A verdadeira humildade - Rogério Coelho
A humildade permite que a criatura se conscientize das suas limitações e necessidades.
“(...) O orgulho disfarçado de simplicidade está longe de ser a verdadeira humildade.” - François C. Liran
Em página mediúnica, Lacordaire[1] afirma (entre outras coisas): “(...) a humildade é virtude muito esquecida entre vós. Bem pouco seguidos são os exemplos que dela se vos têm dado. Entretanto, sem humildade, podeis ser caridosos com o vosso próximo? Oh! não, pois que este sentimento nivela os homens, dizendo-lhes que todos são irmãos, que se devem auxiliar mutuamente, e os induz ao bem. Sem a humildade, apenas vos adornais de virtudes que não possuís, como se trouxésseis um vestuário para ocultar as deformidades do vosso corpo. Lembrai-vos d`Aquele que nos salvou; lembrai-vos da Sua humildade, que tão grande O fez, colocando-O acima de todos os profetas.
O orgulho é o terrível adversário da humildade”.
No mesmo diapasão do nobre francês, aduz Irmã Angélica[2]: “(...) a humildade é, realmente, virtude que escasseia entre as criaturas. O orgulho se disfarça de simplicidade e a prepotência assume-lhe canhestra aparência, de imediato se desvelando, tão logo surja o momento de se sentirem contrariados... A sua vivência, sem embargo, equilibra e sustenta o homem na manutenção dos ideais superiores que abraça, auxiliando-o a vencer-se nas más inclinações e a superar quaisquer obstáculos que defronte pelo caminho.
Colaborando na realização de autênticas autoavaliações, a humildade permite que a criatura se conscientize das limitações e necessidades que lhe impedem o avanço, emulando-a à superação. A crítica mordaz não a alcança, o elogio vulgar não a fere, a discriminação infeliz não a atinge, a perseguição não a desanima, a tentação não a perturba se se impuser a condição da humildade, porque, conselheira lúcida, ela lhe apontará o caminho seguro a percorrer, demonstrando-lhe que essas ocorrências constituem acidentes que se encontram presentes em todas as áreas do processo evolutivo. Ao mesmo tempo, em razão de dar-lhe a medida do que é e o de que realmente se lhe faz necessário para a vitória, concita-a à oração, através de cujo recurso se despe dos atavios inúteis para se apresentar ao Senhor como realmente é, colocando-se à disposição da Sua superior vontade.
Nesse clima estabelece-se a paz íntima e a confiança, despojada da presunção, emula à insistência na ação edificante com que cresce, emocional e espiritualmente, tornando-se instrumento infatigável do Bem.
Não são poucos os candidatos à evolução que tombam no caminho, apesar de possuidores de boa vontade, que é uma excelente qualidade para o cometimento, entretanto, distraídos da vivência da humildade, abandonam o compromisso, na primeira oportunidade, vitimados pelo desalento, pela amargura, ou vencidos por intempestivo cansaço de que se fazem fáceis presas”.
Atentemos agora neste importante comentário de nobre Mentor Manoel Philomeno de Miranda[3]: “(...) é de surpreender que muitas pessoas tomem conhecimento da realidade, dos mecanismos libertadores da vida, e, não obstante, optem pela escuridão da conduta, derrapando em compromissos insanos, que as levam a derrapar nas terríveis alucinações que se prolongam por largo período, de forma a insculpir nos refolhos da alma as leis de equilíbrio e de harmonia indispensáveis à felicidade”.
Este comentário do Mentor Amigo cinge-se ao comportamento inadequado de quantos chegam à Terra para a divulgação das Verdades Cristãs e se perdem nas vascas do orgulho insano, apartados da vera humildade que lhes deveria caracterizar o procedimento de vanguardeiros da luz.
Daí o não menos importante alerta de Lacordaire1: “(...) despertai, meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos Espíritos ecoe nos vossos corações. Sede generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, fazei o bem com humildade. Que cada um proceda pouco a pouco à demolição dos altares que todos ergueram ao orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos e tereis o Reino da Verdade. Não continueis a duvidar da bondade de Deus, quando dela vos dá Ele tantas provas. Vimos preparar os caminhos para que as profecias se cumpram. Quando o Senhor vos der uma manifestação mais retumbante da sua clemência, que o Enviado Celeste já vos encontre formando uma grande família; que os vossos corações, mansos e humildes, sejam dignos de ouvir a palavra divina que Ele vos vem trazer; que ao eleito somente se deparem em seu caminho as palmas que aí tenhais deposto, volvendo ao bem, à caridade, à fraternidade... Então, o vosso mundo se tornará o paraíso terrestre. Mas, se permanecerdes insensíveis à voz dos Espíritos enviados para depurar e renovar a vossa sociedade civilizada, rica de ciências, mas, no entanto, tão pobre de bons sentimentos, ah! então não nos restará senão chorar e gemer pela vossa sorte”.
Razão assistia a Jesus quando Ele segundo Mt. 20:28) enunciou[4]: “(...) não vim para ser servido, mas para servir”; “aquele que quiser ser o maior, seja o servo de todos”.
[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. VII, item 11.
[2] - FRANCO, Divaldo. Painéis da obsessão. 8.ed. Salvador: LEAL, 2002, cap. 25.
[3] - FRANCO, Divaldo. Tormentos da obsessão. Salvador: LEAL, 2001, cap. “a experiência de Licínio”.
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