O peixinho dourado

Num mar de águas muito claras, bem lá no fundo, cercado pela beleza das profundezas oceânicas, vivia o peixinho dourado.

Levava uma vida tranquila e feliz.

Brincava com os outros peixinhos, seus amigos, de esconde-esconde nas rochas, entre as algas e os corais. Passeava cavalgando o cavalo-marinho e divertia-se provocando as ostras, sempre muito mal-humoradas.

Dourado, porém, começou a cansar-se dessa vida onde nada lhe faltava.

Desejava conhecer outros lugares, outros seres, enfim, ansiava por novidades.

Sua mãe, quando o via sonhador, olhos perdidos ao longe, alertava-o:

— Meu filho, cuidado! Deus sabe o que faz e, se nos deu essa vida, temos que aceitá-la.

— Mas, mamãe, tenho tanta vontade de conhecer outros lugares, saber como vivem outras criaturas. Gostaria tanto de entrar num daqueles navios grandes que passam por aqui, rumo a terras distantes, cheios de alegria, música e todo iluminados...

— Você não sabe o perigo que eles representam, meu filho — dizia a mãezinha, preocupada. — Fuja deles! Existem criaturas que lançam redes ao mar para nos aprisionar, ou nos matam atirando anzóis com iscas. De qualquer forma, eles sempre representam sinal de perigo. Fuja, meu filho, não se deixe apanhar.

Mas, qual! O peixinho continuava sonhando acordado. Via tantos barcos pequenos, médios e grandes passar por ali, que se sentia cada vez mais atraído por eles. Gostava, principalmente, daqueles navios grandes e cheios de luzes e músicas. Não conseguia acreditar que fossem perigosos.

Estava cheio de curiosidade! Acreditava mesmo que sua mãezinha estivesse exagerando um pouco as coisas, por não desejar que ele se afastasse muito de sua casa, uma gruta bem arrumadinha no fundo do oceano.

Num lindo dia de céu muito azul, em que subira à tona da água para sentir o calorzinho do sol e apreciar o movimento, viu um barco que se aproximava rapidamente.

Ficou de olhos parados, observando empolgado.

Era um barco novinho, todo branco e vermelho, e, entre a curiosidade e a lembrança dos conselhos de sua mãe, passaram-se alguns minutos.

Quando o barco se aproximou bastante, sob infinito assombro, percebeu que alguém jogara uma coisa grande na água. Quis fugir assustado, mas era tarde. Foi apanhado pela rede dos pescadores.

Aí começou o seu drama. Junto com ele, viu centenas de irmãos seus serem aprisionados. Lutou desesperadamente para desprender-se; porém, quanto mais lutava, mais se emaranhava nas malhas da rede. 

Parou de lutar. Estava exausto.

Eles foram jogados no chão do barco, como se fossem lixo.

Não tinha água e viu o sofrimento dos outros peixes, morrendo aos poucos, fora do seu ambiente natural.

O sol estava forte. O calor era insuportável. Lembrou-se de sua mãe que, com certeza, estaria a procurá-lo.

O seu corpinho gelado estremeceu. O que seria dele agora? Para onde seria levado?

Nesse momento, lembrou-se das preces que sua mãe sempre o ensinara a fazer, e orou a Deus para que o ajudasse naquele momento difícil.

No fundo do seu coraçãozinho sabia agora que sempre teve uma vida boa, que fora muito feliz. Agora que perdera tudo, percebia como era importante para ele. Em lágrimas, suplicou a Deus que lhe desse uma nova oportunidade. Seria diferente de agora em diante...

Nisso, apareceu o filho do dono do barco. A criança encantou-se com aquele lindo peixinho dourado e pediu ao pai que lhe desse de presente.

O pai fez a vontade do filho e o garoto, todo satisfeito, colocou o peixinho num aquário.

Hoje, o peixinho dourado vive numa linda sala, cercado de coisas belas e objetos de decoração. Mas tem que limitar a olhar o mundo através do estreito espaço de um pequeno aquário.

Agora, sozinho, ele medita em tudo o que perdeu: a família, os amigos, os irmãos, as brincadeiras e o imenso espaço líquido onde nadava tranquilo.

Deus concedeu-lhe a vida e uma nova oportunidade, onde ele pudesse dar mais valor às coisas que tivera um dia e que desprezara.

E o peixinho dourado aguarda o futuro, sempre com a esperança de que, um dia, quem sabe, voltará ao seu antigo lar.



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