Templo interno

As comunicações espirituais se fazem intensas. De diversas partes do mundo chegam mensagens psicofônicas ou psicografadas, espíritas ou não espíritas, que carregam o mesmo conteúdo, obedecendo ao princípio de aceitação de uma comunicação, orientado por Allan Kardec. Semelhanças entre elas.

Chama-nos a atenção o foco de todas elas para a avaliação íntima, o autodescobrimento, de que Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, deu-nos tantas orientações, já há muitos anos.

Essa necessidade da avaliação interna para a renovação para melhor de si mesmo, nos faz remontar à passagem bíblica do encontro de Jesus com a mulher samaritana, de extrema beleza.

No capítulo 4 do Evangelho de João, versículos 1 a 42, vemos a narrativa belíssima desse momento, um raro momento, em que Jesus se reportou a ela como o messias esperado. Ela deveria ter grande mérito ou muitas necessidades, pois o Mestre falou com ela de modo inusitado, chamando-lhe a atenção para o templo que existe em cada um de nós.

Segundo João, Jesus deixou a Judeia, retornando para a Galileia, passando pela Samaria, mais especificamente por um vilarejo chamado Sicar. Ali ficava a fonte de Jacó.  Era por volta do meio dia. Jesus aguardava ali. Sabia que ali teria uma mensagem a divulgar. Seus discípulos tinham descido para buscar alimento.

Uma mulher sobe até ali, sob o sol escaldante, carregando uma jarra. Olha meio desconfiada aquele homem de características judias e traços tão belos. Desce a jarra, para trazer a água. O cântaro vem cheio. Nesse momento Jesus lhe pede: Mulher, dá-me de beber!

 Ela se aventura a lhe chamar a atenção: Como sendo tu homem e judeu, diriges a palavra a mim, que sou mulher e samaritana? (Pois samaritanos e judeus não se entendiam e judeus não falavam com as mulheres em público). Jesus lhe respondeu: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz dá-me de beber, serias tu que lhe pedirias e ele te daria água viva!”

Que água viva seria essa? Ela imaginou que seria água mesmo, mas ele lhe esclarece que aquele que bebesse da água que ela tinha, logo voltaria a ter sede, mas quem bebesse da água que ele oferecia, se tornaria uma fonte de água jorrando para a vida eterna.

Conhecimento, eis o que ele oferecia. Conhecimento que dá a verdade que liberta.

A história prossegue até o momento em que Jesus lhe fala que os verdadeiros adoradores de Deus o adorariam em espírito e verdade, que são esses os adoradores que o Pai procura.

Somos nós o templo. Devemos estar com o nosso templo íntimo em oração e vigilância em quaisquer circunstâncias. Vendo as nossas limitações frente a isso, nesse momento já temos uma pálida ideia do quão longa ainda é a nossa jornada, até termos condições de alcançarmos a paz profunda, a serenidade intensa.

Estamos vendo mensagens do mundo todo, alertando para a hora que vivemos. Transformação do planeta para mundo de regeneração. Para isso, necessário é a transformação interna. Mergulhar no universo de si mesmo, extraindo as melhores qualidades e os piores defeitos. Corrigir-se, aprimorar-se.

Jesus lhe dá nesse instante a revelação excepcional. Ela comenta com ele, que sabe de um messias que há de vir e a resposta dele é surpreendente: Sou eu, que falo contigo.

Em Nazaré, sua cidade natal, quiseram matá-lo quando ele se revelou. Aquela mulher, no entanto, feliz, correu ao povo para dar a boa nova, de que o esperado messias estava ali.

Um outro ensinamento lindo nessa passagem, que mostra o quanto ainda temos que melhorar. Seus discípulos, chegando com alimento, lhe ofereceram, mas ele lhes disse: meu alimento é fazer a vontade de meu Pai, que está nos céus...

Ainda vemos as pessoas lutando como feras a troco de alimento, quando estão famintas. Teremos ascendido degraus de luz quando estivermos na condição de dizer que meu alimento é fazer a vontade de meu Pai que está nos céus. De vez em quando vemos algumas pessoas humílimas que já atingiram pelo amor esse degrau. São elas, avós, mães, irmãos, pais, que deixam de comer quando estão com fome, para doar a comida para um neto, um filho, um irmão que está na mesma situação.

O egoísmo haverá de desaparecer na Terra. As pessoas estão se esmerando para se melhorarem, principalmente nesses dias sombrios de dor que estamos vivenciando. Muitos despedindo-se do planeta deixando saudades imensas em quem ficou. Esse, analisa muito a si mesmo. Por que não foi ele a partir?

O egoísmo ainda é intenso, mas vai desaparecendo, cada vez mais. A avaliação interna dessa hora em que tantos são obrigados a evitar multidões, a se isolar mais, está operando essa mudança. Avaliação de si mesmo. Conhecimento, que é o que ofertou Jesus à mulher samaritana. Saber que a qualquer momento pode-se perder o que é material, aprofundou os laços espirituais de quem se ama. Desejam ficar mais próximos. Abriu para o ser a compreensão de que o amor é mais importante. Ter já não é o mais importante.

Há 2.000 anos a samaritana ouviu o convite. Deve ter sabido aproveitar ao longo dos séculos.

Há quanto tempo estamos sendo convidados?

Que aceitemos o convite, melhorando enquanto é tempo.



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