Médiuns e divulgadores espíritas midiáticos - Marcus De Mario
Um fenômeno dos novos tempos de mídias digitais de comunicação está acontecendo em relação à divulgação do Espiritismo: o surgimento de médiuns e divulgadores que utilizam as redes sociais com a publicação de vídeos que, em tese, são feitos para o esclarecimento sobre a Doutrina Espírita, mas que uma análise mais criteriosa e isenta mostra que, na verdade, servem para enaltecer a pessoa do médium e/ou divulgador, e para transmitir ideias pessoais, suposições ditas doutrinárias, além de críticas, veladas ou ostensivas, à doutrina e também ao movimento espírita, que nem sempre correspondem à verdade. Muitos se deixam levar pelo orgulho e pela vaidade, realizando um desserviço à causa que proclamam servir, gerando confusões e espalhando ideias errôneas, equivocadas, sobre o Espiritismo e sua aplicação na vida.
A internet e as redes sociais são muito bem-vindas, atestando o progresso da ciência e servindo para termos na humanidade comunicação e interação mais imediata, lembrando que essa tecnologia é, em si mesma, neutra, pois depende do que fazemos com ela, ou seja, depende do que programamos, publicamos e compartilhamos; assim, podemos utilizá-la para fomentar o bem ou o mal, conforme o livre arbítrio que todos detemos, motivo pelo qual lembramos que isso também é levado em conta pela lei divina quanto aos nossos méritos e deméritos na caminhada evolutiva. Como somos livres para estudar, pensar e divulgar o Espiritismo, é natural tenhamos posicionamentos às vezes contraditórios, em que as ideias nem sempre convirjam para o mesmo ponto, pois a faculdade de pensar com liberdade deve sempre ser defendida, e isso também acontece entre os espíritas, ou assim se considerem.
A questão que abordamos, e que consideramos de grave importância, é o uso indevido do Espiritismo nas redes sociais como trampolim para o sucesso pessoal, com flagrantes deturpações doutrinárias. Vamos a dois exemplos de nosso conhecimento, pois nada melhor que os exemplos práticos para bem ilustrar o que estamos abordando neste texto. Preservaremos os nomes, pois não é nossa intenção fazer crítica contra a pessoa ou instituição envolvida, e sim fazer considerações de ordem doutrinária para reflexão dos interessados.
Iniciemos com considerações sobre a postura de um médium, que alardeia pelas redes sociais suas faculdades mediúnicas, dando a entender que recebe comunicações dos Espíritos quando bem entende, como se os desencarnados estivessem ao seu dispor e às suas ordens, o que sabemos não ser verdade, pois os Espíritos têm mais o que fazer e não se sujeitam aos nossos caprichos e ordenações. Ainda diz receber comunicações de Espíritos de elevada ordem, as quais não passam pelos crivos da lógica, do bom senso, da razão e da universalidade do ensino dos Espíritos. Agravando a situação, faz estardalhaço sobre ter sido investigado cientificamente, o que teria comprovado sua autenticidade mediúnica, mas sem nunca dizer que investigações são essas, o que gera desconfiança sobre essa afirmação. Divulga pelas redes sociais suas viagens para apresentações de suas faculdades mediúnicas, em verdadeiros espetáculos públicos, onde faz a venda de livros por ele psicografados, entre outros materiais, sem jamais declinar para onde vai o dinheiro, supostamente para manutenção de instituição beneficente, a qual nunca é confirmada. Muitas pessoas, sem o devido conhecimento do Espiritismo, o idolatram, recebendo dele informações confusas, contraditórias e envolvidas numa aura mística, ou seja, tudo o que não tem a ver com o Espiritismo.
Vamos agora a outro exemplo, desta vez sobre um palestrante que adora tecer críticas às obras de Allan Kardec e ao movimento espírita, muitas vezes confundindo uma coisa com outra. De verbo claro e rápido, emenda conceitos uns após outros, em vídeos bem produzidos, fazendo caras e bocas, utilizando gesticulação teatral, não dando tempo para as pessoas pensarem, num aparente uso do raciocínio lógico, quando na verdade distorce informações e conceitos. Essa pessoa adora fazer afirmações sem nenhuma comprovação, nunca citando cientistas, pesquisadores, obras por eles publicadas, absolutamente nada, como, por exemplo, afirmar que a ciência já comprovou que a Bíblia é uma história inventada, Essa afirmação, dita com foros de verdade, é facilmente desmentida com a realização de uma pesquisa séria, pois se existem contradições e opiniões diversificadas entre os pesquisadores, não existe unanimidade, nem provas cabais, de que a Bíblia é um engodo, uma invenção. É, portanto, uma afirmação temerária e não apoiada pelo Espiritismo. Aproveitando ter muitos seguidores, está à frente de um instituto por ele mesmo criado, cujas realizações em nome da Doutrina Espírita deixam muitas dúvidas, e ninguém sabe ao certo como esse palestrante sustenta sua vida, gerando com isso muitas indagações sem resposta.
Esses médiuns e divulgadores chamamos de midiáticos, ou seja, sabem utilizar as redes sociais, as mídias de comunicação, para se autopromoverem, para se enaltecerem, mas fazem isso com a capa de defensores do Espiritismo. Com o tempo, muitos deles acabam sendo desmascarados ou vão sendo esquecidos e substituídos por outros, mas enquanto estão em ação, fazem considerável estrago, pois misturam ideias pessoais, achismos e suposições com a Doutrina Espírita, espalhando desinformação e fazendo muita confusão entre as pessoas que não têm um estudo mínimo sobre o Espiritismo.
Temos que nos precaver dessas pessoas midiáticas, nunca abrindo mão do raciocínio, do bom senso e do estudo sério e perseverante do Espiritismo, para sabermos separar o joio do trigo, não nos deixando levar por espetáculos e discursos que disfarçam o amor próprio, o orgulho e a vaidade.
Sejamos divulgadores sérios, compenetrados da responsabilidade em esclarecer e consolar através da imortalidade da alma e da reencarnação, sempre com toda humildade, pois todos passaremos, mas a verdade que o Espiritismo traz, essa ficará para sempre no seio da humanidade.
Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui 39 livros publicados.
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