Qual o caminho? - Ricardo Forni
As histórias orientais sempre trazem material para boas reflexões direcionadas à evolução do ser imortal, principalmente enquanto mergulhado em novas existências que se manifestam como sendo a misericórdia do Pai ao filho pródigo frequentemente convidado ao retorno à Casa de origem.
Recordo-me de uma delas em que um homem encontrou um monge responsável pela limpeza do mosteiro a varrer o pátio do local.
Perguntou, então, a ele onde estava o caminho correto.
A resposta primeira foi a de que o caminho procurado com rota previamente traçada estava logo depois do muro do local que estava limpando.
O viajor não satisfeito com essa orientação esclareceu que o caminho que procurava não era aquele ao alcance de ambos, mas outro bem diferente.
O monge aprofundando sua orientação apontou para si mesmo dizendo que esse outro caminho ficava dentro de cada ser levando as pessoas aos lugares de sua livre escolha.
O caminho além do muro conduzia a locais comprometedores da segurança de quem o trilhasse.
O caminho de dentro, se bem conduzido, traria farta colheita de paz e de amor.
Joanna de Ângelis através da psicografia de Divaldo Franco no belíssimo livro Sendas Luminosas, LEAL editora, nos ensina, na página intitulada Caminhos, que a existência é assinalada por diversos caminhos que conduzem o Espírito por várias faixas do processo de evolução.
Há uma quase ilimitada possibilidade de escolha de roteiros para seguir; no entanto, selecionada a estrada, os resultados se tornam inevitável efeito da opção.
Por isso mesmo, todos são livres para selecioná-los e segui-los, não obstante se apresentem as consequências correspondentes como fenômeno natural, facultando o progresso ou criando-lhe embaraços que devem ser removidos em futuras decisões.
A imensa maioria da humanidade deseja dias melhores. Um mundo sem guerras. Um planeta com mais amor e menos indiferença pelas dores do outro. Um orbe onde possamos assistir a um progressivo aumento de justiça social e um menor índice de pessoas que perecem a fome.
É de concepção e desejo da maioria a existência de um lar onde o barco da nossa existência possa aportar de forma segura para o refazimento das forças do marinheiro cansado das ondas tempestuosas e ameaçadoras da navegação.
A alma em seu trânsito pelo planeta de provas e expiações deseja ardentemente pelo perdão do outro aos seus enganos, enquanto se nega à reciprocidade dessa ação.
O ser imortal tem ânsia de amor no recôndito de sua intimidade, desse mesmo amor que oculta do companheiro de jornada que lhe estende as mãos súplices por um abraço de bem vinda.
O leque de ofertas dos prazeres do mundo se abre em opções perigosas ao viajor incauto que se afasta das Leis de Amor que preenchem o Universo.
Na lavoura da Providência Divina onde a Terra é simplesmente um capítulo muito pequeno e breve, ninguém que semeie espinhos colherá a fartura de rosas.
O princípio do dar-se a cada um segundo as suas obras manifesta-se em nome da Justiça perfeita providenciando para que assim ocorra.
São muitos os caminhos fartos e variados que atendem à solicitação do orgulho, da vaidade e do egoísmo daquele que mergulha na existência física como se apoderasse de um tesouro do qual jamais tivesse que abrir mão.
No livro mencionado nas linhas anteriores, Joanna nos ensina que muitos são os caminhos da loucura, da paixão desenfreada, dos arroubos permanentemente juvenis a que se entregam as criaturas desajuizadas que ainda não experimentaram os encantos da autorrealização, da harmonia interior, do abandono de tudo quanto se dilui com facilidade, deixando profundas marcas de ressentimento e tédio, de amargura e remorso.
Sendo Jesus o psicoterapeuta por excelência, Ele apresentou-se como o Caminho que levará o Espírito reencarnado em direção da felicidade e da paz que tanto almeja, mas que procura por sendas tortuosas além do muro de si mesmo, orientado pelos sentimentos do orgulho, da vaidade e do egoísmo.
Ao se apontar como o Caminho, jamais o fez com a intenção de nos prometer facilidades. Pelo contrário, esclareceu que as vias largas da existência não conduziriam a boas colheitas. O percurso recomendável na estrada da existência era o estreito, repleto de obstáculos desafiadores para a vitória da consciência diante de si mesma.
Informou também que no mundo teríamos aflições, mas que confiássemos porque Ele havia vencido o mundo.
Talvez estejamos confundindo-nos na situação atual do planeta onde o joio está em processo lento, porém progressivo, de separação do trigo, procurando aflitivamente vencer no mundo.
A recompensa dessa atitude é praticamente imediata, em que os prazeres transitórios nos chamam como um canto de sereia a ludibriar o marinheiro incauto que passa a orientar a embarcação de sua existência em direções perigosas, onde irá colidir com os icebergs dos valores pequenos e velozes em sua dissipação.
O conhece-te a ti mesmo é o caminho árduo, porém seguro, para alcançarmos o abrigo da consciência pacificada e pronta para continuar a trabalhar na construção de um mundo melhor que se inicia dentro de cada trabalhador da vinha do Senhor.
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