Se o exemplo é a melhor divulgação, estamos muito mal
Paulo da Silva Neto Sobrinho, formado em Administração de Empresas e Ciências Contábeis, ambos na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, é natural de Guanhães (MG), mas reside desde 2011 na capital mineira, Belo Horizonte, em decorrência das oportunidades acadêmicas que a capital oferece aos seus três filhos. Além de ter presidido uma Casa Espírita e coordenado dois grupos de estudos, atualmente realiza palestras, pesquisas, bem como produções textuais através de artigos e e-books que podem ser vistos em seu endereço eletrônico www.paulosnetos.net
Em entrevista concedida gentilmente ao nosso jornal, Paulo Neto trata sobre o bom senso que, nós seres humanos, deveríamos ter para com a Doutrina Espírita, que merece de nós mais disciplina, mais estudo, forçando-nos ainda mais a aplicar os ensinamentos do Mestre, que o Espiritismo desenvolve e explica.
Em que momento ocorreu seu primeiro contato com a Doutrina Espírita?
Ingressei no movimento espírita em julho de 1987.
Houve algum acontecimento especial que propiciou este contato inicial?
Sim. Na época eu tinha relacionamento com uma pessoa que passava por sérios problemas de obsessão, e que foi orientada a procurar uma casa espírita. Procuramos um grupo aqui em Belo Horizonte que nos ajudou com muita dedicação. Passei a estudar e daí não mais saí.
Qual a reação de sua família ante sua adesão à Doutrina?
No geral sem grandes problemas, mas os que frequentavam igrejas evangélicas não gostaram muito da minha “conversão”, porém respeitaram a minha decisão.
Dos três aspectos do Espiritismo - científico, filosófico e religioso -, qual é o que mais o atrai?
Na minha opinião o Espiritismo é uma religião que tem como base a ciência e a filosofia. Então é esse o aspecto que deveria se destacar.
Que livros espíritas que tenha lido você considera indispensáveis aos irmãos que estão iniciando sua jornada?
Faz tempo que tenho observado o quase total desconhecimento dos espíritas da Revista Espírita e de A Gênese. Geralmente concentram os seus estudos em O Livro dos Espíritos e em três das quatro obras posteriores que explicam cada uma de suas partes – O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno. Essas, eis as obras que todos deveríamos conhecer, não apenas os iniciantes.
As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao Espiritismo laico. Para você o Espiritismo é religião?
Como disse, para mim o Espiritismo é uma religião. Lembro que o Espírito de Verdade, ao revelar o objetivo do Espiritismo, disse ao Codificador: “Deixará de haver religião e uma se fará necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador… Seus primeiros alicerces já foram colocados… Quanto a ti, Rivail, a tua missão é aí.” (Obras Póstumas).
Destaco também o discurso de Allan Kardec na Sociedade Espírita de Paris em 1º de novembro de 1868, no qual ele definiu de maneira clara e objetiva ser o Espiritismo uma religião, explicando o motivo pelo qual, no início, não quis qualificá-lo como tal. A impressão é que ele sentiu a necessidade de deixar bem clara essa questão, antes de desencarnar. Certamente, se o tivesse feito, não estaríamos aqui hoje conversando sobre o Espiritismo; esse morreria no nascedouro.
Como você vê a discussão em torno do aborto?
Diante do pensamento materialista que vigora na sociedade e o incentivo ao hedonismo, infelizmente, o que impera, em relação ao aborto, é lamentável ao se colocar o feto como se fosse um objeto descartável a qualquer tempo. Caberia às religiões instituídas esclarecer a seus adeptos quanto ao respeito à vida, assim talvez essa esdrúxula ideia seria banida de vez.
O movimento espírita em nosso País lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina Espírita?
Se o exemplo é a melhor divulgação, estamos muito mal. A falta de estudos, as acirradas divergências quanto a alguns pontos doutrinários, o endeusamento de médiuns e espíritos, o misticismo de muitos, quando percebidos pelo público, depõem negativamente contra uma doutrina na qual deveria imperar o bom senso, a lógica e a fraternidade.
A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?
Olhando em volta, a impressão que tenho é que esse fato, previsto pelos Espíritos superiores, ainda demorará um bom tempo para acontecer. Para ser bem otimista, julgo que em menos de cinco séculos ainda não teremos nos tornado um planeta de regeneração.
Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?
Concentrar todos os esforços para que a máxima de Jesus quanto ao amor ao próximo seja uma realidade e não letra morta, numa Bíblia aberta em um suporte que apenas serve como decoração.
A pandemia que o mundo enfrentou desde o início de 2020 alterou drasticamente o funcionamento das Casas Espíritas e inspirou a ampliação de muitas atividades on-line. Como você vê o retorno da Casa Espírita e seu funcionamento a partir do momento em que a Covid esteja inteiramente superada?
As atividades on-line com palestras e estudos abriu um novo horizonte para a Casa Espírita. A continuarmos nesse caminho ajudaremos a todos aqueles que por qualquer problema de natureza pessoal não possam se dirigir ao endereço onde ela está instalada.
Há tempos que tenho um sonho: os expositores falando de qualquer parte do mundo como convidado de uma pequena casa espírita. Basta para isso um computador, um projetor e a internet. Imagino quanto de custo seria reduzido com esse processo, fora a questão de atingir um público bem maior. Essa é a experiência que vejo com uma boa possibilidade de acontecer a partir do início de 2023.
Suas palavras finais.
Que possamos juntar esforços no sentido de edificar a doutrina cujos alicerces foram construídos por Rivail, contando com a assistência dos Espíritos superiores, para não nos afastarmos dessa meta.
Foi uma grata surpresa ter contato com os livros do Sr Paulo Neto É um estudioso que prima pelo zelo com os detalhes nos ensinando a fazer uma leitura mais cuidadosa de textos da doutrina espírita Tenho pontos aqui ou ali que meu entendimento diverge da sua interpretação Mas, sou grato as lições que ele nos trás
Conheço o Paulo a aproximadamente 20 anos, a maioria de seus 6 livros, 90 e-books e várias centenas de artigos. Além de um ótimo pesquisador, nos trazendo as exatas fontes, ele é um grande escritor, que com uma linguagem simples, faz-nos refletir quanto aquilo que acabamos de ler de autores do presente e do passado. Para mim, sem dúvida nenhuma, ele é um dos mais lúcidos escritores Espíritas que temos e acho que deveria ser mais reconhecido nacionalmente. Sem ter o intuito de fazer qualquer tipo de bajulação eu digo: "Obrigado Paulo Neto por ser meu amigo".