A casa espírita e as doenças - Rogério Miguez
A Terra pode ser vista como uma grande casa de saúde, pois para cá, em sua grande maioria, são encaminhados Espíritos ainda doentes. Jesus - seu Governador -, pode ser visto também como o Diretor de grande complexo hospitalar. Por esta razão, há tantas doenças físicas grassando em nosso cotidiano, considerando que os seus habitantes são doentes e comunicam estas desarmonias aos seus corpos perecíveis, quando de sua formação e durante o período da existência corpórea, seja pela mente adoecida ou pelo perispírito danificado.
No capítulo das enfermidades, praticamente todos têm um caso a relatar consigo mesmo ou com conhecidos, e mais, basta começar a falar de doenças que logo se adicionam outros depoimentos. É a realidade de um mundo ainda destinado a criaturas em variadas provações e contundentes expiações.
Não se enviam para um hospital os que se acham saudáveis, sendo assim, ainda estamos obrigados a conviver com incontáveis manifestações de desarmonia em nossos corpos materiais, umas mais graves, outras nem tanto.
Quanto mais gente encarnada, mais hospitais são construídos, em uma espiral aparentemente sem fim, visto que não existe por parte da Ciência do mundo, de modo geral, a sabedoria para atuar na fonte do problema, na sua raiz: o imortal Espírito ainda doente.
As práticas médicas visam, tradicionalmente, a sanar os sintomas, as consequências das moléstias, e, enquanto não admitem que o reencarnante já traz em sua mente matrizes de doenças espirituais e, no perispírito, matrizes de doenças físicas, ou seja, em ambos os casos, as fontes dessas muitas mazelas, em vão se tentará debelá-las e a luta será inglória, pois o berço do problema não está no desalinho da matéria em si, muito menos apenas na genética, mas sim na entidade reencarnante, no binômio alma-perispírito.
Entendendo perfeitamente esta dinâmica, a Doutrina Espírita propôs no recuado século XIX uma nova abordagem no campo das doenças, uma verdadeira revolução na forma de tratar a questão, pois ensina que é preciso sanar o mal na sua matriz e, para tanto, envida todos os esforços em sugerir aos doentes mudanças em suas condutas e pensamentos, caso contrário, não vencerão a luta para dominar as suas patologias.
Entretanto, alguns desavisados seguidores do Espiritismo em atividades dentro das agremiações espíritas, embora sinceros na tentativa de ajudar os muitos doentes batendo às portas dos Centros, confundem a proposta espírita e organizam verdadeiras UPAs dentro do ambiente espírita, seguramente uma prática estranha.
Organizam atendimentos por meio de médiuns que, eventualmente, mantêm contato mediúnico com médicos do espaço, e se propõem assim a curar todas as moléstias do mundo, não importa qual seja, tanto as de ordem espiritual – função da casa espírita -, quanto as de ordem física – função das ciências médicas.
Essa prática não se faz totalmente equivocada, caso a direção do trabalho mantenha rigoroso controle sobre os ditos pacientes, iniciando tratamentos espirituais apenas com os que comprovadamente frequentem as reuniões públicas ou de estudos, simultaneamente aos assim chamados atendimentos médicos. Contudo, na dúvida, é melhor não manter esse tipo de atividade.
Além disso, nenhum enfermo deveria ser aceito caso não tenha antes recorrido aos médicos encarnados, com o objetivo de primeiro tratar com os profissionais de cada área, e, não obtendo sucesso na melhora da condição física, somente nestes casos, deveria recorrer ao tratamento espiritual oferecido por uma casa espírita, e jamais os promotores dessas atividades devem prometer curas, sejam de que ordem for.
Entretanto, geralmente, não é o que se observa.
Na ânsia de atender a todos e, simultaneamente, aumentar a frequência ao centro, alguns afrouxam os requisitos, permitindo a qualquer um que se apresente relatando uma indisposição qualquer adentrar o serviço médico e iniciar um tratamento sem qualquer critério objetivo: uma verdadeira temeridade!
Assim agindo, esses equivocados espíritas distorcem o objetivo da Doutrina, incutindo na mente dos incautos que poderão obter curas milagrosas por meio das práticas espíritas, incentivando os doentes a se manter doentes, pois não se atinge a plena saúde mental e física sem mudanças - algumas radicais - na forma de se pensar e viver.
Ademais, criam nas mentes dos doentes entendimentos infantis, totalmente distantes da realidade, de que Deus, ou mesmo Jesus, estão à disposição de todos para curá-los, indiscriminadamente, sem qualquer fundamento, em detrimento de outros, que não são espíritas.
E mais, ao trazer sistematicamente doentes ao centro sem tratá-los como orienta a Doutrina, perturbam o ambiente espiritual da instituição, uma vez que o Espírito doente divide os seus fluidos enfermiços com os desavisados trabalhadores da atividade. Estes, muitas vezes, não possuem a noção adequada do perigo que estão correndo interagindo com desconhecidos que poderão estar doentes por conta de cruéis obsessores e que não serão convenientemente esclarecidos sobre esta ligação doentia em um atendimento de breves minutos.
Há outra vertente mais inadequada ainda que é a das curas por intermédio de supostas cirurgias: um verdadeiro descalabro.
É compreensível a busca e a oferta de milagres na área da saúde. No entanto, a atitude correta é sempre a da cura interior, da instalação da saúde espiritual, que sempre proporciona paz e alegria, mesmo quando sob a injunção do sofrimento.1
O ideal é que a casa mantenha apenas reuniões públicas e de estudos, para todas as faixas de idade, além das atividades mediúnicas, incentivando aqueles que a procuram a buscar solução de suas mazelas usando a justa compreensão das leis de Deus, jamais sugerindo que os espíritas possuem poderes mágicos e médicos para adentrar e solucionar graves questões que às vezes se formaram ao longo de séculos.
Não é objetivo da Doutrina curar corpos físicos, ou seja, sintomas, mas sim corpos espirituais – Espíritos -, de modo que, curando o dono do corpo - Espírito -, este não o adoeça mais uma vez, por conta de seus pensamentos em desalinho e condutas descuidadas com o próximo e consigo mesmo.
[...] a saúde integral é preservada, quando os indivíduos mantêm condutas saudáveis, tanto do ponto de vista físico como emocional, cultivando pensamentos elevados que proporcionam clima de alegria e de paz.2
Espiritismo é filosofia de bom senso, e manter verdadeiras UPAs espíritas ao alcance de todos não é uma atitude de equilíbrio.
Referências:
Manoel Philomeno de Miranda - Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 26 de fevereiro de 2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Publicada em abril de 2016 pelo periódico Mundo Espírita.
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