A sensibilidade do toque

Todos, sem exceção, passaram por muita coisa nestes primeiros meses de 2021 e no ano de 2020. Sem dúvida, ninguém esperava ter o cotidiano tão modificado por conta de um vírus; ninguém esperava que esse vírus fosse capaz de arrancar o “normal”, e modificá-lo, e tirar umas das coisas mais importantes para o ser humano: o toque.

Humanos são seres dependentes da socialização, seres que dependem do toque, do contato, das relações. Espíritos dependem disso também. Se fossem seres solitários, não haveria motivo para a habitação dos mundos, aprenderiam tudo sozinhos de forma robótica e viveriam isolados e com personalidade fria, vazios. O objetivo da vida é justamente aprender e compartilhar, em conjunto; há algumas coisas que são aprendidas apenas quando temos mais alguém ali do lado, como a empatia, o amor, a saudade, o orgulho....

Mas o toque foi perdido, o contato foi obstruído e a rotina foi modificada de forma tão rápida que mesmo depois de um ano todos continuam desacostumados a algumas coisas, enquanto outras se tornaram comuns e automáticas.

Essa falta de contato afeta muito o psicológico e a alma, e é por isso perigosa. O sentimento de solidão pode tornar-se tão intenso a ponto de gerar um isolamento ainda maior do já existente, um sentimento tão forte capaz de cegar os olhos de uma pessoa, fazendo que ela não perceba as pequenas coisas boas, que por mais que sejam menores continuam surgindo na vida dela.

É bonito ver que as novas gerações vêm dando mais atenção a isso, à mente e ao espírito. É bonito ver que agora a saúde mental e espiritual vem ganhando mais espaço, sendo discutida e valorizada e recebendo a mesma atenção que uma enfermidade física, pois são tão sérias quanto. Os jovens agora sabem mais da importância disso, refletem sobre o assunto, e até mesmo são cobradas tais reflexões deles, como vimos no ENEM 2020, que teve como tema “os estigmas das doenças mentais”, tema tão importante para a sociedade agora.

Apesar de todo o caminho incrível que essa geração vem trilhando, ela se esquece de algo. De olhar para si mesma. Os jovens, apesar de sempre se demonstrarem simpatizantes e empáticos, esquecem-se de cuidar de si mesmos com a mesma dedicação que têm para com os outros. O autocuidado é muito importante também, não se trata de egoísmo, apenas de amor ao que possuímos: a vida.

O momento atual é difícil, é inegável. Todos sofreram perdas, alguns ainda em luto, vítimas de diversas tragédias. A dor é grande para todos, desde aqueles que perderam um ente próximo até aqueles que assistem a uma parte de si ir embora lentamente. Apesar de todas essas dores, é preciso buscar ao máximo ver o outro lado da moeda, o que ainda está a esperar por todos nós.

É preciso ver que a vida não acaba no instante em que um coração para de bater ou um pulmão perde o ar; não acaba mesmo quando parece que o mundo à nossa volta vai desmoronar ou quando parece que a gente não tem mais forças. Ainda existe um futuro. Todos precisamos acreditar que existe um.

Se não existirem pessoas com esperança de um amanhã, não existirá mais o amanhã; então, tenhamos esperança e cuidado. Cuidemos de nossa mente e de nosso espírito.

Façamos coisas de que gostemos, esforçando-nos para sorrir pelo menos uma vez no dia e lembrando que um dia todos vão-se encontrar de novo e que toda dor que sentimos, física ou mental, vai passar.

Tudo passa. Dores passam assim como este momento vai passar e todos vão voltar a se abraçar e se consolar pessoalmente. Só é preciso aguentar mais um pouco.



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