Mediunidade: e agora, jovem?

Ensino especial dos espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que se podem encontrar na prática do espiritismo constituindo o seguimento de o livro dos espíritos (KARDEC, 1861). É assim que Kardec se refere ao seu segundo livro da codificação, e só com esse breve resumo nota-se o grau de responsabilidade que um médium precisa estar atento, desde o estudo aos tropeços. Intrigante o autor já mencionar essa palavra logo no início do livro. Já notaram isso?

Estudar a mediunidade é também estudar a si mesmo, pois quem tropeça é o médium e não a mediunidade. Assim, o ser médium, traz consigo ainda muitos emaranhados de mistérios a serem estudados, apesar de encontrarmos muitos estudiosos da área, e vários espíritos já com publicações sobre o tema. Imaginar tudo isso para quem já tem um bom tempo à serviço do mediunato, médiuns já adultos, até parece simples, mas observar de um outro ponto de vista, com o olhar de um jovem médium, já se torna bem mais complexo e até assustador.

Esse olhar de muita curiosidade e medo, revela ainda muitas incertezas e inseguranças sobre o mundo e sobre a vida. Juntamente com muitos questionamentos, o que chega a ser semelhante na vivência de alguns adultos. Será que irei perder minha juventude? Será que eu não poderei mais frequentar alguns lugares? Eu terei que me dedicar a mediunidade e mais nada? Terei que só ficar estudando? Eu não quero essa responsabilidade, não posso trocar? Eu não decidi ser médium, posso fazer parar? Pra que ser médium?.

Se repararmos bem, tudo isso está associado ao medo de tropeçar em algo que mal se conhece ainda, ou de se perderem no meio de tantos pesos e obrigações colocadas sobre eles. Ainda, muitas vezes, estão em uma fase da vida, à qual, só querem decidir uma profissão e passar no vestibular, e só isso já parece um “bicho de 7 cabeças”. Imagine percebermos médiuns, agora contamos 14 cabeças. Parece assustador, mas como já foi dito, é sobre um assunto ainda por se conhecer mais.

Pode-se observar a mediunidade por dois ângulos, ou com 7 cabeças prontas pra te devorar, ou como apenas uma faculdade que precisa de educação, e quando falamos nisso só lembramos do nosso querido Emmanuel. Quem mais sabe o que é educação da mediunidade do que Emmanuel que orientou um dos mais famosos médiuns que conhecemos? Pois é, os mentores trabalham muito, e não só ele, claro, temos outros exemplos. Mas, no caso dos jovens que não vieram com uma mediunidade por missão, como a de Chico Xavier, podem estar se perguntando, afinal, o que fazer com a minha? Então jovem, o que dizer? Autoconhecimento, autoconhecimento, autoconhecimento…

Por isso começamos pelo básico. Sempre será indicado o estudo, pois não adianta ser médium e não saber na prática quando é seu mentor ou apenas um espírito querendo “trolar”, ou então, como funciona uma reunião mediúnica, quando pode ou não falar, e a mais temida dúvida de vários médiuns adultos também, saber quando são realmente eles que estão falando ou o espírito. É verdade, essa última pergunta ainda pode ser feita do médium para ele mesmo em qualquer fase do mediunato. A prática mediúnica é muito bonita, mas também é preciso se estar preparado para lidar com as próprias dúvidas internas do médium, e como estar receptivo aos espíritos que chegam para o auxílio necessário.

O estudo não está desassociado do autoconhecimento, é um fator principal para que possa aprender a se conhecer, saber seus limites, o que realmente gosta ou não gosta, o que quer pra sua reencarnação e o que não quer. E isso também define um bom médium e uma boa prática mediúnica. A fase da juventude já vem recheada de descobertas e decisões para a vida, e por isso muitas vezes a mediunidade se apresenta um pouco assustadora, mas quando se passa a ler sobre o assunto, a ouvir as histórias de outros médiuns, tudo vai parecendo mais simples. O mesmo acontece quando se passa a ter uma atenção especial em cuidar de si mesmo, à medida que vamos nos resolvendo enquanto espíritos, que estamos reencarnados em uma vivência terrena passageira, como também para crescer e não para sofrer, vamos notando que a mediunidade acompanha nosso crescimento interno, ou seja, a medida que crescemos a mediunidade cresce conosco.

Quando chega ao momento da prova do vestibular sem ter estudado, as coisas ficam complicadinhas não é mesmo? Então, quando há o estudo, há uma preparação, assim, nossa vida se torne mais leve, e a mediunidade não se torna um transtorno. Esse estudo pode ser também com vivências, tais como a prática do evangelho no lar, da caridade, e participar de conversas edificantes com pessoas experientes no assunto, bem como assistir vídeos ou palestras que não precisam ser apenas em um formato adulto. Existem vários jovens com conteúdos para jovens, facilitando a vivência de todos, inclusive com boas referências nas redes sociais.

Percebe como as coisas vão ficando mais leves? Agora podemos entrar nos finalmentes.

 

Afinal, o que é mediunidade? E por quê tão cedo?

Kardec (1861), nos traz duas definições sobre o que é ser médium que todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Isso já nos deixa claro que não tem pra onde fugir, em maior ou menor grau todos somos médiuns, e portanto em algum momento essa faculdade será mais ostensiva ou menos, seja pela intuição ou pelas manifestações mediúnicas. O médium nada mais é que uma pessoa servindo de intermediário entre os Espíritos e os homens, segundo Kardec em seu livro.

