Autoperdão - Juan Orozco
Muito se fala de perdão, em especial a respeito da sua importância para a vida e a evolução moral e espiritual dos seres humanos.
Perdoar não é algo fácil, tanto que o Mestre Jesus deixou para os momentos derradeiros na cruz a última lição de perdão em sua missão na Terra.
O amor e o perdão são fundamentais para pacificar almas em conflitos.
O Cristo ensinou que devemos nos reconciliar com o inimigo enquanto estamos com ele no caminho para não sermos algemados juntos.
Em muitos casos, as algemas de ressentimentos e vinganças são seguidas de processos obsessivos até que ocorra o perdão, a reconciliação e a reparação.
Perdoar os inimigos faz galgar patamares sublimes de evolução.
Mas, há também outro tipo de perdão difícil de praticar: o autoperdão.
Situações da vida
Vive-se as experiências terrenas com acertos e erros, como parte do processo de evolução por meio de ensino, aprendizado e aperfeiçoamento.
Nesse processo, acumulam-se atributos e recursos que fazem progredir, ou imperfeições e vícios que nos estacionam diante de erros, ilusões e equívocos.
Ao pensar sobre erros, ilusões e equívocos, ficamos perturbados pelos seus efeitos, em que algumas reações conduzem para caminhos de sofrimentos, adotando posturas de desamor, decepções e descrença em nós mesmos.
O uso do livre-arbítrio
Deus concede o livre-arbítrio ao ser humano para construir o seu destino, sendo responsável por suas consequências, sejam elas boas ou ruins.
O livre-arbítrio e a liberdade de escolha, entre o bem e o mal, desenvolvem-se à medida que o Espírito vai progredindo em pluralidade de existências.
Quanto mais progride, melhor faz o uso do livre-arbítrio em suas escolhas e decisões na vida.
Sem o livre-arbítrio, o ser humano seria como uma máquina.
Sentimento de culpa
Quando uma pessoa comete erro na vida, ao reconhecê-lo, pode se sentir culpada pelo que fez, em especial se causou mal a alguém, iludiu-se ou violou valores, crenças, expectativas e padrões morais.
Pode, ainda, sentir-se culpada independentemente de ter feito algo errado, como uma predisposição pela baixa autoestima.
O sentimento de culpa é complexo e multifacetado em resposta a variedade de circunstâncias, envolvendo avaliação própria de que algo está errado.
Remorso e arrependimento
Pelo remorso e pelo arrependimento, a pessoa sente-se aflita com o sofrimento moral provocado pela consciência por ter agido mal, podendo desencadear doenças ou distúrbios, afetando a sua saúde mental.
Esses sentimentos podem despertar o desejo de corrigir-se ou o de ficar preso àquele fato do passado a ponto de não viver o presente, impedindo de realizar mudanças positivas na vida.
O arrependimento é o primeiro passo para a regeneração no sentido de reparação, fazendo o bem àquele a quem fez o mal.
Autoperdão
O autoperdão é ato de amor para consigo, de autoaceitação e de autocompaixão, reconhecendo os seus erros e que todos os cometem, melhorando a autoestima, a percepção e a avaliação de si mesmo, incluindo valores, virtudes, defeitos e imperfeições.
É a prática de se perdoar diante dos erros, que fazem parte das experiências de vida, e permitir-se aprender com eles, querendo corrigir-se, em vez de sofrer com o sentimento de culpa, abrindo caminho para a libertação da alma e seguir em frente.
Alguns fatores que dificultam a prática do autoperdão
O ego e o orgulho feridos são respostas às ações que abalam a autoestima e a autoimagem, podendo levar a reações defensivas, agressivas ou retraídas.
Essa situação, frequentemente desencadeada por experiência negativa, pode gerar sentimentos de desvalorização e vulnerabilidade, impactando a forma como a pessoa se percebe e interage com o mundo. Se reconhecer que errou, poderá não se perdoar.
O perfeccionismo caracteriza-se por expectativas elevadas, com senso de justiça implacável e regras extremas, tornando-se inflexível e irredutível, e criando hostilidade contra si mesmo e para com os outros, quando erra.
Entendendo-se infalível, exige de si capacidades e habilidades que ainda não possui.
Por esse sentimento, a pessoa não se perdoa, impactando a saúde mental, podendo levar à ansiedade, insegurança, baixa autoestima, medo de decepcionar e diferentes transtornos.
A baixa autoestima refere-se à percepção negativa de si mesmo, em que se sente inadequada e não merecedora de perdão.
É visão distorcida de si mesma, valorizando falhas e diminuindo qualidades.
A sensação da falta de valor impacta a saúde emocional, o desempenho e a qualidade de vida, fazendo sentir-se inferior e não digna de perdão.
Pessoa presa ao passado tem dificuldade de se afastar das experiências, dos sentimentos e das memórias ruins, retendo-os com ideias fixas.
