Degraus para Jesus - Ricardo Forni
“Espera ansiosamente encontrar o Senhor, e um dia chegarás à divina presença; entretanto, antes de tudo, a vida te encaminhará à presença do próximo, porque o próximo é sempre o degrau da bendita aproximação.” Emmanuel, do livro Palavras de Luz.
O excelente livro do doutor José Carlos De Lucca, Simplesmente Francisco, edição Letramais, nos traz importantes e interessantes informações sobre o santo de Assis. Vamos valer-nos delas na autoria desta página.
Francisco, após renunciar em praça pública aos bens materiais que o pai lhe oferecia, despindo-se de toda a roupa para exemplificar a sua decisão irrevogável, recebeu trapos do jardineiro da Catedral daquela localidade para cobrir a sua nudez.
Deixando tudo para trás, embrenhou-se mata adentro a buscar para servir Jesus da maneira que lhe fosse possível.
Depois de um determinado trecho, foi encontrado por um bando de salteadores que lhe aplicaram uma surra porque não entenderam a figura daquele maltrapilho que vagava pelas cercanias como se fosse um lunático sem rumo.
Após apanhar sem nada ter feito, Francisco continua em busca de alguma situação para servir a Jesus e pede em oração para que o Mestre lhe aponte o caminho, quando encontra um abrigo para leprosos.
Imediatamente esse Espírito lúcido de escol entende que ali estava a oportunidade que buscava ansiosamente e instala-se em meio aos vitimados pelo mal de Hansen e começa a servir com absoluto destemor.
É válido lembrar que até meados do XX os contaminados pelo bacilo temido desse mal eram recolhidos em sanatórios específicos e retirados da sociedade e, por consequência, da convivência dos seus familiares.
Por isso não é difícil entender o horror que essa enfermidade causava naquela época tão distante da Idade Média.
Rostos deformados por chagas a escorrer uma secreção mal cheirosa e deformados pelas chagas.
Mãos afetadas com lesões consequentes ao ataque do bacilo aos nervos que ficavam praticamente inutilizadas.
Perdas de dedos dos pés a caírem do corpo como se fossem folhas mortas de árvores no outono.
Corpos que se arrastavam apoiados em pedaços de paus como se fossem bengalas improvisadas.
A dificuldade em conseguir alimentos já que eram repudiados e enxotados como indivíduos imundos e altamente perigosos porque a transmissão da enfermidade àquela época era uma ideia terrível.
Doença incurável e condenação à morte à míngua com certeza absoluta.
E Francisco, alma de elevadíssima evolução, ignorando todos os riscos, entregou-se de espírito aberto para servir Jesus, servindo ao próximo.
Conforme continua ensinando doutor José Carlos no livro mencionado, após um tempo considerável de servir naquele refúgio de leprosos banidos da sociedade e entregues à própria sorte, um dia, depois de muito trabalhar pensando as chagas dos doentes, Francisco adormeceu e sonhou que estava diante de um leproso com sinais terríveis daquela doença que marginalizava as vítimas.
O leproso estendia suas mãos em direção a Francisco quando ele viu que um pássaro pousou nos ombros do enfermo.
Francisco não titubeou e num ímpeto de amor abraçou aquele homem com nenhum preconceito ou temor.
Quando o abraço se desfez, diante do santo estava o próprio Jesus!
Após essas considerações, vamos analisar a colocação de Emmanuel orientando que para chegar ao Mestre, nosso próximo representa os degraus.
Então, precisamos analisar como estamos utilizando esses degraus que a vida nos traz à convivência.
O próximo que nos recebe como filhos no papel de pai e mãe.
Como foi ou tem sido nossa convivência com eles? Muitos reclamam de atitudes que julgam ser defeitos de uma mãe ou de um pai, esquecendo-se de que é por eles que recebemos o socorro de uma nova existência no corpo, permitindo-nos o acesso à escola da Terra.
Como temos utilizado os degraus para Jesus na figura de nossos filhos, quando assumimos a responsabilidade de orientar esses Espíritos imortais para que possam dar um passo à frente na evolução que a todos nos aguarda?
Quantas vezes o desejo de deixá-los entregues nas mãos de Deus, significando isso a desistência de encaminhá-los para o bem, implica fugirmos do degrau que Francisco aceitou sem vacilar para aproximar-se do seu Mestre.
Nossa família consanguínea também nos oferece muitos degraus para Jesus. Aquele irmão que não pensa como nós, que na presença dele nos sentimos importunados, com o qual a convivência se apresenta pesada e difícil, não representa um erro de cálculo da Providência Divina, mas sim a oportunidade do degrau que nos leva a Jesus.
Quantas vezes não é pronunciada a frase de que nos entendemos melhor com alguém fora de nossa casa do que ao lado de um componente da família na intimidade do lar?
Recusar esse degrau que consideramos difícil e deixá-lo para uma próxima reencarnação é adiar o passo a mais que pode ser dado em direção ao Governador do planeta Terra e, por consequência, adiar a aproximação de uma consciência que pode ficar na posse da paz mais completa.
A vida está repleta de degraus que se nos apresentam para irmos caminhando, mesmo que lentamente para cima, no sentido de nossa evolução espiritual.
O patrão difícil, a profissão que não nos proporciona uma renda melhor do que aquela que ambicionamos, a casa que não corresponde ao local sonhado, o alimento sobre a mesa que ganho honestamente não satisfaz à nossa gula, o figurino que não acompanha a moda, a dificuldade de estudarmos, o carro que não é do último tipo, tudo aquilo que, enfim, são degraus que podem ser mobilizados em favor da nossa evolução íntima superando a nós próprios, são oportunidades de crescermos servindo-nos na senda evolutiva para nos aproximarmos, mesmo que lentamente, do nosso Mestre e Senhor.
Vamos concluir com uma colocação do livro mencionado: Francisco, hoje você verdadeiramente me encontrou, porque amou o Cristo-pobre, o Cristo-doente, o Cristo-miserável que mora em cada ser humano. Ninguém se diviniza sem antes se humanizar!
É preciso aceitar pensar as chagas das imperfeições daqueles que caminham conosco, da mesma maneira que precisamos do curativo da caridade para com as nossas.
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