Mediunidade, tesouro bendito - Temi Mary Faccio Simionato
“Caríssimos, não acreditais em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo.” (I João, 4:1)
Todos aqueles que são tentados a explorar os fenômenos em proveito próprio, fazendo-se passar por enviados de Deus, não podem abusar por muito tempo da credulidade alheia, porque logo serão desmascarados. Aliás, esses fenômenos nada provam por si mesmos, pois a missão se prova por efeitos morais, que nem todos podem, ainda, aprimorar. Esse é um dos resultados do desenvolvimento da ciência espírita que, pesquisando a causa destes, levanta o véu de muitos mistérios. Os que preferem a obscuridade à luz são os únicos interessados em combatê-la.
Os médiuns que fazem mau uso de sua faculdade, que não se servem dela com o objetivo do bem, serão duplamente punidos, porque têm um meio a mais para se esclarecerem e não o aproveitam. Em nota, em O Livro dos Médiuns, capítulo 20, questão 226, subitem 8, Kardec esclarece: “Há a se observar que, quando os bons espíritos julgam que um médium cessa de ser bem assistido e se torna, pelas suas imperfeições, a presa dos Espíritos enganadores, provocam, quase sempre, circunstâncias que revelam suas manias e afastam as pessoas sérias e bem intencionadas, de cuja boa fé poderia ser abusada.” Os médiuns levianos e pouco sérios atraem magneticamente os Espíritos da mesma natureza e por isso, suas comunicações são marcadas por banalidades, frivolidades, ideias sem sequência. Certamente eles podem dizer e dizem algumas vezes coisas boas, mas é nesse caso, sobretudo, que é preciso fazer um exame sério e escrupuloso, porque no meio dessas boas coisas, certos espíritos hipócritas insinuam com habilidade e com uma deslealdade calculada, fatos controvertidos, asserções mentirosas, a fim de enganar a boa fé dos seus ouvintes. Estes são os Espíritos enganadores, orgulhosos e pseudossábios que passaram da Terra para a erraticidade e se disfarçam com nomes veneráveis, para procurar, através da máscara que usam, tornar aceitáveis as suas ideias, frequentemente as mais bizarras e absurdas.
Assim, poderemos entender que a mistificação experimentada por um médium traz sempre uma finalidade útil, que é a de afastá-lo do amor próprio, da preguiça no estudo de suas necessidades próprias, da vaidade pessoal ou dos excessos de confiança em si mesmo. Os fatos de mistificação não ocorrem à revelia dos seus mentores mais elevados que, somente assim, o conduzem à vigilância precisa e às realizações da humildade e da prudência no seu mundo subjetivo.
Quando um médium resolve transformar suas faculdades em fonte de renda material, será melhor esquecer suas possibilidades psíquicas e não se aventurar pelo terreno dos estudos espirituais. É necessário procurarmos entender que a remuneração financeira, no trato das questões profundas da alma, estabelece um comércio criminoso do qual o médium deverá esperar, no futuro, os resgates mais dolorosos pois, a mediunidade não é ofício do mundo e, os Espíritos esclarecidos na verdade e no bem conhecem mais que os seus irmãos da carne as necessidades dos seus intermediários.
É preciso perceber que o médium sincero, antes de cogitar da doutrinação dos Espíritos ou de seus companheiros de luta na Terra, precisa iluminar-se pelo conhecimento, pelo cumprimento dos deveres mais elevados e, pelo seu esforço na assimilação perfeita dos princípios doutrinários, jamais se descuidando da vigilância, buscando aproveitar as possibilidades que Jesus concedeu-lhe na edificação do trabalho estável e útil. O estudo da Doutrina e, sobretudo, o cultivo da autoevangelização devem ser ininterruptos, fugindo da exploração material ou sentimental, compreendendo, em todas as ocasiões, que o mais necessitado de misericórdia somos nós mesmos, uma vez que o primeiro inimigo do médium reside dentro de si mesmo. Frequentemente é o personalismo, a ambição, a ignorância ou rebeldia no voluntário desconhecimento dos deveres à luz do Evangelho, os fatores de inferioridade moral que, não raro, conduzem o médium à invigilância e a leviandade.
As portas do tesouro psíquico devem ser vigiadas com segurança, pois, este tesouro representa o ápice do esforço de transformação para o bem, como afirma Jesus que, o Reino de Deus não vem com aparência exterior, pois a realização divina começa no íntimo de cada um, constituindo gloriosa luz do templo interno.
Muitas vezes, defrontamo-nos com irmãos nossos, com boa margem de serviços à causa, admirados de que entidades amigas não lhes atendem, como esperavam, a curiosidade, seja no campo pessoal ou na explanação de tema doutrinário. Estranham que os benfeitores não lhes ministrem, como desejam a verdade salvadora. Não ignoramos que adiar o conhecimento da verdade e de certos fatos não constitui mentira ou omissão, seja dos Espíritos ou dos encarnados esclarecidos, mas revela, segundo as motivações, ótimo discernimento. A hora exata e o momento oportuno para que se transmita esta ou aquela orientação no campo pessoal ou de assuntos doutrinários, constitui sinal de compreensão evangélica e maturidade espiritual. Lembremos que, muitas perguntas feitas por Allan Kardec aos Espíritos elevados, embora ajuizadas e sérias, ficaram sem respostas em O Livro dos Espíritos, isto porque o tempo ainda não permitia a focalização de certos assuntos que só mais tarde seriam desenvolvidos com proveito.
Todo conhecimento da verdade da parte dos Espíritos e dos esclarecedores cuidadosos, é feito no sentido de que compreendamos a missão do Espiritismo: educar-nos no amor e na moral, preparando-nos, assim, para gloriosa destinação nos mundos de luz. É por isso que, desapontando curiosos e supostos sábios, os bons Espíritos não explicam tudo ao homem.
Fica claro, portanto, que o desinteresse é a mais absoluta e a melhor garantia contra o charlatanismo. Se não assegura sempre a boa qualidade das comunicações inteligentes, retira, pelo menos, aos maus, um poderosos meio de ação, e fecha a boca de certos detratores. A mediunidade uma faculdade dada para o bem, os bons Espíritos se afastam de quem quer que seja, que não responda aos objetivos da Providência. As portas da sabedoria e do amor permanecem constantemente abertas e os tesouros da ciência, as alegrias da compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da sublimação interior são acessíveis a todos. No entanto, do rio de graças da vida, cada alma somente retira a porção de riquezas que possa perceber e utilizar proveitosamente.
Recordando que Deus a ninguém dá seus dons por medida, cada alma traz consigo, portanto, a medida que instalou no próprio íntimo para a recepção dos dons de Deus. Assim, cuidemos para que os ensinamentos do nosso divino Mestre cresçam em nossos corações e nos ajudem na perfectibilidade espiritual possível, discernindo entre os bons e os maus Espíritos, aos quais poderemos aplicar o ensinamento deixado por Jesus: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do mau tesouro tira o mal.” (Lucas, 6:15-20)
Bibliografia:
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns - 85ª edição – Editora IDE – Araras/SP/ - capítulo 20, questão 230 e capítulo 28, questão 306 - 2008.
XAVIER, C. Francisco - O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel – 29ª edição - Editora FEB – Brasília/DF/ - Perguntas: 399, 401, 402, 409 e 410 - 2013.
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos – 182ª edição – Editora IDE – Araras/SP – livro segundo: Espíritos pseudossábios – 2009.
XAVIER, C. Francisco – Seara dos Médiuns – ditado pelo espírito Emmanuel – 20ª edição – Brasília/DF/ Editora FEB – Brasília/DF/ – lição 49 – 2015.
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