A certeza da imortalidade - Maria de Lurdes Duarte

“Nunca ninguém voltou da morte para nos contar como é.” Esta a frase que ouvimos repetidamente, quando o tema “vida para além da morte” é assunto de conversa.

A alma humana tem necessidade de saber, de crer, mas crer através de uma compreensão maior, que, não mais como antigamente, se cinja a uma fé cega e dogmática, mas firmada na razão, no discernimento.

A humanidade cresceu, amadureceu, desenvolveu-se, através das sucessivas idas e vindas entre o plano espiritual e o terreno. Pelas reencarnações, através dos milénios, ascendida a inteligência a patamares que nos situam num campo do estudo, da pesquisa, da experimentação, tornámo-nos mais exigentes, não nos contentamos com explicações pueris e infantilizadas que nos serviam em épocas de maior obscurantismo. Quadros lendários e imaginosos que nos eram “impingidos” em outras eras, e que acatávamos de boamente, por sermos ainda almas infantis e necessitadas de imagens fortemente materiais, já não nos seduzem. O inferno das penas eternas, o céu da contemplação do esplendor divino (por muito esplendoroso que possa ser), a ressurreição da carne (por muito milagrosa que se apresente), a criação do mundo em três dias, o Deus parcial, pai implacável vingativo e exigente, as orações pré-feitas e pagas para alcançar dádivas, e tantos outros exemplos que aqui poderiam surgir, se fosse esse o nosso intento, vão, cada vez mais, parecendo, às gerações atuais, simples contos de entreter crianças ingénuas.

            Entretanto, o que nos resta, abaladas todas essas crenças ingénuas e sem sentido? Onde buscar a Fé esclarecida? Em que acreditar? A mente humana, esclarecida intelectualmente, cada vez mais habituada a pensar por si mesma, crente na ciência que de tudo busca o comprovativo, sente-se perdida quando se trata de questões de espiritualidade. Mas, cada vez mais, encontramos quem se debruce sobre estas questões e procure nelas refletir, buscando, além da matéria, soluções para as questões fundamentais da vida: Quem somos? O que somos? De onde viemos? Porque estamos aqui? Para onde vamos? Porque sofremos? Qual o verdadeiro sentido da vida? Há, realmente, um sentido para a vida? Seremos apenas obra de um acaso? O resultado de combinações químicas fortuitas? Qual o nosso papel em tudo o que nos acontece? Há um autor do Universo? Quem é Ele? Porque nos criou? O que nos acontecerá para além da morte? Como será a outra vida? Há outra vida?

            São tantas e tão variadas as questões com que nos deparamos, quando procuramos um sentido para a existência! A ânsia da busca das verdades fundamentais é comum à maioria de nós. Daí a proliferação das mais variadas religiões e cultos em todos os tempos e civilizações, desde os tempos remotos da pré-história até aos dias de hoje. São resultado dessa procura de ligação com uma sabedoria maior que a humanidade sempre pressentiu estar por trás do Universo.

            Diz Léon Denis, no seu livro Cristianismo e Espiritismo, que “o homem tem tanta necessidade de uma crença como de uma pátria, como de um lar”. Infelizmente, as religiões tradicionais, a quem cabia a tarefa de fazer crescer a humanidade para a ligação com Deus, prenderam-se aos interesses puramente materiais e levaram-na à submissão a dogmas e rituais exteriores que a mantiveram na ilusão e no engano. Crentes que, pelo seguimento dos ritos impostos pelas religiões, estaríamos nas boas graças de Deus, despreocupámo-nos de seguir a sua Lei, acarretando sofrimentos que poderiam ser evitados.

Mas tudo fez parte do crescimento espiritual. Jesus deixou-nos ensinamentos inestimáveis, que quando seguidos em toda a sua plenitude, nos farão estar sempre em sintonia com a Lei do Pai. Disse-nos Ele que vinha trazer a Verdade e a Verdade nos libertaria. Se antes não estávamos preparados para entender a Verdade em todo o seu esplendor (e o Mestre bem o sabia), o estádio evolutivo atual da Terra, cada vez nos vai dando mais competências para avançarmos também nesse entendimento maior que urge alcançar. Estamos atravessando tempos extremos, em que a nossa Fé e a vontade de seguir em frente para patamares mais elevados está sendo posta à prova. São tempos dolorosos, decisivos, em que o socorro de uma Fé raciocinada, esclarecida, capaz de nos fortalecer, fará a diferença entre o estacionar num caminho do desespero e da dor e o seguir confiante na proteção de um Deus que nos ama e quer a nossa felicidade. Essa confiança, será a certeza que nos fará avançar na luta contra as nossas imperfeições, levando-nos à espiritualização das nossas ambições mais profundas e centrando os interesses que nos movem na busca dos verdadeiros bens que nada têm da materialidade a que continuamos agarrados.

Mas, porque são esses bens os que realmente nos interessa conquistar? Porque lhes devemos dar a primazia? Se esta fosse a única vida que nos é dado viver, se nada mais para além dela existisse, isso seria, efetivamente, quase irrelevante. Se, com a morte do corpo, atingíssemos o fim, se o resultado fosse o nada, ou a simples degradação física, o que seria o mesmo, para nada interessaria o que tivéssemos conquistado ao longo dos anos, fossem essas conquistas puramente materiais ou de cariz moral ou intelectual. Mas, se, após esta estadia terrena, tivermos de enfrentar a continuação da vida, num outro estádio ou dimensão, os valores que levaremos para esse “outro mundo”, essa “outra vida”, serão certamente os valores espirituais.

É aqui que esbarramos, comumente, com a dúvida de tantos: Haverá mesmo uma outra vida? Nunca ninguém veio da morte para contar!

É neste ponto que apetece refletir: Como seria tão bom, se todos, mas mesmo TODOS, acreditassem, soubessem, tivessem a certeza de que aquilo que tantas vezes afirmam não corresponde à verdade! Não é verdade que nunca ninguém veio da morte para contar como é. É aqui que a Doutrina Espírita, como mais nenhuma outra, traz a certeza da vida imortal e da inter-relação contínua entre os espíritos estejam eles encarnados na Terra ou em outra dimensão. É tão vasta e tão profunda a Doutrina dos Espíritos, que, se conhecida e bem entendida por TODOS, seria, só por si, a grande alavanca para toda a espécie de mudanças de que a humanidade terrena necessita para se elevar a patamares mais sublimados.

Se temos a “sorte” de conhecer esta Doutrina e de procurar seguir os ensinamentos e verdades que o Mestre Jesus nos deixou e que o Espiritismo Consolador veio repor, Doutrina essa trazida, pelos Espíritos, precisamente esses que “morreram” e se julgava que jamais poderiam regressar e, afinal, nos vêm contar as suas experiências pós morte física, então, como pediu Jesus, “não escondamos a luz debaixo do alqueire”. Sejamos terra fértil para a germinação das novas ideias que farão um novo mundo melhor para todos nós, deixemos que a sementinha da Verdade germine e cresça em nosso redor e se transforme em alívio, consolação, esclarecimento, luz que ilumina os corações daqueles que a Divina Bondade colocou no nosso caminho.



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