O menino e a galinha Fifi
Devo contar preliminarmente que o menininho desta história mora em um sítio nos arredores da cidade e os pais plantam tomates e pimentões.
No início do ano, os pais do menino ganharam da vizinha, dona Leonor, uma galinha caipira comum. O menino tomou carinho pela galinha. Afinal de contas, uma galinha é uma ave curiosa e simpática. Não é industrial, nem artificial, nem é brinquedo. Gosta de ciscar, não se mete na vida de ninguém e é gentil e inteligente, o menino observou. A Fifi se tornou, então, para o menino, um animal de estimação.
Entretanto o menino era uma criança. A sua vida era orientada pelo fato de depender dos pais, dos seus exemplos e decisões. Pois o essencial, na infância, é ser amado e educado.
Coragem. O menino precisava arriscar um gesto e pedir à mãe, uma exímia cozinheira, que deixasse a galinha viver a sua vida em paz. Claro que na infância é difícil a criança explicar aos adultos algo que nem ela mesmo entende direito e por isso os pais precisam permanecer atentos, disponíveis às necessidades dos filhos, especialmente quando eles são pequenos.
Por que não começar a comer? A mãe remexe a cadeira e diz qualquer coisa: “Que é isto, Gustavo? Por que é que você não quer comer?”
O pai se reveste de atenção e espera.
Com muito esforço o menino se concentrou e falou, vencendo o receio: “Deixem a galinha morrer de velha”.
“Mas é uma galinha” – respondeu o pai (e certamente em nome do rigor dos próprios costumes aprendidos).
“Eu gosto muito da Fifi” – replicou o menino.
Surpreenderam-se com a confissão do filho. E concordaram com a ideia do menino. Todos unidos, a favor da criança – e para um mundo melhor, felizmente.
Sou suspeito de comentar sobre a escrita da Eugênia, mas devo fazê-lo! Ela tem me surpreendido por conseguir escrever, principalmente, para a criança (antiga ou velha ou sobrevivente) que habita em nós. Este é um conto filosófico. Cada palavra, frase tem um significado profundo. Já imagino este e outros contos reunidos em uma coletânea... Uma aposta que faço, um devaneio que estou a ter. Gostaria muito de ser o editor desta obra que se esboça e muito promete. Que Jesus a abençoe, Eugênia!