Vitória do amor
“Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o vosso espírito: é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante àquele: amareis vosso próximo como a vós mesmos...” – Jesus (Mateus, cap. XXII, v. 34 a 40)
Quando consideramos o amor como a necessidade maior do espírito, nós ficamos felizes de ver que verdadeiramente, apesar de todas as adversidades, ele cresce na Terra.
É muito bela a consideração de Léon Denis sobre o assunto, no seu livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Diz ele que o amor é um sacrifício. Deus hauriu nele a vida, para dá-la às almas. Ao mesmo tempo que a efusão vital, diz ele, elas receberiam o princípio afetivo destinado a germinar e expandir-se pela provação dos séculos, até que tenham aprendido a dar-se por sua vez, isto é, a dedicar-se, a sacrificar-se pelas outras.
Recomendamos ao leitor, de vez em quando, dar uma olhada nesse livro belíssimo, que nos faz meditar em quanto nosso Deus é amoroso com toda a sua criação, em quanto somos amados.
No capítulo XI d’O Evangelho segundo o Espiritismo vemos o espírito de Sanson, através da psicografia, a dizer, em trecho também dos nossos favoritos e que já compilamos algumas vezes, que amar no sentido profundo da palavra é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que se quereria para si mesmo; é procurar ao redor de si o sentido íntimo de todas as dores que oprimem os nossos irmãos, para abrandá-las; é encarar a grande família humana como a nossa, porque essa família, nós a encontraremos em certo período, em mundos mais avançados, e os espíritos que a compõem são, como nós, filhos de Deus, destinados a se elevarem ao infinito.
Muitos de nós temos belas histórias de amor para contar, ou por tê-las presenciado ou por tê-las ouvido. Elas nos engrandecem e emocionam. Quando o ser é tocado na emoção, quando seu coração é atingido pelo amor, ele galga degraus de luz e se torna mais forte, mais feliz. Quando o amor cresce, o ser é feliz.
Observamos o ocaso de uma civilização para o surgimento de nova, mais bela, mais amorosa. Crianças que não precisam se esforçar para serem afáveis e doces, afetuosas e compassivas. Ao lado delas, outras que ainda estão carregadas de violência, que o passado explica. Mas todas serão melhores um dia, já não mais tão distante. Para alcançar rápido esse objetivo, a educação é fundamental. A educação dos sentimentos.
Comentando sobre histórias, uma delas nos tocou a emoção, quando a ouvimos. Trata-se de um senhor amoroso, vibrante no bem, verdadeiro cristão. Dirigente de um centro espírita que ele mesmo ajudou em maior parte a erigir, desde a construção.
Contou-nos ele, que há muitos anos, na cidade praiana onde vive, em São Paulo, teve a inspiração de construir um centro espírita. Juntou-se a amigos com o mesmo ideal e formaram uma diretoria. Não tinham um lugar próprio para se reunirem. Ele foi então ao prefeito da cidade na época e lhe contou de seus planos. Queria fazer uma casa onde se priorizasse o evangelho e a infância. Perguntou ao prefeito se ele poderia lhes ceder uma casa, enquanto adquiriam fundos para um terreno e a construção. O prefeito lhe acenou com uma oportunidade. Se ele desejava trabalhar com crianças, poderia administrar uma das creches que a prefeitura estava construindo na cidade. Ele aceitou, com a condição de que à noite a prefeitura permitisse as reuniões e que lá funcionasse um centro espírita. Houve concordância.
Ele começou o trabalho e a creche por ele administrada tornou-se um modelo de eficiência e de amor para as outras creches. Contou-nos que para lá eram encaminhadas todas as crianças que não conseguiam ir bem nas outras, por agressividade e distúrbio de comportamento e que lá eles ajudavam a melhorar.
Esse trabalho começou com um menininho da creche que na época tinha três anos. Era extremamente agressivo, batia e mordia nas outras crianças, mordia até nas visitas. Ele tentava e tentava e não conseguia atingir o coração do menino; o menino era terrível, no dizer dele. Um dia, não sabendo mais o que fazer para ajudá-lo, ajoelhou-se no chão, diante do menino, abraçou-o e desesperado dirigiu uma súplica a Deus: - Meu Deus, o que faço com este menino? Escutou nitidamente: ame-o!
A partir de então, começou a abraçar mais o menino, a levá-lo com ele para todos os lugares, até para o supermercado, quando ia fazer compras para a creche. O menino foi mudando, mudando, até que passou a obedecê-lo em tudo. Mudou de comportamento. Ficou dócil e carinhoso. Ele descobriu que os pais tinham brigas horríveis na frente do menino e os chamou para conversar. Modificou a família. Ensinou-lhes a regra áurea de Jesus: tudo aquilo que desejais que vos façam, fazei vós aos outros. E amou.
Esse menino melhorou tanto que, quando alguma creche tinha problemas sérios com o comportamento de alguma criança, transferiam para lá, para ele “consertar”. Ele administrou a creche até o centro espírita ficar pronto, quase 20 anos atrás. Hoje, o menino já é pai e costuma visitá-lo.
O centro espírita que dirige trabalha com a evangelização, tanto de adultos, quanto de crianças. O trabalho de evangelização infantil conta com a presença fixa de 200 crianças, da periferia daquela cidade praiana. Uma área muito necessitada, que lhe foi indicada pelos bondosos espíritos que o orientaram. E tem feito ali, junto com sua esposa e colaboradores, um trabalho de amor.
Como diz Léon Denis, na obra que citamos, o amor é mais forte do que o ódio, mais poderoso do que a morte. Jesus passou pouco tempo na Terra, diz ele. Não foi pela ciência, nem pela arte oratória que ele seduziu e cativou as multidões; foi pelo amor.
O amor nos atrai. O amor nos cativa e nos liberta. O amor sempre vence. O caso dessa criança é um pálido exemplo disso. O espírito foi vencido pelo amor. É sempre assim. O amor é divino e vive em nós.
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