Três séculos de informações sobre a realidade do mundo espiritual - Ricardo B. de Oliveira

Tudo parece indicar que as almas que presidem o movimento ascensional da humanidade bem sabem o que fazem, quando modulam as informações de natureza espiritual que chegam até nós. As informações nascem uma a uma, segundo os tempos, os lugares e os indivíduos.

No entanto, quanto aos dados relativos à realidade da dimensão espiritual, essas informações têm sofrido uma curiosa variação: ora maiores, ora menores.

Neste artigo procuramos apresentar um breve histórico das revelações referentes ao mundo extrafísico recebidas nos últimos três séculos.

Embora filósofos espiritualistas e médiuns de recantos diferentes do planeta, tenham, eventualmente, se referido a questões mais concretas sobre a realidade do mundo espiritual, parece ter disso em meados do século XVIII que essas questões assumiram um caráter mais sistematizado.

Devemos a Emanuel Von Swedenborg (1688- 1772), cientista, filósofo e médium sueco as primeiras notáveis revelações a esse respeito. Entre 1740 a 1760, em vários livros, notadamente em O Céu e Inferno, A nova Jerusalém e Arcanos Celestiais, o sensitivo se reportou a casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, plantas, árvores e flores em quantidades jamais vistas na dimensão terrena, obras de arte, artesanatos e objetos não muito diferentes daqueles que os Espíritos estavam habituados a ver durante sua vida terrena.

Swedenborg usa os termos céu e inferno, dando a eles uma conotação diferente. Céu seriam as regiões espirituais ocupadas por almas devotadas ao bem, e inferno as regiões onde se estabelecem as almas culpadas. Mas, esclarece que não só ninguém é mandado para o inferno, como ninguém permanece nele contra sua vontade. Tudo é uma questão de afinidade espiritual.

Lembra que tanto o céu quanto o inferno são governados pelos mais rigorosos princípios da ordem Divina. O governo do céu é o resultado natural do espírito de ordem que reina em todos; no inferno há, necessariamente, coerção e prudência, embora haja liberdade, desde que dela não se abuse. Na doutrina de Swedenborg, o céu está subdividido em várias regiões, e em cada um desses céus há estratos sociais organizados segundo as características específicas de seus habitantes. Essa mesma divisão também existe nos infernos. Nas sociedades celestiais há subordinação hierárquica; nelas há governantes, líderes e instrutores; mas não há nenhuma semelhança com a ambição de posição e poder que caracteriza os governos terrenos.

Mostra, também, que a vida no céu não é uma sequência monótona de práticas religiosas, mas um cenário de intensa atividade. Como o serviço útil é a base da felicidade, são essenciais as ocupações celestiais. Lá, todas as faculdades mentais encontrarão sua função e a ociosidade não é permitida. Se refere a “alimentação”, garantindo que mesmo os indolentes serão compelidos ao trabalho e só receberão alimento se prestarem algum tipo de serviço.

Nesse mundo espiritual, informa o sensitivo, existem sociedades cujas funções são, por exemplo, cuidar das crianças; outras, cujas funções consistem em dar-lhes a instrução e a educação, quando elas crescem. Comenta que até seus jogos e divertimentos servem de instrumentos de instrução. Há museus, ginásios e faculdades, bibliotecas e lugares onde se realizavam jogos literários.

Há uma interessante descrição de um local de instrução de meninas. Elas são reunidas, em grupos de três, quatro ou cinco. Cada uma tem seu próprio quarto e sua própria cama. Num aposento contíguo, há um pequeno vestiário, onde elas guardam suas roupas e seus pertences mais valiosos. Elas estão sempre ocupadas com sua tarefa primordial, os bordados. As peças que produzem são para o próprio uso ou para presentear as outras. Elas recebem sua roupa de uso diário gratuitamente, e a roupa mais fina é reservada para as festividades. Elas também recebem moedas de prata e ouro e as guardam cuidadosamente, pois elas representam diligência e virtude. Elas têm a Palavra Escrita e o livro dos Salmos e os levam quando vão ouvir o pastor. E quando duas pessoas foram casadas neste mundo, essa união subsistirá na outra vida. E as pessoas que não chegaram a casar-se neste mundo, encontrarão seus consortes na outra vida, desde que verdadeiramente os desejem.

