As três fases nas reuniões para jovens espíritas

Ao interagir com diferentes Casas espíritas e grupos de jovens, pude observar realidades e formas de trabalho variadas que sempre me despertaram atenção. Apesar de serem todos grupos espíritas, em alguns o trabalho acontecia com mais facilidade que em outros.

Sendo mais analítico no assunto, percebi que a quantidade de jovens não é parâmetro indicativo de qualidade nos trabalhos. Em algumas oportunidades participei de reuniões com outros 2, 3, 4 ou 5 jovens, cujo acolhimento, estudo e ambiente, me fizeram sentir no melhor dos lugares. Já outras vezes, mesmo acompanhado de dezenas de outros participantes, me vi assistindo a reuniões vagas, cheias de aplausos sem sentido e pouco instrutivas.

Se a quantidade de pessoas não é o segredo da qualidade, talvez a forma de estudo do Espiritismo fosse o diferencial, por isso parti em busca de grupos que aplicavam os mais diversos métodos.

No caminho observei grupos que realizavam leitura em livro e discussão das obras básicas, outros que contavam com recursos tecnológicos como datashow e apresentavam os temas como se fossem aulas, e ainda existiam aqueles que toda reunião era tema livre e que era estudado o que mais interessava aos jovens ou partiam para chamar convidados, passar vídeos, fazer dinâmicas ou tocar música.

Mesmo com didáticas diferentes, continuei observando grupos que me faziam querer participar sempre, enquanto outros eram um tormento (com reuniões chatas e cansativas). Logo imaginei que a resposta estava na organização do trabalho para jovens.

Busquei aproximar-me de diferentes dirigentes e ver como realizavam a organização dos trabalhos, como interagiam com a Casa Espírita, com os novos participantes e com o movimento de unificação. Nessa busca conheci pessoas adultas que dirigiam as reuniões de jovens; em outros casos o trabalho era todo organizado somente por jovens, e existiam ainda grupos com autonomia para tomada de decisões e outros que dependiam de autorização da diretoria da Casa Espírita até para limpar a mesa. Logo, não era essa a resposta que procurava.

Com o tempo e já cansado por ter visitado dezenas de Casas Espíritas (talvez centenas, é que nunca contabilizei essas coisas), pude encontrar um padrão nos trabalhos mais bem encaminhados.

A resposta se baseia na ideia de que, assim como as pessoas amadurecem enquanto indivíduos, os grupos também seguem um processo semelhante e devem ser estimulados.

Um grupo maduro não é aquele constituído pelas mesmas pessoas durante anos ou que contam com aqueles que ‘sabem tudo de Espiritismo’.

As características de um grupo maduro são:

- Existe um vínculo de amizade entre os participantes.

- Todos se enxergam com responsabilidade para o trabalho acontecer.

- Ninguém necessita ter mais autoridade que o outro.

- Todos reconhecem que podem ensinar e aprender.

- As mudanças são bem-vindas.

- Existe uma busca pela melhoria constante.

- As diferenças e os diferentes são respeitados.

- Todos se sentem seguros para falar.

- Ninguém monopoliza o espaço.

- A troca de experiências não acontece somente uma vez por semana na reunião de estudo, mas durante uma série de outras interações que vão surgindo ao longo da semana (geralmente nos grupos de WhatsApp).

- As situações de conflito são discutidas entre todos, sendo buscada uma solução coletiva.

- Todos se sentem apoiados e acolhidos, quase como uma família.

Participar de um grupo maduro é ter uma experiência leve, prazerosa, rica de conhecimento e que coloca em prática uma série de princípios ensinados pela doutrina espírita. São esses grupos que fazem a diferença, independentemente da quantidade de pessoas, forma de estudo ou organização.

Não são todos os grupos que conseguem atingir esse nível de cooperação, pois depende do esforço individual.  O processo de maturidade é gradual e pode ser facilitado com algumas mudanças simples.

Nas observações aos grupos mocidade espírita, principalmente naqueles que entendi serem os mais maduros, houve uma particularidade em comum na forma de estruturar as reuniões.

Os trabalhados eram divididos em três fases: Prece, acolhimento e estudo.

Prece: Feita ao início e final da reunião com o objetivo de criar uma sintonia maior com a espiritualidade e acalmar os participantes.

Acolhimento: Um espaço para todos se conhecerem, apoiarem e falarem. Uma prática comum é realizar a dinâmica da semana, onde cada participante fala como foi a última semana, o que aprendeu, quais foram os desafios, o que faria diferente ou o que foi difícil. É essa fase que gera conexão, que faz mesmo aquela pessoa tímida participar e que é um exercício de apoio e empatia, principalmente dando apoio para quem estiver enfrentando momentos difíceis.

Estudo: O estudo do Espiritismo seguindo o melhor modelo didático para aqueles participantes, e que utilize temas importantes para o espírito na fase jovem ter insumos para se desenvolver.

A tendência dos grupos pouco maduros é supervalorizar somente o estudo, construindo a reunião apenas com as fases prece e estudo, deixando de criar pontes entre as pessoas.

Enfim, longe de querer encerrar o assunto, essa é a visão de um trabalhador no movimento jovem espírita e que convida outras pessoas a fazerem a mesma análise e tentarem chegar em conclusões iguais ou diferentes.



Comentário

0 Comentários