Perdão libertador
“...Reconciliai-vos o mais depressa com o vosso adversário, enquanto estais com ele no caminho, a fim de que vosso adversário não vos entregue ao juiz, e que o juiz não vos entregue ao ministro da justiça, e que não sejais aprisionado. Eu vos digo, em verdade, que não saireis de lá, enquanto não houverdes pago até o último ceitil.” – Jesus (Mateus, 5:25-26)
Observamos na criatura humana a grande dificuldade de perdoar as ofensas, ainda hoje, mesmo com todo o processo evolutivo e após milhares de reencarnações, como dádivas divinas de aprimoramento do espírito, que, em renascendo, tem a chance de progredir e libertar-se de muitas imperfeições.
Os grandes espíritos do passado nos deixaram muitos ensinamentos. Um deles, o doutor da lei, Nicodemos, quando perguntou a Jesus como faria o homem para se depurar e chegar ao reino dos céus, ao que Jesus respondeu com sabedoria que seria necessário nascer de novo.
É um ciclo, nascer, renascer para progredir sempre, até alcançarmos a redenção de nós mesmos.
O orgulho, bem como nos orientam os espíritos superiores, é a fonte de todos os nossos males. O egoísmo seria seu filho.
É pelo orgulho que uma contradição não é aceita. A pessoa se deixa vencer pela contrariedade e se afasta do bom senso, com dificuldade de perdoar. Na verdade, não seria preciso perdoar se esse sentimento infeliz estivesse ausente no ser. A humildade, ainda tão pouco compreendida pelos homens, seria a virtude que impediria uma desavença. Pelo orgulho a humanidade ainda se perde e o diálogo não acontece, mesmo entre nações. Grilhões se forjam, aprisionando os espíritos encarnados ou desencarnados em sentimentos inferiores.
É preciso, enquanto a imperfeição não foi corrigida e o orgulho ainda grassa, do lenitivo do perdão.
Em palestras, quando nos dirigimos às plateias, o perdão tem sido mostrado como a grande dificuldade. As pessoas comentam suas dores profundas e dizem quanto é difícil perdoar.
Lembramos que há alguns anos e isso já foi nota em nossas páginas, quando uma senhora simples nos contou sobre a sabedoria de seu idoso pai, que contava na época com 92 anos de idade. Era um apreciador de Castro Alves e decorava uma poesia por dia e a declamava. Sua religião? Não sabemos. O que nos encantou foi o modo como ele a orientou ao perdão. Ela nos confidenciou que estava muto triste, ficara magoada com sua irmã mais velha, que era casada e tinha ciúmes do relacionamento dela com os pais, pois, estando solteira, cuidava deles, morava com eles.
A irmã a tinha tratado tão mal, no seu entendimento, que ela chorava havia duas semanas, todos os dias, debaixo de um abacateiro no quintal. Ela disse que seu pai a observava, sem dizer nada. Aguardando. Como ela não saía da situação, ele se aproximou e conversou com ela sob a sombra do abacateiro.
“Minha filha”, disse-lhe ele. “Quando um soldado cai ferido num campo de batalha, ele se arma de forças e coragem e se levanta do chão, continuando a lutar, para não morrer caído lá. Faz duas semanas que você caiu. Quando vai resolver-se a se levantar?”
Ela nos disse que, ouvindo aquelas palavras sábias, enxugou suas lágrimas, perdoou sua irmã pelas dificuldades dela e continuou a viver, fazendo o melhor que podia por seus pais, sem se importunar com as atitudes difíceis de sua irmã.
Agiu com inteligência. O perdão é libertação para quem perdoa.
A humanidade está carregada de algemas por essa situação. Orgulho ferido. Estão presos muitos a sentimentos inferiores, encarcerados em situações do passado e perdendo oportunidades de viver um presente de paz para um futuro melhor.
Libertar- se das algemas é uma necessidade. Respirar fundo e aproveitar o sol da existência, melhorando sempre mais. Perdoar sempre, para se libertar, pagando até o último ceitil com todo o amor.
Sabemos que a vida devolve aquilo que enviamos. É a terceira lei de Newton, que diz que para cada ação vem uma reação igual e contrária. Bem a lei de justiça divina, de reparação dos males praticados, devendo lembrar-nos sempre de que o amor cobre uma multidão de pecados. Respondamos a tudo com amor e o amor retornará, dando-nos a paz que tanto ansiamos.
Se alguém tiver alguma coisa contra seu irmão, aproveite, deixe a humildade tomar o lugar do orgulho e se pacifique com seu irmão.
Os grandes psicólogos pedem que imaginemos a criança sofrida daquele que provocou o problema, suplicando o perdão e o coração não saberá resistir ao pedido da criança.
Perdoar é divino e mostra ao ser que ele se tornou melhor, perdoando as ofensas. Um dia, pelas reencarnações e evolução, não precisará perdoar, pois não se sentirá ofendido. Até lá, no entanto, o perdão é e será o remédio.
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