Limites importam... muito!

Andávamos por um caminho estreito ao longo de um capinzal e, lá embaixo, o rio branquinho e de águas rasas da fazenda dos meus avós. Íamos a favor do vento da manhã que nos levava para a frente, sem um destino certo.

– Vamos pular naquela água? – propôs meu irmão.

– Como?! Repete isso. 

Mal repetiu, pulou. A verdade é que fiquei atônita. Pulou e arrastou junto minha irmã. Por impulso, segui o exemplo espontâneo, e todos os três ficamos deitados naquela água gelada, ondulando o vento no alto do capinzal, movendo-se impiedoso através de nossas cabeças molhadas. E assim por diante, permanecemos ali distraídos, invalidando o aviso comunicado por nossa mãe logo cedo, à mesa, depois do desjejum: “nada de rio hoje, porque há um vento frio e vocês estão resfriados.”

Mãe e avó foram juntas nos buscar no rio por escrúpulos educativos.

De longe, quando avistamos aquelas mulheres andando apressadas, um exemplo de modalidade do gênero policial, em que o detetive procura os foragidos, o realçar da responsabilidade tocou nossas mentes arrancando-nos daquele episódio embaraçoso, fazendo-nos perceber nossa quebra de contrato, sujeitos à sanção previamente estabelecida, sendo, portanto, vedada a menção a qualquer desculpa: nada de sobremesa após o almoço, além de banho ligeiro e escutação de sermão merecido... E minha avó, nesses casos fascinantes, por respeito à criança, com firmeza nos dizia que nossa mãezinha tinha razão. “Porque é preciso cumprir os tratos desde assinzinho.”

Sim, ter filho dá trabalho. Alguém diria o contrário? Porque educar uma criança exige do adulto amor, firmeza, tempo, atenção, partilha de tarefas, exemplos que definem, de modos repetitivos, a essencial diferença entre direitos e deveres.

Os pais precisam dar limites. E isso tem que ser feito, senão é uma inafastável evidência de negligência, de um exercício materno ou paterno irresponsável.

Mario Sergio Cortella tem razão quando afirma que “precisamos de um amor que seja exigente. Não posso dizer para meu filho ou filha ‘eu o amo e, por isso, faça o que você quiser’. A frase correta é: ‘porque eu o amo, eu não aceito qualquer coisa’, ‘porque eu o amo, eu não quero que você faça as coisas deste modo’”.

A realidade não é feita apenas de felicidade. Porque a vida comporta momentos alegres e momentos sem cor, regras e limites precisam ser oferecidos à criança a fim de que ela desenvolva resiliência, autonomia e habilidades sociais. Para o bem da criança (e seu futuro) é fundamental que reflitamos sobre a nossa forma de lidar com comportamentos desafiadores e, se necessário, reestruturar as nossas ações segundo um caminho respeitoso e empático, que valida os sentimentos dos pequenos, sem deixar de cumprir o nosso papel de educador. Afinal, nas palavras de Içami Tiba, “existe o ‘sim’ e o ‘não’. O ‘não’ é importante porque, ao crescer sem ter ouvido essa palavra, os filhos espanam ao menor apertão, quando contrariados. Se tornam adultos sem senso de ética, gratidão, civilidade...”

Notinha

Diante de uma atitude desafiadora da criança (birra, por exemplo), em casa ou na rua, você pode firme e gentilmente explicar a ela: “Tudo bem você ficar chateado. Sentir isso faz parte da vida. Eu também sinto isso às vezes.” E continue: “– Como eu posso te ajudar?”, aguardando a criança se acalmar. Por fim, diga: “Eu sei que você queria este brinquedo. Talvez eu também me sentisse triste se estivesse no seu lugar, mas agora não dá para comprá-lo”.

Além disso, procure no dia a dia valorizar o bom comportamento. Por exemplo, quando a criança arruma os seus brinquedos sem ninguém lhe dizer nada, elogie-a.



Comentário

0 Comentários