Evangelização e Arte: Caminho que conduz a Deus

“Ide e evangelizai a todas as gentes…” (Mt. 28:19.)

As palavras do Cristo, transcritas na passagem bíblica do apóstolo Mateus, nos remetem ao entendimento da importância da evangelização, do compartilhamento do saber, da propagação da boa nova, destinada a todos os povos, a qual se iniciava.

Certo. Mas... que é Evangelizar e o qual o papel do Espiritismo?

Em grego, o verbo “evangelizar” é utilizado para resumir a expressão “anunciar boas notícias”. Dessa forma, a Doutrina Espírita é um desses veículos utilizados pelo Cristo para a propagação dos seus ensinos, a Boa Nova. Muito bem, quem não gosta de receber boas novas? Portanto, o Espiritismo não se restringe a um povo, cultura ou faixa etária. Seu conhecimento de caráter universal destina-se a todos aqueles que buscam um significado, um sentido na existência física e espiritual, através do seu gradativo progresso moral e intelectual.

Na infância a doutrina é levada às crianças através dos primeiros sentidos de moralidade, convívio e bem-estar social, respeito às diferenças e o caminhar da existência do espírito, no entendimento da vivência espiritual. Envolve a fase muito acolhimento e atenção, aproveitando temas diversos, como família, ecologia, a prece, não existência da morte, conhecimento sobre Deus etc. Abarcando também a família da criança, sempre que possível a estar próxima dos trabalhos desenvolvidos.

Na juventude, ou a chamada Evangelização Juvenil, a personalidade do Espírito, já firmada em suas tendências morais, traz a necessidade de ampliar horizontes em direção da filosofia espírita, imortalidade do espírito e suas experiências reencarnatórias. Estruturada em atividades de grupos, os jovens reflexionam assim, sobre suas atitudes, sentimentos, inclinações, escolhas, convivência familiar e visão de mundo, que lhe são apresentadas e acentuadas pela vida em sociedade e suas diversas experiências.

Na fase adulta, por meio do instrumento do estudo doutrinário, traça-se o caminho do autoconhecimento, desafio guiado pelo Espiritismo na vivência do espírito consciente da sua natureza e passagem no mundo físico.

Todo esse processo é gradativo e tem por base o despertar da consciência em conformidade a cada fase da vida.

O espírito progride lentamente. A cada reencarnação adiciona uns poucos traços às suas características individuais. Para reconhecermos um pouco de nós mesmos é preciso muita sinceridade íntima, é preciso analisar profundamente a si mesmo. Porque a maior parte do que acreditamos serem nossos valores e crenças são apenas aspectos transitórios, que abandonaremos antes de assumirmos um novo papel na matéria, antes de reencarnarmos da próxima vez. (WILKON, 2013).

Arte que é bom, até agora não falou nada...

Calma, chegaremos lá!

Não precisamos dizer o que é arte, não é mesmo? fazemos isto desde pequenos! A criança nos seus primeiros anos de vida tem na arte as suas maiores expressões, o ato de desenhar, cantar e dançar são parte de muitas brincadeiras. Os desenhos no papel, riscos e rabiscos coloridos que traduzem suas emoções, alegrias e experiências. Alguma criança já lhe contou uma história sobre o desenho que fez? Não?! Pois então, sente, brinque, desenhe com ela. Depois de alguns traços no papel escute o que ela tem a dizer, mergulhe com ela num mundo de imaginação, no “mundinho” dela, e no final estará sorrindo sem nem perceber.

Sem se dar conta a arte os uniu.

E é aí que está a beleza da arte como forma de expressar sentimentos. Todos nós neste mundo de provas e expiações trazemos necessidades emocionais, as quais precisam ser trabalhadas para uma vida equilibrada e saudável.

