Gotas de luz - Maria Duarte
“Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece, de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som (…) É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem as suas inspirações (…) Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhes bons pensamentos.” (Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXVII: 10; 11.)
É apanágio de um mundo de provas e expiações, como é o caso da Terra, vivermos momentos de dor, angústia, sofrimento, desânimo e incerteza, alternados com dias de alegria, satisfação, ânimo, positividade e esperança. Todos passamos por períodos mais difíceis em que nos sentimos derrotados e sem vontade de continuar nas lutas que a vida nos oferece. Mas também todos temos algo a que nos agarrar nesses momentos, onde vamos buscar a força de que necessitamos para superar e continuarmos em frente. Isso acontece com todos nós, sem exceção. Precisamos de diferentes circunstâncias, que nos ponham à prova, nos façam crescer e nos mantenham alerta, ao mesmo tempo que nos permitam a expiação do que nos pesa na consciência, sem a qual não nos sentiríamos livres para seguir sem os aguilhões dos defeitos e imperfeições que nos inferiorizam.
Somos Espíritos de uma ordem mais ou menos inferior, Espíritos em aprendizagem, estamos todos a caminho, embora em diferentes etapas da caminhada. Estamos lado a lado como forma de crescimento. Só é possível crescer com os outros. Daí o facto incontestável de que merecemos viver no mundo em que vivemos, tal como ele é, na atualidade, com todas as suas controvérsias, com todo o tipo de habitantes, sejam vítimas ou criminosos, com as guerras, a dor, a doença e tudo o que aflige o nosso mundo, nos dias que correm. Não somos melhores, nem mais merecedores; se assim fosse, estaríamos a habitar um mundo mais evoluído, mais feliz.
É natural que tudo o que presenciamos em nosso redor, a acrescentar às notícias alarmantes que nos chegam todos os dias pelos meios de comunicação, nos cause frustração e desânimo. O que não é natural é que isso nos tire definitivamente a vontade de desistir, de nos esforçarmos pela construção desse mundo melhor que desejamos. A felicidade, seja pessoal ou coletiva, é uma conquista que se constrói num quotidiano de luta contra as imperfeições e no cultivo da solidariedade, da caridade, do amor, da inclusão, da equidade, e de tantos outros valores imprescindíveis a uma vida de relação com os outros.
O que não é natural é desistir da vida. Até porque desistir da vida é impossível, já que ela é eterna. Somos seres imortais. Se pensarmos em desistir, apenas estaremos a adiar o inevitável e a acarretar maior dose de sofrimento, para nós e para os outros. É claro e compreensível que, em certas circunstâncias, no ápice da dor, nos faltem as forças, o vazio e a tristeza nos invadam. Mas, temos de ter bem presente que não estamos sozinhos. Deus a ninguém dá maior dose do que a que cada um, naquele momento específico, consegue aguentar. Cada reencarnação é cuidadosamente planeada, sob a supervisão de Espíritos especialistas nessa área, que nos orientam nas escolhas daquilo que iremos enfrentar na existência terrena. Essas Entidades esclarecidas não permitem que selecionemos provas que sabem de antemão, porque nos conhecem, que não teremos, por enquanto, capacidade para suportar. Aconselham-nos de modo a que nos preparemos com ponderação e tenhamos hipóteses de sair vitoriosos. Às vezes, um erro que cometemos, quando, pela sua gravidade, exige uma expiação demasiado prolongada e dolorosa, resulta em subetapas a serem saldadas em mais de uma existência, deixando que a cada uma nos fortaleçamos e nos preparemos para a etapa seguinte.
Essas Entidades que nos supervisionam estão connosco, ao longo de cada reencarnação, prontas a continuar a sua supervisão e amparo, embora sem desrespeitar o nosso livre-arbítrio, como não poderia deixar de ser. Depende de nós querermos entrar em conexão com eles e abrir a janela do coração e da mente, para deixar entrar as suas emanações amorosas, em forma de inspirações, conselhos, sugestões, que têm o objetivo de nos impulsionar ao progresso e servir de alento nas horas mais difíceis. São as Gotas de Luz, que a todo o instante estão jorrando do Alto, e que, infelizmente, nem sempre sabemos aproveitar.
E como poderemos captar essas Gotas de Luz? Pela Prece. Sempre pela Prece. Também pela reflexão, hábito que devemos manter sempre, nomeadamente, ao fim de cada dia. Pela autoanálise, que nos possibilita olhar dentro de nós mesmos e buscar o que temos de alterar ou manter na nossa forma de ser. Pela meditação, que nos permite sair de nós mesmos e entrar em conexão com o Universo e captar as suas energias (Gotas de Luz). Reflexão, Autoanálise, Meditação, Oração com palavras expressas apenas interiormente, Elevação do pensamento, tudo são formas de Prece, através da qual sintonizamos com as forças do Bem e nos desconectamos dos impulsos negativos que nos arrastam para o desânimo e a tristeza e nos levam à depressão.
Fiquemos alerta, recorramos à Prece e mantenhamos as janelas da alma abertas, deixando entrar as Gotas de Luz que não cessam de jorrar na nossa direção. Cultivemos a Paz dentro de nós, para que a Paz se estenda para fora de nós.
Gostaria, se me permitem, de terminar este artigo com um singelo soneto de minha autoria que reflete o pensamento que tentei expressar:
No meio da tristeza e desalento,
Com a alma detida em duro pranto,
Quando a dor te afligir e roubar o alento,
Deixando-te entregue ao desencanto,
Estanca do teu peito, por um momento,
A aflição que invade o sagrado recanto
Do teu coração e do teu sentimento,
Ergue o olhar ao Alto, por instantes.
Sentirás como a dor em ti se reduz,
Ao elevar o pensamento em oração.
Verás dúlcidas bênçãos flamejantes
Vir dos Céus; sublimes gotas de luz,
Em forma de socorro e inspiração.
Maria de Lurdes Duarte reside em Arouca, Portugal.
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