Charles Dickens

Charles John Huffam Dickens, conhecido como Charles Dickens, nasceu em Landport, no sul da Inglaterra, no dia 7 de fevereiro de 1812, como filho de Elizabeth Barrow e de John Dickens.  Seu pai era escriturário da Tesouraria da Marinha na cidade de Portsmouth, mas vivia de empréstimos sem conseguir pagá-los. Em 1822 resolve fugir para Londres, levando consigo a família. Morando em um sótão de uma rua pobre de Londres, em 1824, John é preso por dívidas.

A infância de Dickens foi marcada por uma grande mudança social, pois com apenas doze anos ele foi obrigado a trabalhar numa fábrica de graxa (onde colocava rótulos nos vidros) para a ajudar a família, de parcos recursos, e ali permaneceu por vários meses. Contudo, uma herança inesperada melhorou a situação dos Dickens e sua servidão termina quando sua avó morre e seu pai recebe uma grande quantia com a qual paga as dívidas e permite a Charles prosseguir seus estudos.

Ele entra então na Wellington House Academy, mas logo tem de deixar a escola e arrumar novo emprego. Em seu tempo de estudante, Charles Dickens se entregou avidamente à leitura das obras de Fielding, Cervantes, Smollet e outros. Em 1827 emprega-se como aprendiz na casa de um procurador judicial. Aos 20 anos, estenógrafo diplomado, coloca-se no jornal True Sun, para relatar reuniões parlamentares e campanhas eleitorais. Em 1831 emprega-se como repórter parlamentar. Viajando pelas províncias inglesas, se diverte anotando episódios pitorescos. Em 1832, consegue um emprego como repórter no Jornal Morning Chronicle, o maior periódico londrino da época. Em 1833, Charles Dickens envia para o Monthly Magazine uma pequena crônica, sem assinatura. Um mês mais tarde, verifica que seu texto fora publicado e era lido por muita gente. O sucesso o levou a redigir uma série de crônicas em linguagem leve e fácil, narrando fatos reais e fictícios da classe média londrina. Assinava-as com o pseudônimo de "Boz", no Morning Chronicle. É a partir desse contato que Dickens em 1835 publica, com bastante sucesso na época, crônicas humorísticas, reunidas mais tarde no volume Esboços Feitos por Boz, em dois volumes.

Em 1837, “Boz” é convidado para acrescentar textos aos desenhos do artista Seymour, para publicá-los em capítulos mensais. O trabalho de repórter lhe dava condição de circular em meio à aristocracia londrina. A boa acolhida das crônicas fez com que ele, agora um escritor, também galgasse mais um espaço no jornal e apresentasse os capítulos de seu romance As Aventuras do Sr. Pickwick, obra com a qual pretendia fazer o público rir e chorar. Entre o choro, a espera e o riso, a história do sr. Pickwick tem o último como ingrediente principal. Dickens abusava do humor para com isso facilitar a aceitação de seus textos pelo público. Nesse livro, o escritor se revelou um dos melhores humoristas da literatura mundial, criando, com rara habilidade, personagens engraçadíssimas. As Aventuras do Sr. Pickwick deu a Charles Dickens a certeza de um futuro promissor e alguma notoriedade em Londres.  

Antes que o último capítulo da obra fosse publicado no jornal, ele se casou com Catherine Hogart, filha do redator-chefe do Chronicle, com quem teve dez filhos. O rápido êxito fazia Dickens concluir um livro e iniciar outro, sem interrupção. A vaidade e a ânsia de reconhecimento público não lhe permitiam descansar. Em 1838 publica Oliver Twist, em que relata os infortúnios de um menino órfão que mora em um albergue e trabalha em uma fábrica, de onde foge para conviver com marginais, mas não se corrompe. A partir daí surgem novos livros, todos com grande sucesso.

Em 1844 viaja à Itália, estabelecendo-se em Gênova, de onde só retornaria um ano depois. David Copperfield, um de seus mais conhecidos romances, foi publicado em 1849. Porém, aos poucos sua obra se torna cada vez mais combativa. Seus livros passaram a lutar e criticar continuamente contra as instituições inglesas e a defender as camadas mais pobres daquela sociedade. Seguem esta linha diversos livros.

