Porto Carreiro Neto

Luís da Costa Porto Carreiro Neto – mais conhecido como Porto Carreiro Neto – nasceu no Recife, Pernambuco, em 7 de janeiro de 1895. Foi criado por uma tia e madrinha, pois que sua genitora faleceu, deixando-o em tenra infância. Era filho do professor Carlos Porto Carreiro, grande filósofo, linguista e poeta, a quem devemos excelente gramática portuguesa e obras de arte imortais, como a sua tradução da obra-prima de Edmond Rostand, CYRANO DE BERGERAC, tradução em lindos versos, reputados pela crítica como mais belos que os originais. Carlos Porto Carreiro era proprietário e diretor de um ginásio em sua cidade natal, Recife. Luís começou a lecionar no colégio do pai aos catorze anos de idade. Mais tarde a família se transferiu para o Rio de Janeiro, onde Luís fez com brilhantismo diversos cursos na Escola Nacional de Engenharia, a saber: de engenheiro civil, de engenheiro mecânico e eletricista, de engenheiro industrial, tornando-se, a partir de 1925, livre docente, por concurso, da cadeira de Química Industrial da mesma Escola.

Casou-se em 7 de janeiro de 1920, data em que completava 25 anos, enviuvando a 13 de junho de 1958, sem ter deixado descendentes. Concorreu à vaga para professor catedrático de Química Inorgânica e Análise Qualitativa, na Escola Nacional de Química, sendo nomeado em 1933, e ficando em disponibilidade na cadeira que até então ocupava na Escola Nacional de Engenharia. Posteriormente, foi empossado nas funções de Diretor da Escola Nacional de Química, dando mostras de grande atividade administrativa e elevado senso de responsabilidade.

Como professor e examinador, seja nos cursos universitários, seja nos cursos elementares ou superiores de Esperanto, era sempre muito rigoroso para com os alunos, exigindo o máximo de aproveitamento, como era rigoroso para consigo mesmo. Como esperantista dos mais cultos do mundo, foi durante decênios membro da língua Kimitato e depois da Akademio de Esperanto. Secretário geral da Liga Brasileira de Esperanto, vice-presidente do Brazila Klubo Esperanto, vice-chefe delegado da Universala Esperanto Asocio, seu nome tornou-se internacional, sendo incluído, com uma bibliografia, na conhecida enciclopédia de Esperanto publicada em Budapeste, em 1933-1934.

Poeta, prosador e tradutor, preparou livros realmente magistrais em e sobre Esperanto. Juntamente com os Drs. A. Couto Fernandes e Carlos Domingues, elaborou o Dicionário Português-Esperanto, dado a lume em 1936. Em conjunto com o professor Ismael Gomes Braga, a este ligado por laços idealísticos profundos, refundiu totalmente, ampliando-a bastante, a obra Esperanto sem Mestre, de autoria de Francisco Valdomiro Lorenz, obra que já conta com seis edições impressas pelo Departamento Editorial da FEB. A pureza, a fluência e a correção do seu Esperanto granjearam-lhe justos e merecidos elogios das entidades, dos órgãos de imprensa e dos homens mais representativos do mundo esperantista, comparando-se-lhe muitas vezes o estilo com o de Zamenhof. Colaborou em vários jornais e revistas esperantistas do Brasil e do estrangeiro, quer em prosa, quer em verso, sempre admirado pela sua cultura e saber. É, todavia, no âmbito esperantista que sua existência se imortalizou, cobrindo-se de glórias imorredouras.

Pelo Departamento Editorial da FEB, publicou as seguintes traduções, todas enaltecidas pela crítica daqui e de além-mar: La libro de la SpiritojLa Libro de la mediumoj, em colaboração com I.G.B., Antau du mil jaro...Em Ombro Kaj em LumoNia HejmoAgo Kaj Reago. Deixou traduzida, para ser publicada pela FEB, a grandiosa obra mediúnica Paulo e Estêvão, e estava traduzindo O que é o Espiritismo, de Allan Kardec, quando Átropos lhe cortou o fio da existência terrena. Não chegou ao meio do volume.

Como espírita, foi membro vitalício da FEB e membro do Conselho Federativo Nacional, representando Pernambuco. Médium de incorporação e psicógrafo, recebeu um livro do Espírito de Jaime Braga, com o título Ciência Divina, muitos sonetos em português e poemetos em Esperanto que vários leitores leram em colunas da revista Reformador. Espírito de alto nível moral, de vasta cultura e muita capacidade de trabalho, não se dobrava ao cansaço, nem ao desânimo. Sua missão como esperantista e médium se achava sempre harmoniosamente enquadrada no programa de trabalho da FEB. Foi um trabalhador de Jesus na preparação do Brasil para sua anunciada missão histórica em que todos os livros em Esperanto foram cuidadosamente revistos por ele e entregues à FEB para futuras edições. Às 10 horas da manhã de 21 de julho de 1964, desencarnou repentinamente, vítima de espasmo cerebral,

 Não poucos hão de ter notado que Porto Carreiro Neto foi continuador da obra iniciada pelo médium Francisco Valdomiro Lorenz, pois que prosseguiu em Reformador a seção de versos doutrinários recebidos diretamente em Esperanto, seção essa criada pelos Maiores da Espiritualidade em julho de 1943. Muitas homenagens foram feitas a esse grande divulgador do esperanto. Não dizemos que perdemos um grande trabalhador, porque ele ficará nos livros, ensinando as futuras gerações e, certamente, saberá inspirar sucessores para seus ideais na superfície da Terra.

No dia 23 do mês de julho, dois dias após a sua desencarnação, manifestou-se no Grupo Ismael, pelo médium Giffoni, o espírito de Porto Carreiro Neto, a transmitir mensagem alentadora, da qual extraímos as seguintes exortações: "Estamos de pé, com os olhos voltados para a nossa tarefa. Não a interrompemos, e vocês também não. Eu, por um pouco, dizem-me, estarei ausente, mas retornarei. Enquanto isto, os amigos continuarão a obra, porque não é nossa, é do Cristo, é da Humanidade".

Congratulamo-nos com o bom servidor por haver aproveitado bem sua recente reencarnação e suplicamos do Senhor bênçãos de luz para seu Espírito, que, liberto das sombras da matéria, rapidamente se amoldou à nova situação, vindo-nos afirmar, conforme suas próprias palavras, na comunicação mediúnica acima referida, que tudo continua em laboro construtivo.

Fonte: Anuário Espírita de 1965.



Comentário

0 Comentários