Melhora da morte: por que alguns pacientes graves melhoram antes de morrer? - Ricardo B. de Oliveira
Profissionais de saúde, que atuam em hospitais, ou mesmo lidadores de casas de idosos têm, quase sempre, uma história relacionada a pessoas em grave condição de saúde, que apresentam uma surpreendente melhora antes da desencarnação.
No Reino Unido, uma pesquisa em 2008 com profissionais destas instituições apontou que 7 em cada 10 presenciaram casos de pacientes com demência ou confusão mental que melhoraram pouco antes de morrer.
Por que isso acontece? Há diversas hipóteses que tentam explicar o fenômeno, mas nenhuma delas foi comprovada até agora. Entre elas, (1) oscilações normais em pacientes graves, (2) uma reação química do corpo que funcionaria como um instinto de sobrevivência, (3) o acaso, e (4) o viés de confirmação, ou seja, pessoas morrem o tempo inteiro, mas acabamos lembrando de histórias surpreendentes de quem melhorou antes de morrer.
A maioria dos estudos e relatos sobre esse tema se concentra em pacientes com doenças neurodegenerativas, mas há registros de casos em pessoas que apresentavam tumores, abscessos no cérebro, meningite, doenças pulmonares em estágio avançado, coma ou acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo. E essa melhora súbita nem sempre ocorre às vésperas da morte. Em 2009, Michael Nahm e Bruce Greyson, pesquisador do departamento de psiquiatria e ciências neurocomportamentais da Universidade da Virgínia (EUA), levantaram 49 casos descritos na literatura médica.
A pequena amostra não permite conclusões profundas sobre o tema, mas dá algumas pistas do fenômeno ou da tendência dos pesquisadores de relatarem mais casos com essas características. Dos 49 casos, 43% foram de melhora súbita 1 dia antes da morte, 41% de 2 a 7 dias e 10% de 8 a 30 dias.
Fernandes, do Hospital das Clínicas da USP, aventa a hipótese, por exemplo, de o corpo emitir uma descarga de hormônios de estresse quando percebe que está próximo da morte, como uma situação conhecida como "luta ou fuga", que é a resposta fisiológica que funciona como uma espécie de instinto de preservação. Ele explica que, na fase imediata dessa situação, há uma liberação de adrenalina e outras substâncias que leva a mudanças no corpo, como aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, que melhoram o funcionamento de outros órgãos possivelmente comprometidos, a exemplo de uma melhor ativação neuronal e até da lucidez do paciente.
Afirma: "Isso pode ser na hora em que o corpo sente que está próximo de morrer. Ele então teria essa liberação, mas ela é transitória. E quando esses compostos se esgotam, o paciente piora e vem a falecer."
Outra hipótese aventada para o fenômeno passa pelo viés de confirmação, que é a tendência a procurarmos sempre por mais evidências que confirmem nossa opinião. Durante décadas, estudos sobre o viés de confirmação mostraram que é mais provável que a gente pesquise, preste atenção e se lembre de algo que valide nossas crenças. Nesse caso, o viés confirmatório teria um componente fortemente afetivo.
"O fato de serem histórias marcantes faz com que a gente hipervalorize a frequência delas na nossa memória e com isso a gente tenha a impressão de que se trata de algo muito mais frequente do que realmente é. E talvez seja essa explicação. Talvez sejam acontecimentos ao acaso que a gente simplesmente transforma em eventos", afirma Fernandes, do Hospital das Clínicas da USP.
A médica Suelen Medeiros e Silva, coordenadora do serviço de cuidados paliativos do hospital Sírio Libanês em Brasília comenta que flutuações de consciência fazem parte da trajetória de pacientes com doenças graves em contexto de fim de vida.
Ela diz:
"Há alguns dias em que o paciente está melhor e há alguns dias em que ele está pior. E pode ser que coincidentemente, de forma aleatória, aconteça algum tipo de melhora do quadro antes de vir a falecer, mas sem relação de causa e efeito. A gente tende a lembrar mais dos pacientes que melhoram, mas depois falecem, do que daqueles que melhoram e não falecem logo depois."