Nos últimos anos de sua vida, seu amigo Willie Collins pediu-lhe que escrevesse um romance policial, que era novidade então. Dickens iniciou, em alguns meses, The Mystery of Edwin Drood. Contratara a publicação da estória em 12 capítulos mensais numa revista e fizera questão de especificar, no contrato, que, se morresse, os direitos autorais seriam pagos aos seus herdeiros, exigência essa que nunca apresentara antes. Terminado o sexto capítulo, morreu o autor sobre a mesa de trabalho, em consequência de um acidente vascular cerebral, em Higham, Inglaterra, aos 58 anos de idade, em 9 de julho de 1870. Os leitores que vinham acompanhando mais aquela fascinante novela do mestre ficaram desolados, sem saber de que maneira Dickens desejava terminá-la, pois não deixou notas. Seu corpo foi sepultado na Abadia de Westminster. Encontra-se escrito em sua lápide: “Apoiante dos pobres, dos que sofrem e dos oprimidos, com sua morte, um dos maiores escritores da Inglaterra desapareceria para o mundo". A casa em que morou foi transformada em museu.

O problema, porém, não era insolúvel. No século XIX, era comum surgirem obras literárias a partir da publicação do capítulo na imprensa. Dessa forma, podiam os leitores acompanhar o desenrolar de uma boa narrativa, à semelhança do que hoje ocorre aos telespectadores que acompanham o desdobramento de uma novela televisiva. Na Inglaterra, mais precisamente em 1870, o público leitor estava às voltas com a empolgante narrativa de um dos maiores nomes da literatura britânica, Charles Dickens, que mais tarde seria publicada em livro, sob o título de O mistério de Edwin Drood. Um fato, porém, conduziria essa obra do autor de Oliver Twist a uma inusitada situação no contexto de uma historiografia literária que está por ser escrita. Aconteceu de Charles Dickens falecer, deixando inacabada a trama que vinha sendo urdida com maestria, provocando dupla consternação ao seu grande número de leitores, dentre os quais a rainha Vitória, que o havia recebido em palácio há pouco tempo. Mas o pior, ou o melhor, dependendo das opiniões, ainda estava por vir. No ano seguinte à sua morte, isto é, em 1871, um jovem americano chamado Thomas P. James, tipógrafo de profissão, errante por temperamento, foi parar num lugarejo por nome Bratteboro, no Estado de Vermont. Lá, hospedou-se na casa de uma senhora idosa que alugava quartos. Thomas tinha um fraco por moças bonitas e justamente ali em frente morava uma que o interessava no momento. A velha dona da casa praticava o Espiritismo e o tipógrafo, vez por outra, assistia às sessões. A 3 de outubro de 1872, Thomas informou à sua hospedeira que iria terminar o livro inacabado de Charles Dickens. A partir de então, recolhia-se com frequência ao seu quarto e, ao cabo de algum tempo de meditação, como se estivesse em transe, escrevia febrilmente páginas e mais páginas, durante horas. A despeito da discrição daqueles que sabiam do fato, a coisa acabou por transpirar e a casa da senhora foi invadida por curiosos e repórteres que desejavam testemunhar o fenômeno. Thomas P. James tivera pouca oportunidade de frequentar a escola. Terminara seus estudos aos treze anos de idade, sem completar nem mesmo o curso primário. Era de temperamento folgazão e pouco dado à literatura. Ele próprio dizia, ao escrever os capítulos faltantes de O Mistério de Edwin Drood, que nada daquilo era seu, nada criava; apenas escrevia o que Dickens lhe ditava. Por mais que se farejasse fraude, não foi possível admiti-la – a coisa era limpa e clara; o jovem tipógrafo estava escrevendo tal como Dickens, sabia de cada personagem, usava a linguagem inconfundível do grande romancista. O livro está aí para quem quiser ler, até hoje. A não ser que se conheça a sua gênese, não se pode dizer onde parou o Dickens “vivo” e onde retomou o Dickens “morto”, através da mediunidade de Thomas. Destituído de mais ampla formação cultural, James foi uma espécie de precursor, no tempo e no espaço, do fenômeno lítero-mediúnico. O que faz do livro mediúnico de Thomas James uma obra singular, mesmo entre as suas congêneres psicográficas, é o fato de a obra concluir uma história deixada incompleta por seu autor. Três anos após a morte de Dickens, em 1873, é publicado nos Estados Unidos a continuação de O mistério de Edwin Drood do exato ponto em que a trama fora interrompida. O autor da sequência? Presumivelmente, Charles Dickens. Literalmente, no caso, um ghost writer, que voltava do além pelas mãos de um jovem e desconhecido médium norte-americano da cidade de Brattleboro, em Vermont, o mecânico Thomas P. James. Assim é que a peça atribuída a Dickens causou grande polêmica à época, como era de se esperar. Mesmo entre conceituados espíritas britânicos, como o criador de Sherlock Holmes, o acontecimento soou muito estranho. Sir Arthur Conan Doyle, o imortal criador de Sherlock Holmes, espírita convicto e esclarecido, mas pesquisador frio, promoveu uma investigação cuidadosa do assunto. Suas conclusões foram publicadas na Fortnightly Review, em dezembro de 1927. Thomas P. James nunca revelou talento literário, antes de Edwin Drood, e jamais voltou a escrever qualquer coisa parecida. No entanto, lá estavam o estilo de Dickens, seu vocabulário, sua técnica novelística, a psicologia das suas personagens. O veredicto de Sir Arthur é este: “Se é que isto é uma paródia, tem o raro mérito entre as paródias de nunca destacar ou exagerar as peculiaridades do original”. Por ocasião do lançamento do livro, um jornal de Springfield, qualificou Thomas P. James de “digno sucessor de Dickens”. Outro órgão da imprensa, em Boston, foi mais claro e chegou mais perto da verdade: “James não poderia ter escrito este livro sem a ajuda de Dickens – seja ela espiritual ou de outra maneira que desconhecemos”. Opinião sensata. Sobrevivente, Charles Dickens quis apenas demonstrar ao mundo uma verdade elementar que tanto custamos a admitir: a de que todos nós sobrevivemos à morte física, levamos para o plano espiritual a nossa bagagem psíquica, cultural e moral e que, finalmente, podemos entender-nos perfeitamente, Espíritos e homens.  Num esforço propagandístico, sem dúvida, os responsáveis pela editora espírita, publicações Lachâtre, tiveram acesso ao texto psicografado, não sem uma intensa negociação junto à Casa de Dickens, instituição responsável pelo acervo do escritor inglês, conforme consta da apresentação de O mistério de Edwin Drood - versão concluída pelo próprio autor, título adaptado do original publicado por James.

