Médium inesquecível
Estudando mediunidade e ambiente, recordemos um dos médiuns inesquecíveis dos dias apostólicos: Paulo de Tarso.
Em torno dele, tudo era contra a luz do Evangelho. A sombra do fanatismo e da crueldade não se instalara apenas no Sinédrio, onde se lhe situava a corte dos mentores e amigos, mas também nele próprio, transformando-o em perigoso instrumento da perseguição e da morte.
Feria, humilhava e injuriava a todos os que não pensassem pelos princípios que lhe norteavam a ação. Mas, desabrocha-lhe a mediunidade inesperadamente. Vê Jesus redivivo e escuta-lhe a voz.
Aterrado, reconhece os enganos em que vivera. Entretanto, não perde tempo em lamentações inúteis. Não sucumbe desesperado. Não se confia à volúpia da autocondenação. Não foge à luta pela renovação íntima.
Percebe que não pode recolher, de pronto, a simpatia da família espiritual de Jesus, mas não se sente fracassado por isso.
Observa a extensão dos próprios erros, mas não se entrega ao remorso vazio. Empreende, com sacrifício, a viagem da própria renovação.
Para tanto, não reclama a cooperação alheia, mas dispõe-se, ele mesmo, a colaborar com os outros.
Encontra imensas dificuldades para a iluminação da alma; no entanto, não esmorece na luta.
Segundo a palavra fiel do Novo Testamento, é açoitado e preso, várias vezes, pelo amor com que ensinava a verdade, mas, em contraposição, na Licaônia e na Macedônia, foi tido como sendo “Mercúrio” encarnado e “Servo do Pai Altíssimo”.
Não se sente, todavia, esmagado pela flagelação ou confundido pelo êxito.
Tolera assaltos e elogios como o pagador correto, interessado no resgate das próprias contas.
Diz ainda a Boa-Nova que “Deus operava maravilhas pelas mãos dele”; entretanto, ele próprio declara trazer consigo “um espinho na carne”, que o obriga a viver em provação permanente.
E enquanto o corpo lhe permite, dá testemunho da realidade espiritual, combatendo ignorância e superstição, maldade e orgulho, tentação e vaidade.
Nem ouro fácil. Nem privilégios. Nem cidadela social. Nem apoio político.
Ele e o tear que o ajudava a sustentar-se ficaram, através dos séculos, como símbolo perfeito de influência pessoal e meio adverso, ensinando-nos a todos, principalmente a nós outros, encarnados e desencarnados de todos os tempos, que podemos pedir orientação, falar em orientação, examinar os sistemas de orientação, mas que, acima de tudo, precisamos ser a própria orientação em nós mesmos.
Do livro Seara dos Médiuns, cap. 32, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Foto: Paulo de Tarso escrevendo suas epístolas (1618-1620) | Pintura atribuída à Valentin de Boulogne (1591-1632).
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