Verdade nua e crua - Arnaldo de Camargo

Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser. Goethe

É profunda essa reflexão de Goethe, escritor e filósofo alemão, que complementa: “O que o homem não entende ele não possui".

Dois exemplos comuns em nossa sociedade são a falta de ética e caráter, em vários sentidos.

A sociedade consumista estimula desde a infância os indivíduos a vencer, e quanto mais se empenha na conquista, mais se escraviza; a liberdade exige muito esforço, uma vigilância constante daquilo que nos aprisiona, seja material ou afetivo, e para alcançar essa meta temos que nos conhecer.

Conta-se que no final do século XIX surgiu uma parábola judaica referente à Verdade e à Mentira. Desde então a expressão “verdade nua e crua” nasceu e viaja o mundo todo.

A história diz que em um belo dia de sol limpo e admirável a Verdade e a Mentira se encontraram, e logo disse a Mentira para a Verdade:

– Hoje está um dia lindo e maravilhoso. Não está?

A Verdade deu um suspiro e olhou para o céu e teve de concordar, pois o dia estava realmente agradável.

E continuou a Mentira:

– Está muito calor hoje.

E a Verdade vendo que a Mentira continuava falando verdade, relaxou. E foi então que a Mentira convidou a Verdade para tomarem um banho refrescante num lago ali próximo. Despiu suas vestes, entrou na água e disse: – Venha, senhora Verdade, a água está uma delícia.

A Verdade ficou um pouco desconfiada, mas resolveu testar a água e descobriu que realmente a água estava muito, mas muito convidativa; desta forma elas, despidas, se banharam deliciosamente e começaram a brincar, ganhando a confiança uma da outra.

De repente, sorrateiramente a Mentira saiu da água, vestiu as roupas da Verdade e desapareceu dali a correr. Então, a velha Verdade, quando percebeu que tinha sido enganada, e que não tinha o que vestir, porque se recusava a vestir a roupa da Mentira, pensou, pensou, e decidiu que não tinha de se envergonhar, sairia dali assim mesmo: nua! E seria nua que iria caminhar na rua, até sua casa.

Todos criticam aqueles que expõem a verdade nua e crua e que olham para ela. Ninguém perguntou a razão daquela nudez. Aos olhos das pessoas, era mais fácil aceitar a Mentira vestida de Verdade, do que a Verdade nua e crua. Desde então muita gente mentirosa viaja ao redor do Mundo, vestida como a Verdade.

Nossa verdade, nós a colocamos em alegrias passageiras ou verdadeiras?

Só colhe quem planta: quem renuncia às satisfações pessoais em favor do aprimoramento moral e espiritual colherá, um dia, a felicidade plena.


Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é diretor da Editora EME.



Comentário

0 Comentários