

Pobres e ricos são Espíritos em provação, sendo que a indigência é uma prova dura e a riqueza é uma prova perigosa e muito arriscada, mais perigosa do que a miséria, pelos arrastamentos que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce.

A prova da riqueza não é fácil de ser vencida, pois ela pode estimular a exacerbação das más tendências e o predomínio das paixões inferiores.

O fato de a riqueza tornar difícil a prova de quem a recebe, não quer dizer que será impossível superá-la, pois pode servir como meio de salvação àquele que souber dela dar utilidade edificante.

Pelas consequências que ela provoca, a prova da riqueza é um meio concedido por Deus para avaliar a sabedoria e a bondade do ser humano: uma forma de testar-lhe a capacidade moral mediante o seu uso correto da riqueza na prática do bem e da caridade. Nesse sentido, ela serve de instrumento para impulsionar o progresso espiritual, como tantos outros disponibilizados por Deus.

Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.” (Mateus, 19: 24)

Possuir riquezas terrenas não são condições essenciais para a busca da felicidade.

Devemos acumular os tesouros celestiais e aproveitar as oportunidades que Deus nos oferece para fazer bom uso dos bens materiais concedidos temporariamente como meios de impulsionar a nossa evolução intelectual, moral e espiritual.

Jesus nos adverte de que a verdadeira finalidade da vida terrena é obter a riqueza espiritual: “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus, 6: 33). Tão logo chegarmos a compreender que a real felicidade não consiste na posse transitória das coisas do mundo, de bom grado passaremos a trabalhar ativamente para entrarmos na posse dos bens espirituais.

Por tudo isso, derrama o tesouro de amor que o Pai Celestial lhe situou no coração, através das bênçãos de fraternidade e simpatia, bondade e esperança para com os semelhantes e serás, invariavelmente, a criatura realmente feliz, sob as bênçãos da Terra e dos Céus.

Os bens materiais ficam, mas as conquistas realizadas pelo Espírito continuam.

 

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Da 3ª Edição francesa. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.



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