Swedenborg nos diz que as crianças não permanecem crianças no outro mundo, mas são alimentadas e assistidas até atingirem idade adulta, quando se casam com suas almas afins, com as quais eles se tornam espiritualmente um. O mesmo acontece com aqueles que permaneceram celibatários na vida terrena; no devido tempo, eles encontram seus pares e se unem a eles.

Depois de Swedenborg, quase nada de tão importante seria revelado até o início do século XX.

Encontramos uma tímida referência a “bosques encantadores” na correspondência do Espírito de Lavater com a imperatriz da Rússia em 1798, conforme se lê na Revista espírita de maio de 1868.

Andrew Jackson Davis (1826-1910) famoso médium norte-americano, um pouco antes de Kardec começar a publicar seus livros, relatou experiências de desdobramento espiritual, onde visitou regiões do astral e viu grupos de crianças que se encontravam reunidas em belos edifícios, rodeadas de atenções e carinho, recebendo instruções, em conformidade com o seu entendimento.

A pobreza de dados concretos a respeito da dimensão extrafísica caracteriza a obra de Allan Kardec. Não sabemos se essa economia notável de dados decorreu do pensamento do próprio codificador, ou, se os Espíritos que o assessoravam impediram que tais informações viessem à tona. Até mesmo a noção de colônias espirituais é refutada por Kardec, conforme se vê no comentário ao item 1017 de O livro dos espíritos.

Da codificação sabemos apenas que o mundo espiritual é o mais importante na ordem das coisas, que precede e independe do físico e que as duas dimensões interagem permanentemente. Sabemos também, que os Espíritos estão por toda parte e habitam o espaço infinito.

Somente depois de 50 anos da desencarnação de Kardec, revelações sobre a vida extrafísica iriam se concretizar novamente.

A obra Raymond, de1916, de Oliver Lodge traria algumas informações. Lodge, físico inglês de renome, foi um dos pioneiros da telegrafia sem fio e do rádio. Educado na Adams' Grammar School, Oliver Lodge obteve o grau de bacharel em Ciências pela Universidade de Londres em 1875.

Foi designado professor e Física e Matemática do University College, em Liverpool, em 1881, vindo a receber o grau de Doutor em Ciências em 1887.

Tornou-se o primeiro reitor da nova Universidade de Birmingham, lá permanecendo até à sua aposentadoria em 1919.

O cientista também foi um grande defensor da existência da vida após a morte e é lembrado pelos seus estudos sobre o tema. Iniciou-os estudando fenômenos físicos no final da década de 1880. Entre 1901 e 1903, serviu como presidente da Society for Psychical Research, importante organização de pesquisa parapsicológica. Após a morte de seu filho, Raymond, em 1915, na Primeira Guerra Mundial, Oliver Lodge visitou vários médiuns, tendo recebido várias mensagens do filho, que foram publicadas na obra "Raymond, or Life and Death" (1916), que se tornou um best-seller à época.

Nessa obra há referências, dentre outras coisas, a casas construídas de tijolos, árvores, lama que suja a roupa e alimentos para os Espíritos que tem fome.

Nove anos depois, na América do Norte, outra obra de sucesso, faria, igualmente revelações sobre a vida na dimensão espiritual. Trata-se do livro A vida além do véu, de 1925, publicada pelo reverendo George Vale Owen, sacerdote anglicano, que se destacou como médium na década de 1920. O livro reúne mensagens da mãezinha desencarnada do pastor e faz referência a jardins, prédios e florestas.

E, finalmente, a partir de 1943, Chico Xavier passa a receber os reveladores livros da individualidade desencarnada que se denominou André Luiz. A obra desse autor, denominada Coleção Nosso lar, traz um impressionante volume de informações sobre a vida no além, quase todas em absoluta consonância com o pensamento de Swedenborg, apresentado duzentos anos antes.

Depois de André Luiz, autores desencarnados, através de diferentes médiuns, vêm ratificando e desenvolvendo quase todas as informações previamente fornecidas. Certamente, muitos dados nos são, ainda, ocultos, mas as informações reveladas permitem-nos a certeza de que a vida prossegue estuante e inestancável e que nossa posição do mundo extrafísico se dará em equivalência com a nossa posição no mundo corpóreo, pois somos sempre nós mesmos, aqui ou no além.

OBS.:  Para mais informações sobre o tema sugerimos o livro As colônias espirituais e a codificação, de Paulo Neto.



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