Com certeza você já ouviu falar em médiuns famosos como Chico Xavier ou Divaldo Franco (Inclusive se você ainda não viu o filme, corre pra assistir!). Estes homens fizeram do uso da mediunidade uma forma de ajudar as pessoas através da interação com o mundo espiritual, servindo de elo entre os espíritos e os homens para amenizar dores, amparar e através de suas mensagens ajudar na evolução espiritual de cada indivíduo. E sabe de uma coisa? Além de uma vida voltada para a caridade e o amor ao próximo, Chico e Divaldo possuem mais uma coisa em comum, foi o despertar das suas faculdades mediúnicas desde a infância, ou seja, já eram jovens médiuns. 

A faculdade mediúnica na criança e no adolescente é mais comum do que se imagina e ocorre em diferentes idades, pois, como é explicado no O Livro dos Médiuns na questão 221.8:

8ª Em que idade se pode ocupar, sem inconvenientes, de mediunidade?

“Não há idade precisa, tudo dependendo inteiramente do desenvolvimento físico e, ainda mais, do desenvolvimento moral. Há crianças de doze anos a quem tal coisa afetará menos do que a algumas pessoas já feitas. Falo da mediunidade, em geral; porém, a de efeitos físicos é mais fatigante para o corpo; a da escrita tem outro inconveniente, derivado da inexperiência da criança, dado o caso de ela querer entregar-se a sós ao exercício da sua faculdade e fazer disso um brinquedo.” (KARDEC, 1861, p. 309).

 

Pode-se perceber que não tem uma idade específica para o seu afloramento, tudo é mediante a condição espiritual e a maturidade orgânica e psíquica do indivíduo. Entretanto, há que se ter cuidados especiais quando se trata de mediunidade na infância para que não prejudique essa fase na vida do indivíduo, dando destaque as consequências morais, como já citado no “Livro dos Médiuns”, respeitando-os.

 

Então como proceder?!

A resposta como sempre encontramos com Kardec (1861), na obra supracitada. Observem no item 222:

A prática do Espiritismo, como veremos mais adiante, demanda muito tato, para a inutilização das tramas dos Espíritos enganadores. Se estes iludem a homens feitos, claro é que a infância e a juventude mais expostas se acham a ser vítimas deles. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios. As evocações feitas estouvadamente e por gracejo constituem verdadeira profanação, que facilita o acesso aos Espíritos zombeteiros, ou malfazejos. Ora, não se podendo esperar de uma criança a gravidade necessária a semelhante ato, muito de temer é que ela faça disso um brinquedo, se ficar entregue a si mesma. Ainda nas condições mais favoráveis, é de desejar que uma criança dotada de faculdade mediúnica não a exercite, senão sob a vigilância de pessoas experientes, que lhe ensinem, pelo exemplo, o respeito devido às almas dos que viveram no mundo. Por aí se vê que a questão de idade está subordinada às circunstâncias, assim de temperamento, como de caráter. Todavia, o que ressalta com clareza das respostas acima é que não se deve forçar o desenvolvimento dessas faculdades nas crianças, quando não é espontânea, e que, em todos os casos, se deve proceder com grande circunspecção, não convindo nem excitá-las, nem animá-las nas pessoas débeis. Do seu exercício cumpre afastar, por todos os meios possíveis, as que apresentem sintomas, ainda que mínimos, de excentricidade nas idéias, ou de enfraquecimento das faculdades mentais, porquanto, nessas pessoas, há predisposição evidente para a loucura, que se pode manifestar por efeito de qualquer sobreexcitação. As ideias espíritas não têm, a esse respeito, maior influência do que outras, mas, tomará o caráter de preocupação dominante, como tomaria o caráter religioso, se a pessoa se entregasse em excesso às práticas de devoção, e a responsabilidade seria lançada ao Espiritismo. O que de melhor se tem a fazer com todo indivíduo que mostre tendência à ideia fixa é dar outra diretriz às suas preocupações, a fim de lhe proporcionar repouso aos órgãos enfraquecidos. (KARDEC, 1861, p. 309-310)

 

Siga os sinais!

Portanto, se você estiver convivendo com um jovem no despertar de sua mediunidade, tenha tranquilidade e siga os sinais. Um dos principais é perceber-se, se conhecer e desenvolve o autoconhecimento é fundamental nesse processo. Estar atento às suas emoções, sensações e pensamentos fará com que torne-se natural reconhecer o que é seu do que “chega” até você.

O Equilíbrio emocional é como uma antena para sintonizar com os espíritos amigos que vão te ajudar nesse processo. Evite brincadeiras de Evocação de Espíritos, os sérios não participam dessas atividades. Frequente uma casa Espírita que se sinta acolhido, inclusive, procure um grupo de juventude, assim poderá conviver com outros jovens que podem estar passando ou já passaram por isso, com orientações de pessoas instruídas para esse trabalho na evangelização.

Os encontros de jovens vão auxiliar na troca de experiências e conhecimento doutrinário, por isso mantenha o estudo em dia. Se perceber que precisa de mais ajuda para lidar com suas emoções, procure uma ajuda profissional também. E no mais, lembre-se, a mediunidade é uma ferramenta que nos auxilia na nossa caminhada evolutiva como espírito imortal, ela também pode ser uma benção se assim você decidir que seja!



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