Na literatura espírita, encontramos em André Luiz uma explicação para a melhora antes da morte. Ela se daria por conta de uma intervenção espiritual, com o objetivo de libertar o moribundo das teias magnéticas criadas pelos parentes que retêm o Espírito ao corpo doente e irrecuperável.
O tema é abordado pelo autor espiritual em duas de suas obras: Os mensageiros e Obreiros da vida eterna.
No livro Os mensageiros, André apresenta o caso de Fernando, um senhor que se encontrava em coma, há vários dias, vítima de uma leucemia. Os familiares encontravam-se em grande aflição porque pressentiam a morte a qualquer momento. Como era uma pessoa querida por todos, os amigos encarnados o envolviam com energias inquietantes, uma verdadeira teia de vibrações que prendiam o Espírito, aumentando o sofrimento do doente.
O benfeitor responsável pelo passamento de Fernando comenta:
- A aflição dos familiares encarnados, aqui presentes, poderá dificultar-nos a ação. Observem como todos eles emitem recursos magnéticos em benefício do moribundo.
André prossegue comentando que de fato, uma rede de fios cinzentos e fracamente iluminados parecia ligar os parentes ao enfermo, quase morto.
- Tais socorros — tornou Aniceto — são agora inúteis para devolver-lhe o equilíbrio orgânico. Precisamos neutralizar essas forças, emitidas pela inquietação, proporcionando, antes de tudo, a possível serenidade à família.
E, aproximando-se ainda mais do agonizante, tomou a atitude do magnetizador, exclamando:
- Modifiquemos o quadro do coma.
Após alguns minutos o médico encarnado anunciou aos parentes do moribundo:
- Melhoram os prognósticos. A pulsação, inexplicavelmente, está quase normal. A respiração tende acalmar-se.
A melhora surpreendente tranquilizara a todos. E, aos poucos, os fios cinzentos que se ligavam ao enfermo desapareceram sem deixar vestígios.
O tema é examinado também no livro Obreiros da vida eterna, quando André descreve a desencarnação de Dimas, dedicado tarefeiro espírita. Seu desprendimento vinha sendo profundamente prejudicado pelo apego dos familiares, que, emitindo forças de retenção amorosa, prendiam o moribundo em vasto emaranhado de fios cinzentos, dando a impressão, segundo André, de peixe encarcerado em rede caprichosa.
O benfeitor Jerônimo comenta:
- Nossa pobre amiga é o primeiro empecilho a remover. Improvisemos temporária melhora para o agonizante, a fim de sossegar lhe a mente aflita. Somente depois de semelhante medida conseguiremos retirá-lo, sem maior impedimento. As correntes de força, exteriorizadas por ela, infundem vida aparente aos centros de energia vital, já em adiantado processo de desintegração.
Enquanto mantinha as mãos coladas ao cérebro de Dimas, propiciando lhe a renovação das forças gerais, Jerônimo aplicava-lhe passes longitudinais, desfazendo os fios magnéticos que se entrecruzavam sobre o corpo abatido. A melhora foi evidente, Dimas acalmou-se, respirou em ritmo quase normal, abriu os olhos fundos e exclamou, reconfortado: - Graças a Deus! Louvado seja Deus!
Em vista das melhoras obtidas, houve expansão de júbilo familiar. O médico foi chamado. Radiante, o clínico asseverou que os prognósticos contrariavam suposições anteriores. Renovou as indicações, dispensou os anestésicos e recomendou ao pessoal doméstico que entregasse o doente ao repouso absoluto. Dimas acusava melhoras surpreendentes. Era razoável, portanto, que a câmara fosse deixada em silêncio para que ele tivesse um sono reparador. Em breves minutos, o compartimento ficou solitário, facilitando o serviço. Logo a seguir, deu-se o desencarne de Dimas.
Fonte:
1- https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2021/06/20/
2- Os mensageiros, cap. 50
3- Obreiros da vida eterna, cap. 13
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