Supremo amor

“... Se observais meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.”  Jesus (João, 15:10.)

Uma conversa com uma senhora, poucos dias atrás, nos suscitou o assunto para este artigo. Ela tem uma doença difícil, requer uso diário de medicação que compromete muito o corpo. Artrite reumatoide, doença que atinge muitas mulheres, mas que também pode acometer homens, embora mais raramente. Foi isso que atingiu nosso querido amigo Jerônimo Mendonça, desde a sua juventude e o paralisou no leito. Naquela época, não tinha o tratamento de hoje. O Gigante Deitado, como ele foi e é conhecido, sofreu a intensa gravidade da artrite reumatoide.

Essa senhora nos disse que estava cansada de tomar tanta medicação e que disse ao seu reumatologista que estava cansada de remédio e queria parar. Ele foi claro com ela dizendo-lhe que poderia parar, se ela quisesse, mas que teria agravamento do quadro e ficaria com as articulações das mãos e dos pés completamente “tortas” e isso impossibilitaria os movimentos. Ela então aguenta os remédios.

Conversando com ela, comentamos que a artrite reumatoide é uma doença autoimune, quando o corpo agride a si mesmo. Ela sabe disso, assim como a maioria dos que têm essa doença são muito bem esclarecidos pelos reumatologistas e hoje a internet informa. O problema, comentamos com ela, é como ela estava em espírito. O que estava fazendo com ela para que seu corpo se autoagredisse... Teria carregado alguma mágoa, alguma dificuldade de perdão em sua vida, algo que facilitasse o surgimento da doença? Alguma culpa da qual não se libertara?

A princípio ela negou, mas depois asseverou que é muito difícil perdoar. Contou-nos que ela tinha uma mãe maravilhosa, uma bondade ímpar e que morreu de câncer. Ela e os irmãos não conseguiram perdoar Deus por ter dado o câncer à sua mãe. Foram essas suas palavras. Pode ser dessa situação a instalação de sua doença.

Então, conversamos com ela longamente, sobre o amor de Deus, que não pune, mas dá oportunidades de redenção, de crescimento espiritual, de libertação diante de sofrimentos bem suportados.

Na questão 258 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta se antes de reencarnar o espírito tem a consciência e a previsão das coisas que lhe sucederão durante a vida, ao que os espíritos respondem que ele próprio escolhe o gênero de provas que quer suportar e é nisso que consiste o seu livre-arbítrio. Não é Deus que impõe as tribulações da vida, como castigo, mas nada ocorre sem sua permissão. Dá ao espírito a liberdade de escolha para que tenha a responsabilidade de seus atos e suas consequências. Deus, em sua bondade, lhe dá a oportunidade de recomeçar o que foi mal feito.

Na questão 259, complementam que nem todas as tribulações foram previstas ou escolhidas, mas que os detalhes dos acontecimentos nascem das circunstâncias e da força das coisas.

Na questão 266, Kardec pergunta se não seria natural que o espírito escolhesse provas menos penosas, ao que responderam que para nós, os que estamos encarnados, sim, para os espíritos, livres do jugo da matéria, não.

No capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em Bem-Aventurados os Aflitos, Kardec comenta, no item 11, que, ao nascer, o homem traz o que adquiriu; nasce como se fez; cada existência é para ele um novo ponto de partida. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência que o adverte do que é bem ou mal e lhe dá força para resistir às más tentações. Ainda nesse capítulo, no item 12, Kardec coloca que são felizes os que se quitam dos débitos de vidas anteriores, pois depois de se quitarem estarão livres. No item 18, Lacordaire diz que poucos sofrem bem. Que somete as provas bem suportadas podem conduzir o espírito ao reino de Deus e que o desencorajamento é uma falta. A prece é um sustentáculo, porém não basta. É preciso estar apoiada numa fé viva na bondade de Deus.

Sabemos que nem todos os sofrimentos de hoje são débitos do ontem. O espírito pode solicitar provas duras, para, em as vencendo resignadamente, alcançar mais rápido a sua evolução.

No caso relatado no início, a filha nos disse que sua mãe era de extrema bondade e teve um câncer. Ora, por tudo o que vimos e o que sabemos, Deus é infinito amor e não condena. Dá oportunidades e permissão para se passar por provas que possam ser vitoriosas. A mãezinha relatada deve ter passado por esse processo. Resta aos filhos passarem pela prova da saudade, da ausência, compreendendo que não foi Deus quem a castigou com a doença, mas essa foi uma oportunidade que ela própria deve ter solicitado e a venceu bem.

A filha precisa se autocurar, iniciar o processo de perdão, de compreensão, para melhorar. Adquiriu uma doença grave pela falta de resignação e pela mágoa. Talvez até por débitos em vidas anteriores, não o sabemos. O que sabemos é que o amor cura uma multidão de pecados e que não necessariamente precisamos passar por todas as provas que pedimos, quando caminhamos no imenso amor. Aquilo que foi pedido pode não acontecer ou ser amenizado, mas a mágoa intensa pode ser o elo para desencadear a situação.

As obras de André Luiz psicografadas por Chico Xavier nos elucidam muito sobre o que os nossos sentimentos podem fazer com o nosso corpo. É crescente a atuação dos benfeitores espirituais para o nosso autoconhecimento, para trabalharmos nossas emoções e nos equilibrarmos, evitando para nós mesmos dores desnecessárias.

Deus é supremo amor, nosso Pai, como nos orientou Jesus, e para o amor devemos caminhar. Permaneçamos no amor, nestes momentos difíceis que vivemos. Amemo-nos uns aos outros, permanecendo no amor, e, como disse Jesus, ele permanecerá em nós.



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