Axel Munthe, médico e médium
Filho de Fabian Munthe e Emily Charlotta Munthe, nasceu em 31 de outubro de 1857, em Oskarshamn, Suécia. Em 1870 iniciou o curso de Medicina na Universidade de Uppsala (Suécia). De 1875 até 1878 continuou os estudos em Paris, sendo aluno de Jean-Martin Charcot, tornando-se especialista em doenças nervosas, psiquiatria e neurologia.
Durante uma visita à ilha de Capri, aos 17 anos, Munthe teve uma experiência que ele descreveu como um "pacto espiritual" com a alma da ilha. Munthe descreve encontros com espíritos e seres sobrenaturais. Ele relatou ter sido guiado por uma figura envolta em um manto rico até os restos de um palácio romano, onde fez um acordo: ele construiria uma casa ali, mas em troca deveria abrir mão da ambição de se tornar famoso na medicina. Esse episódio é descrito em seu livro A História de San Michele, publicado em 1929. É frequentemente interpretado como uma experiência mediúnica ou espiritual significativa em sua vida.
Formou-se em Medicina no ano de 1884. Munthe evitava o uso de medicamentos convencionais, especialmente em casos psicológicos. Ele preferia métodos como hipnose, música e outras abordagens alternativas para tratar seus pacientes. Essa preferência por terapias não tradicionais reflete uma abertura para práticas que hoje seriam consideradas espirituais ou holísticas Ele enfatizava a importância da compaixão, da conexão com a natureza e da busca por um propósito maior na vida.
Durante uma epidemia de cólera em Nápoles, que aconteceu entre 1884 e1887, arriscou a própria vida ajudando a tratar pacientes pobres, gesto que lhe trouxe grande reconhecimento. Também participou como voluntário médico em várias situações de emergência, sempre combinando ciência com compaixão.
Em 1890, estabeleceu-se na Itália, mantendo contato com a aristocracia europeia.
Em 1895 comprou as ruínas de uma antiga capela em Anacapri (ilha de Capri, Itália). Reconstruiu o espaço, criando a famosa Villa San Michele, um refúgio cercado de jardins, estátuas antigas e vistas do Mediterrâneo. A casa se tornou um ícone cultural e até hoje é museu e fundação.
De 1900 a 1920, tornou-se conhecido como médico da elite e também de pobres, sempre com uma postura altruísta.
Em 1907, Munthe casou-se com Hilda Pennington-Mellor, uma inglesa de origem aristocrática. Deste casamento nasceram dois filhos, Peter e Malcolm
Famoso pelo livro The Story of San Michele (1929), uma autobiografia literária em que mistura memórias, reflexões filosóficas, histórias médicas e experiências espirituais, que foi traduzida para mais de 40 idiomas e se tornou um best-seller mundial. Seu estilo mistura ciência, espiritualidade e amor à natureza, encantando leitores até hoje.
Munthe tinha forte espiritualidade pessoal, acreditava na sobrevivência da alma e era sensível a temas ligados ao além, embora não tenha se vinculado formalmente ao espiritismo kardecista. Defensor dos animais, antecipou ideias de bem-estar animal, resgatando e cuidando de muitos em Capri.
Foi médico particular da rainha Vitória da Suécia e amigo de intelectuais e artistas europeus. Sua vida entre a alta sociedade e a dedicação aos pobres fez dele uma figura singular.
A vida de Axel Munthe foi profundamente influenciada por crenças espirituais e experiências místicas, especialmente relacionadas à construção de sua famosa Villa San Michele, na ilha de Capri. A Villa San Michele é hoje um dos pontos culturais e turísticos mais visitados de Capri.
O nome de Axel Munthe está profundamente ligado ao Espiritismo por diversos motivos. Em sua obra Memories and vagaries narra ele, com detalhes, um caso de “Intervenção fantasmática”. Munthe fazia parte da Sociedade de Investigações Psíquicas, em Londres, onde se reuniam os maiores cientistas que trataram dos fenômenos espíritas. E ele próprio foi médium curador, além de magnetizador de animais.
A conhecida Revista de Metapsicologia (número de abril de 1949), que se editava em Portugal, dá-nos um interessante depoimento de Axel Munthe sobre a estranha força que possuía e com a qual, durante a guerra de 1914-18, pôde aliviar inúmeros moribundos. Disse Munthe: “O que me foi dado a fazer a muitos dos nossos soldados moribundos durante a última guerra, é suficiente para dar graças a Deus por me haver posto nas mãos tão poderosa arma. No outono de 1915 passei dois dias e duas noites inolvidáveis entre uns duzentos soldados moribundos, cobertos com capotes ensanguentados, agrupados no pavimento da igreja de uma aldeia de França... Que misteriosa força era aquela que quase parecia emanar da minha mão? Donde vinha? Procedia da corrente da consciência que circulava em mim sob a minha vida exterior, ou consistia, no fundo, no fluido magnético dos antigos mesmerianos?”
Na Sociedade de Investigações Psíquicas, em Londres, teve Axel Munthe oportunidade de fazer-se amigo dos grandes metapsiquistas. Na célebre instituição londrina conheceu, inclusive, Frederic Myers, o inolvidável autor de A personalidade humana e a sua sobrevivência. Então, jantaram juntos, conversaram até altas horas da noite sobre as experiências realizadas por Myers. Pois bem! Anos mais tarde, em Roma, Munthe foi chamado com urgência ao Hotel Consranzi, a fim de conferenciar com um seu colega médico a respeito de um doente em estado desesperador. E viu com espanto que esse doente era o seu amigo Myers! Coincidência? É possível. Convenhamos, porém, que em Roma existem milhares de médicos e o escolhido foi Axel Munthe, sendo que este não sabia quem era o enfermo... Coincidência, também, o fato de Myers e Munthe estarem na mesma cidade, um ignorando a presença do outro? Coincidência, também, que Myers viesse a morrer nos braços de Axel Munthe?
O autor do Livro de San Michele deu, também, assistência médica, por algum tempo, a Guy de Maupassant, o qual, por vezes, viveu fenômenos. Eis o que nos conta Munthe: “Maupassant às vezes subia a correr as escadas da Avenida de Villers, sentava-se a um canto do meu gabinete, olhando-me em silêncio com aquela mórbida fixidez de olhar que eu tão bem lhe conhecia. Permanecia com frequência dez minutos parado, a contemplar-se ao espelho da chaminé, como se olhasse um estranho. Contou-me um dia que, enquanto sentado na sua cadeira, escrevia uma nova obra, sentira uma viva surpresa ao ver entrar no gabinete um estranho, apesar da severa vigilância do criado. O intruso sentara-se na sua frente e começara a ditar o que ele ia escrever. Dispunha-se a chamar François, para o expulsar, quando viu com horror que o intruso era ele próprio”. A explicação espírita para o caso só pode ser esta: evidentemente, o intruso não era o próprio Maupassant e, sim, um espírito que adquiriu por instantes as características fisionômicas do escritor com o intuito, sem dúvida, de perturbá-lo. Uma das qualidades do perispírito, ensina o Espiritismo, é a plasticidade.
Axel Munthe morreu com 91 anos de idade no dia 11 de fevereiro de 1949, em Estocolmo, Suécia. Sua longa vida foi um exemplo vigoroso de fraternidade humana: médico rico, tratou dos pobres sem nada exigir em troca; escritor, interessava-se pelos temas capazes de melhorar as criaturas.
Fonte:
Escritores e Fantasmas, de Jorge Rizzini.
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