Enquanto a chuva cai

A chuva batia forte na vidraça da janela.

Olhando a chuva cair, Pedrinho, de cinco anos, estava inconformado.

— Que droga! Não vou poder brincar no quintal hoje! — reclamava o garoto.

A mãe, que observava o filho, colocou-o no colo, e disse com carinho:

— A chuva é necessária, meu filho. Você sabe de onde vem nossa  comida? Por exemplo, o arroz e o feijão, de que você gosta tanto?

— Do supermercado!

A mãe sorriu, achando graça.

— Nós compramos no supermercado. Porém, antes de ser embalado e ir para o supermercado, o arroz e o feijão são sementinhas que alguém plantou, cuidou e depois colheu. Como as flores do nosso jardim.

— Ah! Eu sei, vem da terra.

— Isso mesmo. Mas para que a sementinha cresça, se desenvolva e produza grãos, ela precisa de água, da luz e do calor do sol. E de onde vem a água?

O menino pensou um pouco e respondeu:

— Já sei! Vem do rio!

— Certo. Vem dos rios e das nascentes. Mas, e antes disso?

O garotinho olhou para a janela e sorriu:

— Vem da chuva!

— Acertou. Vem da chuva. Então, se não chover, Pedrinho, os rios ficam sem água.

— Por quê? — perguntou o menino, na idade dos porquês.

— Deus, nosso Pai, quando criou o mundo, fez tudo tão direitinho que a água cai em forma de chuva, depois o calor do sol evapora a água e ela volta para o céu e vai formar as nuvens. As nuvens incham, incham, incham, até não aguentar mais. Ficam grandes e pesadas, e acabam despencando na terra, em forma de chuva!

O garoto olhava para a mãe com admiração. Ela sabia tudo! Ficou pensativo por alguns momentos, e voltou a perguntar:

— Mamãe, mas eu vi na televisão que as pessoas estão reclamando da chuva que virou rio e derrubou a casa delas. A chuva não é boa?

— A chuva é boa sim, meu filho. Precisamos de água para tudo. O problema é que têm pessoas que constroem casas em terrenos que não são seguros porque estão nos morros ou na beira dos rios.

— Mas ontem estavam falando de um lugar que não tem rio e que inundou assim mesmo!

— Isso pode acontecer por várias razões. Geralmente, porém, é que as pessoas jogam lixo nas ruas e entopem os bueiros. Precisam aprender a não jogar lixo no chão, mas no lixo.

— Fiquei com muita pena delas, mamãe. Vi crianças que não têm para onde ir; elas perderam a casa, perderam as roupas, perderam tudo. E pensei: Se eu estivesse no lugar delas, gostaria que alguém me ajudasse! Mamãe, eu quero ajudar essa gente. Posso?

— Claro que pode, querido. Vamos ver o que podemos fazer. Como eles precisam de muita coisa, temos que buscar a ajuda de parentes, vizinhos, amigos, qualquer pessoa que se disponha a colaborar.

Pedrinho, entusiasmado, tinha os olhos brilhando de animação.

A chuva havia parado, e ele não perdeu tempo. Saiu pela vizinhança falando com as pessoas. Telefonou para o pai pedir ajuda aos colegas de serviço; ligou para os seus tios, avós e amiguinhos. Depois, postou-se no portão, falando com cada um que passava pela calçada, fosse homem, mulher ou criança.

Os adultos achavam graça de ver um menino pequeno tão preocupado com um problema tão grande, e não se negavam a colaborar.

Dentro de pouco tempo, começaram a chegar doações: eram cobertores, roupas, calçados, brinquedos; camas, colchões, mesas, armários, fogões, geladeiras; água mineral, leite, arroz, feijão, farinha, enlatados, bolachas; enfim, tudo que as pessoas precisam para viver.

Um vizinho, dono de um grande caminhão, se prontificou a transportar todo o material. Então, uma semana depois, o caminhão saiu carregado com todas as doações rumo à região da enchente.

Pedrinho, vendo o caminhão partir, enquanto as pessoas batiam palmas, ficou tão emocionado que seus olhos umedeceram. A mãe o abraçou com ternura:

— Está feliz, meu filho? Tudo isso é obra sua! 

— Mamãe, como as pessoas são boas! Todas ajudaram. Meu coração parece que vai explodir de tanto amor e alegria. Ajudar as pessoas faz muito bem para a gente, não é?

E a mãe, comovida, concordou com o filho. Sem perceber, Pedrinho havia aplicado a lição de Jesus: fazer aos outros o que desejamos que eles nos façam.

Abraçou novamente o filho, enquanto as pessoas ali presentes acenavam para o caminhão que partia carregado de esperanças, e, ao chegar ao destino, iria renovar em muita gente a fé na bondade, na misericórdia e no amor de Deus. 

Tia Célia



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