José Smith de Vasconcellos

Segundo registram os anais da História do Espiritismo no Brasil, os primeiros livros sobre temática espiritista em nosso idioma apareceram no Rio de Janeiro, nos idos de 1860, mercê do esforço do imigrante francês Casimir Lieutaud, autor da obra: “Os tempos são chegados” e  do livro de Kardec “O Espiritismo na sua expressão mais simples”, traduzido pelo professor Alexandre Canu. Oficialmente, porém, o Espiritismo na Pátria do Cruzeiro principiou, em 1865, graças ao labor heroico do jornalista Luís Olímpio Teles de Menezes que, na Bahia, organizou, nos moldes preconizados por Allan Kardec, o Grupo Espírita Familiar, a nossa primeira sociedade espírita.

Leopoldo Cirne, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira, disse certa vez que a terra onde nasceu Bezerra de Menezes foi onde teria surgido a primeira organização espírita do Brasil. Com essa afirmação, Leopoldo Cirne referia-se, provavelmente, às experiências com mesas girantes ocorridas em Fortaleza, no ano de 1853, na residência do comerciante José Smith de Vasconcellos.

De fato, o jornal bissemanário “O Cearense”, fundado em 1846 em Fortaleza, publicou no seu número de 15 de julho de 1853 uma nota alusiva ao fenômeno das mesas girantes em ocorrência na França. No seu número de 26 de julho, do mesmo ano, o jornal, sob o título “Mesas dançantes”, escreveu: “Não é só na Alemanha, França, Pernambuco, etc., que se fazem experiências elétrico-magnéticas das tais mesas dançantes. – O Sr. José Smith de Vasconcellos fez, no domingo, uma experiência em sua casa, na presença de muitas pessoas, com uma mesa redonda, que depois de alguns minutos rodou pelo meio da sala, até que os experimentadores romperam a cadeia!! Neste momento presenciamos várias experiências desta”.

Noticiando novamente o insólito fenômeno, “O Cearense” de 2 de agosto de 1853 descreveu outras reuniões similares na residência de José Smith de Vasconcellos, na qual se fizeram presentes figuras conspícuas da sociedade local, destacando-se, além da esposa de José Smith, os senhores Antônio Paes da Cunha Mamede (um dos primeiros homeopatas do Ceará), Antônio Eugênio da Fonseca, Antônio Joaquim Barros, Manoel Caetano Spínola (professor do Liceu do Ceará), o vigário Alencar e o Dr. Castro e Silva, entre outros.

José Smith de Vasconcellos nasceu em Lisboa, Portugal, em 10 de dezembro de 1817, sendo seus pais o conselheiro José Inácio Paes Pinto de Souza e Vasconcellos e Mary Martha Tustin Smith, natural de Worcester, Inglaterra.

Ele veio para Fortaleza, Ceará, no dia 13 de novembro de 1831, para se dedicar à carreira comercial, provavelmente em consequência das convulsões políticas de Portugal, nas quais seus irmãos militaram. Com a alcunha de José Barateiro destacou-se no comércio local com uma grande casa “de luxo e distinção”, que se destinava, também, ao comércio direto com o exterior, principalmente com Inglaterra, Hamburgo e Estados Unidos, onde mantinha valiosas relações.

Em 15 de setembro de 1837, casou-se na Matriz de Nossa Senhora da Assunção e São José de Ribamar, em Fortaleza, com Francisca Carolina Mendes da Cruz Guimarães, natural de Canindé, Ceará. Dessa união nasceram os filhos Rodolpho, Leopoldo e Alfredo.

Homem de grande coração, foi um dos fundadores e provedor da nossa Santa Casa de Misericórdia. Abolicionista, propiciou a liberdade de muitos de seus escravos, 20 anos antes da promulgação da Lei Áurea, tendo, entretanto, a preocupação e sensibilidade para com os escravos alforriados, conforme podemos constatar em trecho de uma correspondência sua de Liverpool, datada de 22 de junho de 1868, endereçada ao Senador Tomás Pompeu, em Fortaleza: “(...) Tenho dado a liberdade a 3 escravos, e no vapor passado mandei libertar mais um; e não faço o mesmo com o resto, uns por serem velhos a quem a liberdade seria uma calamidade, e outros por demasiadamente moços – entretanto como não sou político, não só isto como o mais que fiz, nunca mereceu a menor atenção do Governo Imperial (...)”.

Exerceu no Ceará os cargos de vice-cônsul da Suécia e Noruega e da Cidade Livre de Hamburgo e o de Agente Consular da República dos Estados Unidos da América do Norte. Recebeu os títulos de Comendador da Imperial Ordem de Cristo de Portugal (1870), Fidalgo Cavaleiro da Casa Real Portuguesa (1874), Comendador da Imperial Ordem de Cristo do Brasil e da Imperial Ordem da Rosa do Brasil (1883). Em 1869, foi agraciado pelo rei Luiz I, de Portugal, com o título de 1.º Barão de Vasconcellos.

Posteriormente transferiu-se para a Inglaterra, onde administrou uma casa de exportação em Liverpool, com sucursal em Fortaleza. Fracassando seu comércio, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde serviu em alguns bancos.

Apesar da vida abastada que levou, o precursor de Kardec no Ceará levou seus últimos dias empobrecido e doente sobre um leito. Desencarnou no dia 8 de outubro de 1903, no Rio de Janeiro, aos 85 anos.



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