A evangelização e a comunidade de aprendizagem - Marcus De Mario
Durante muito tempo, e em grande parte ainda persistindo, as atividades desenvolvidas pelo centro espírita, normalmente a cargo de departamentos ou setores, não se comunicavam, não formavam uma rede de serviços com troca de informações, experiências, conhecimentos e avaliações. Sempre foi normal, por exemplo, a reunião mediúnica acontecer num dia da semana à noite, e pelo menos parte da equipe participar apenas desse evento, não fazendo parte do grupo de estudo sistematizado, e, às vezes, nem mesmo conhecendo as demais atividades. E assim a evangelização infantojuvenil no fim de semana, o atendimento fraterno antecipando uma reunião pública de palestra, a assistência e promoção social em outro dia e horário. Como percebemos nessa rápida descrição, serviços realizados de forma isolada, sem diálogo entre si, perdendo-se oportunidades de enriquecimento das atividades e a formação de uma verdadeira rede cooperativa. Naturalmente não estamos generalizando, pois existem centros espíritas muito bem estruturados, com muito boa organização, onde essa rede funciona, mas é fato que muitos centros espíritas não conseguiram, e não conseguem, estabelecer o espírito de cooperação e interação entre seus frequentadores e trabalhadores, entre seus diversos departamentos ou setores.
Esse conceito de rede de serviços e de cooperação não é novo. Ele está implícito nos escritos de Paulo de Tarso, quando, em mais de uma oportunidade, refere-se às comunidades cristãs devendo as mesmas serem “igrejas vivas”, ou seja, comunidades dinâmicas, fraternas, a bem geral, onde todos devem se conhecer e trabalhar em comum pelo Evangelho. Nem sempre vemos isso nos centros espíritas, muitos dos quais vivem em torno do presidente, ou de um pequeno grupo de três a seis pessoas que tudo fazem, e esse não é o melhor modelo organizacional, pois não é participativo e fica na dependência de poucas pessoas que, por um motivo ou outro, podem não poder exercer suas funções, quer momentaneamente, ou em definitivo, e, nesse caso, o que vai acontecer com o centro espírita?
Especificamente na área da evangelização infantojuvenil, que agrega ou deveria agregar também os pais, avós e tios, ou seja, um trabalho integral com a família, o mínimo que se pede é que os evangelizadores se conheçam e se reúnam periodicamente para planejamento e avaliação das atividades, mantendo diálogo fraterno, construtivo. Isso é muito importante, mas não basta. O evangelizador tem que estar integrado no estudo sistematizado da doutrina espírita, e estar voluntariamente participando de alguma outra atividade, ou pelo menos tendo conhecimento dos diversos serviços que são desenvolvidos no centro espírita, buscando aprimorar seu conhecimento doutrinário e sua interação com as outras pessoas, das quais poderá recolher úteis ensinamentos, assim como poderá transmitir de sua parte o que sabe e o que já viveu. Assim teremos estabelecido no centro espírita uma rede de convivência, uma verdadeira comunidade de aprendizagem.
Estamos, até o momento, nos referindo a uma rede de convivência, verdadeira comunidade de aprendizagem, no âmbito interno do centro espírita, mas é necessário ampliarmos essa visão, pois como instituição humana, o centro espírita está inserido numa rua, que possui toda uma vizinhança, rua essa que está num bairro, que por sua vez faz parte de uma cidade. O que estamos dizendo é que o centro espírita não deve se manter isolado, deve também ser um agente comunitário, ofertando claramente seus serviços a todos os interessados. Para que isso aconteça, a comunicação é muito importante, iniciando por um letreiro externo que permita às pessoas saberem os dias e horários das atividades, passando pela distribuição de um folheto com a programação mensal e uma mensagem de esclarecimento e consolo. Na sequência, ouvir as pessoas para entender suas demandas, suas necessidades, adequando as atividades pertinentes, como os temas das reuniões públicas, para atender o que as pessoas estão procurando, lembrando que o Espiritismo toca em todos os ramos do conhecimento humano.
Certa vez, participando de uma roda de conversa com estudantes universitários não espíritas, em pleno curso de Psicologia, fomos submetidos a uma intensa e variada bateria de perguntas sobre os mais diversos assuntos, tendo oportunidade de verificar que para tudo o Espiritismo possui explicação, sempre de forma lógica, com base no estudo dos fatos, esclarecendo e consolando ao mesmo tempo. Tivemos ocasião de sentir a ansiedade dos jovens estudantes em conseguir respostas satisfatórias para suas dúvidas, para seus sonhos, e quanto eles se satisfizeram com o que a doutrina espírita lhes oferecia nas respostas que dávamos. E assim, no convívio com adolescentes e jovens, em mais de uma oportunidade vimos quanto ficaram maravilhados com a visão do Espiritismo sobre o ser humano e a vida.
O centro espírita não pode ficar parado no tempo, mesmo porque os tempos são outros. A sociedade humana evolui intensamente no conhecimento e na tecnologia, mas carece de um roteiro moral e espiritual seguro, que encontramos no Espiritismo, que em sua essência é doutrina de educação do espírito imortal e reencarnado, motivo pelo qual a evangelização espírita deve caracterizar-se como comunidade de aprendizagem e rede de convivência, promovendo a pessoa de bem, humanizada e espiritualizada, visando o futuro mais promissor da humanidade.
A você, que está na atividade da evangelização, e a você, que está exercendo um cargo diretivo no centro espírita, solicitamos um olhar mais atento para a importância da rede de convivência, e também da comunidade de aprendizagem, pois todos somos aprendizes da lei divina, e necessitamos do relacionamento com os outros para nosso progresso intelectual e, principalmente, moral.
Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui 40 livros publicados.

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