Edouard Isidore Buguet

A fotografia dos Espíritos é um fenômeno em que, com a participação de um médium de efeitos físicos, depois de revelada a foto, a imagem de um Espírito é observada. Tal fato já tinha sido notado em 1861 com outros médiuns, no entanto com o fotógrafo francês Edouard Isidore Buguet ele tomaria uma nova dimensão.

Sua carreira como fotógrafo de Espíritos iniciou-se em 1873; um ano depois ele instalou um estúdio em Londres. Suas fotografias eram realizadas em transe mediúnico e foram atestadas como legítimas por várias pessoas sérias.

Buguet conhecia Leymarie, tendo-o inclusive fotografado, juntamente com o coronel Carré e um Espírito, que foi identificado por Leymarie como sendo seu amigo desencarnado Edouard Poiret.

A Revue Spirite, então dirigida por Leymarie, publicou em 1874 diversos artigos e fotos sobre o trabalho de Edouard Buguet e do médium e fotógrafo norte-americano Alfred Henry Firman. No entanto, Buguet vendia suas fotos e algumas teriam sido realizadas fraudulentamente, fatos que eram desconhecidos por Leymarie e que resultaram em um processo judicial conhecido como "Procès des Spirites" (Processo dos Espíritas), iniciado em 16 de junho de 1875 e movido pelo Ministério Público francês contra Leymarie, que publicou as fotografias na Revue Spirite, Buguet e Firman, os médiuns fotógrafos.

Buguet e Firman foram presos, acusados de fotografias fraudulentas, e Leymarie preso como conivente.

Amélie-Gabrielle, então com 80 anos, foi ouvida em juízo, pois procurou Buguet em 12 de maio de 1874 e conseguiu duas fotos em que Allan Kardec apareceu junto de Amélie. Em seu depoimento ela informou que procurou o fotógrafo de surpresa, sem qualquer aviso prévio, e que este a fotografou, apesar de estar doente. Na mesma chapa foram obtidas duas provas; na primeira Kardec sustentava, ao lado dela, um quadro branco onde estavam escritos agradecimentos a Amélie e Leymarie e um voto de coragem a Buguet. A secretária do médium francês, senhorita Ménessier, testemunhou que falsificara a letra de Kardec no referido quadro.

Amélie sustentou que a letra era de seu falecido esposo e que a funcionária estava mentindo. Como prova adicional a viúva informou que existiam duzentas cartas vindas do interior do país que comprovavam a mediunidade de Buguet. Amélie teve que tolerar as ofensas do juiz Milet, que, em seu interrogatório, tentou atingir o Espiritismo – o verdadeiro mas não declarado réu no processo.

O magistrado afirmou então que o nome Allan Kardec fora extraído de um livro de magia e que toda a sua obra foi baseada em livros de igual origem. Amélie refutou-o afirmando que tal nome era um pseudônimo e que todos os escritores utilizavam tal recurso. A determinação da testemunha irritou o juiz, que declarou: "Ele é um compilador, não é um literato. É um homem que praticava a magia negra ou branca. Vá sentar-se". Esse procedimento levou-a a se defender contra as ofensas pessoais, que em verdade eram estranhas ao julgamento; sua defesa foi anexada aos autos do processo.

Ao final, Buguet foi liberado à custa da negação de sua mediunidade e evadiu-se para a Bélgica. Firman foi liberado graças a influentes amigos. Leymarie permaneceu firme em suas convicções e por isso foi mantido em prisão celular.

Quando estava em Bruxelas, na Bélgica, o fotógrafo escreveu ao Ministro da Justiça francês informando-o da inocência do prisioneiro.

Extraímos do livro "Allan Kardec", de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, trecho da referida correspondência: "Lastimo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu à minha mediunidade, e peço perdão a Deus por este ato que deploro, pois que ele serviu para incriminar um homem estimável, cuja boa-fé se tornou suspeita com as minhas afirmações".

Apesar de tudo, a Suprema Corte francesa manteve-o preso por um ano na Prisão de la Santé. O relato de tais acontecimentos foi documentado por Marina Leymarie e depois publicado em um livro que recebeu o nome de "Procés des Spirites".



Comentário

0 Comentários