São eventos traumáticos do passado que deixam marcas de culpa, tornando difícil o autoperdão por medo de novas experiências e relacionamentos.
Nesse caso, a pessoa vive em função do passado, perdendo oportunidades renovadoras do presente, sem construir o seu futuro.
Reconstruindo a vida
Nas quedas, há lições a serem aprendidas.
Importante levantar-se, corrigir-se e seguir em frente.
Levantar-se, corrigir-se e seguir em frente tem que atuar no seu íntimo, penetrando na raiz do mal, para se reerguer moral e espiritualmente, colocando-se no caminho do restabelecimento para a cura.
Pelo autodescobrimento, vai-se ao encontro do seu interior desconhecido, penetrando, explorando e desvendando a sua personalidade que deve progredir moral e espiritualmente.
Por meio do autoconhecimento, começa-se a entender as suas características, atitudes, comportamentos, virtudes, vícios, inclinações, sentimentos e variados domínios da sua realidade.
A conscientização de si mesmo permite vivenciar, experimentar e compreender o seu interior e o mundo em que vive, dentro de uma relação do “eu” com o ambiente em sociedade, para realizar avaliação crítica do que é moralmente certo ou errado.
À medida que se vai conhecendo, domina-se as potencialidades da alma, controlando os pensamentos, a vontade e os desejos.
Essa conscientização é indutora de progresso, permitindo identificar e reconhecer os recursos latentes e o que precisa melhorar para evoluir.
A consciência é o grande julgador íntimo, tendo por base as experiências.
A consciência julga, condena ou aprova.
A condenação traz sentimento de culpa e distúrbios.
A aprovação traz paz de Espírito que permite seguir em frente.
É preciso trabalhar a mente para o autoperdão, aceitando-se como é, com autocompaixão, praticando o autoconhecimento e a reforma íntima.
Busque coragem para enfrentar a si mesmo com autoamor.
Conscientizar-se de que todos cometem erros.
Entender que erros e experiências ruins trazem lições e oportunidades para aprender, reajustar, aperfeiçoar e crescer.
Ao perdoar a si mesmo, conscientemente, começa-se a corrigir os próprios erros, afastando-se de suas amarras.
Sem o peso da culpa, consegue-se focar na reorientação de rumo.
O autoperdão não é ignorar os próprios erros, mas reconhecê-los e assumir as responsabilidades por eles, aprendendo a crescer de forma construtiva em um processo de cura moral e espiritual.
Identificar que todas as pessoas se encontram em processo de evolução, aprendendo com suas experiências para continuar tentando e acertar.
Abandone o perfeccionismo e aprenda a aceitar os erros para se libertar do rigor dos julgamentos para promover a saúde emocional.
A busca da perfeição faz parte do processo evolutivo em pluralidade de existência, em que provas e expiações são oportunidades de aprendizado, depuração e progresso moral e espiritual, experimentando transformações e benefícios pela manifestação da justiça e misericórdia divinas.
A cada existência, o Espírito dá um passo no caminho do progresso.
Para seguir adiante, é crucial aprender a lidar com o passado, não o esquecendo, mas dando-lhe um lugar adequado na sua vida.
Reconheça os erros do passado, aceitando-os sem autopunição, procurando as lições que poderão ajudar na construção de um futuro melhor, evitando repeti-los e realizando escolhas e decisões mais acertadas.
Autoperdão é ato de amor, permitindo-se ser amado e amar como passo fundamental para uma vida mais feliz.
A capacidade de amar é uma das maiores riquezas da experiência humana, proporcionando conexão, bem-estar emocional e realização pessoal.
O amor a si mesmo é de suma importância para a prática do amor ao próximo, pois quem não se ama dificilmente conseguirá cultuar o amor fraternal.
É preciso resolver as aflições internas que produzem desamor e abala a autoestima, pois a alma em conflito interno não enxergará as necessidades de seus semelhantes para a prática da caridade que salva.
O autoperdão é essencial para superar os erros e prosseguir em direção da construção do seu destino, promovendo crescimento moral e espiritual.
Perdoar a si mesmo, sem se abater pela culpa, é passo para a libertação da alma em direção de uma vida mais alinhada aos propósitos divinos.
A vontade de mudar é sentimento que impulsiona pessoas a saírem da situação atual para buscar outra direção, cuja real transformação precisará ser consciente para gerar novos condicionamentos e estabelecer diferentes atitudes.
Por fim, uma última mensagem.
O perdão e o autoperdão são atos de amor.
“... o amor cobrirá a multidão de pecados” (1ª Epístola de Pedro, 4: 8).
A prática do verdadeiro amor conduz à reparação dos erros e à evolução moral e espiritual.
O amor corrige rumo, traz paz de Espírito, faz superar provas e expiações, ameniza as ações da lei de causa e efeito, cobre multidão de pecados e promove o crescimento espiritual.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA
CARLOS, Antônio (Espírito); na psicografia de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. Reconciliação. 34ª Edição. São Paulo/SP: Petit, 2014.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
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