O Espiritismo e Charles Dickens

Charles Dickens mereceu elogios por parte de personalidades mais importantes nomes da literatura inglesa de todos os tempos. Ele que é mais conhecido do grande público por “Um Conto de Natal” ou “Os três Espíritos de Natal”. Nesta peça literária, o leitor tem uma visão espiritualista do problema da riqueza no plano físico, numa metaforização literária à semelhança do que é estudado em “O evangelho Segundo o Espiritismo” sobre este magno problema da trajetória humana pela encarnação no plano físico em um mundo de provas e expiações. Além dessa e de outras produções literárias, Charles Dickens possui uma curiosa relação com o espiritualismo, mais particularmente com o Espiritismo codificado por Allan Kardec, pois a sua morte e o romance que ficou interrompido ao meio, O mistério de Edwin Drood, entram para a casuística mediúnica do Espiritismo como uma notável intervenção do mundo espiritual.

Com tradução, notas e posfácio de Hermínio C. Miranda, escritor espiritista com dezenas de livros publicados sobre temáticas afins, O mistério de Edwin Drood – Versão concluída, revela-se um projeto com boa visão de mercado por parte dos editores, que lançaram mão de um engenhoso artifício para captar a atenção daqueles que torcem o nariz para os textos dessa natureza, mas apreciam a literatura de uma forma geral, projetando a publicação além do círculo de leitores espíritas. Como ambos os textos são publicados numa sequência única, sem especificar onde termina e começa um e outro, o leitor é instado a encontrar o ponto de intersecção entre ambos. No material traduzido por Hermínio Miranda, a transição de um texto a outro se torna perceptível somente muitas páginas adiante de onde realmente se dá. Este fato, por sua vez, conduz ao problema que é um nó górdio da psicografia para os leigos: o estilo. A semelhança entre os dois momentos da obra de Dickens se revela algo lindo de ler.



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