Vivemos em uma época onde a tecnologia se faz presente como em nenhuma outra época da história. A comunicação superou a barreira da distância, somos capazes de praticamente falar com qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta, mas por vezes, não conseguimos ser realmente quem somos dentro da nossa própria casa ou poder falar abertamente com nossos familiares e amigos sobre o que sentimos. Somos capazes de escrever lindas mensagens, demonstrar “amor” para desconhecidos ou “amigos virtuais” e não somos capazes de perceber uma lágrima no olhar do outro, daquele próximo de nós, do nosso convívio. Os jovens estão se desenvolvendo sem a necessidade do contato uns com os outros, e sem esse convívio isolam-se, alimentando medos, frustrações e sentimentos negativos represados.

Então como fazer?

Evangelizar através da arte é tocar corações, educar sentimentos.

Desejamos falar, ouvir e ter voz para expressar as nossas dores, angústias, tristezas, alegrias, conquistas e etc. A Evangelização Infanto-Juvenil é este espaço onde a criança e o jovem podem vivenciar por meio da troca de experiências essas emoções.

A “boa arte” traz esse caminho, percebem?

Música

“A música, melhor que a palavra, representa o movimento, que é uma das leis da vida; eis por que a música é a própria voz do mundo superior”. (DENIS, 1922, p.78).

Me diz uma coisa, o seu gosto musical revela algo sobre você? Já escutou uma música romântica quando estava triste? Ou esteve feliz e ficou com vontade de cantar? Foi arrumar a casa e colocou uma música pra ajudar? É Exatamente isto!

Por meio da música percebemos o estado emocional em que nos encontramos. A boa música toca o coração, desperta os sentidos do corpo, o ritmo, a forma de expressar, a melodia que eleva o pensamento e desperta emoções. Alguns exemplos da aplicação da música na evangelização estão na meditação, na prece, no relaxamento, nas atividades em grupo para reflexão, análise das letras e mensagens, percepção do pensamento e do estado emocional.

Dança e Expressão Corporal

A dança é a demonstração de um sentimento desperto. Pelos movimentos do corpo que se envolve num ritmo, este passa uma mensagem através da beleza, da saúde, do equilíbrio da harmonia das formas em movimento, mostrando respeito e admiração, utilizando os potenciais físicos em prol de nosso aprimoramento emocional e moral. A dança é instintiva, não existe uma forma certa ou errada de dançar, deve-se deixar levar pelos movimentos que surgem e te colocam em harmonia. A expressão corporal leva o indivíduo a perceber-se, sentir e observar seu corpo, o que ele oferece, suas capacidades, limitações, o que te incomoda ou o que te satisfaz.

“Esta Arte do movimento deve ser intensamente sagrada por se utilizar do corpo como ferramenta de atuação. O corpo é instrumento divino, indispensável para a nossa evolução espiritual.” (BAZZOTTI, 2012).

Exemplos na evangelização são a dança livre, Flash Mob, passos de Street Dance, apresentações de dança com passos clássicos, rodas de dança, na expressão corporal observar as mensagens do seu corpo, pontos de tensão, respiração e movimento e etc.

Poesia

A poesia é um tipo de texto onde o autor expressa diretamente sentimentos e visões pessoais, sobre assuntos diversos de sua preferência. Neste caso, a voz é manifesta na poesia, e assim, através desse meio os jovens, por vezes, conseguem expressar seus sentimentos de forma que não se sintam expostos e ao mesmo tempo podem ser compreendidas suas emoções. (DIANA, 2012).

Uma excelente forma de aplicar na Evangelização é com uma Oficina de Poesia, estimulando-os através da imersão ao universo poético, seja por textos, poemas famosos, vídeos e etc., vai motivando uma emoção até o indivíduo conseguir colocar no papel em forma de poesia.

Teatro

O Teatro é uma forma lúdica de passar uma mensagem. A prática teatral já tem sido utilizada nas áreas de ensino, em algumas aulas sobre a Doutrina, como veículo de motivação e fixação do aprendizado de crianças, jovens e adultos.

O teatro pode inclusive englobar as expressões artísticas já citadas aqui como o canto, a dança, a poesia, a expressão corporal!

Na evangelização usamos Esquetes, Montagens e pequenas apresentações onde o jovem possa passar uma mensagem através da alegria e da confraternização.

E Finalmente, como uso tudo isso?

A introdução à arte deve ser gradativa e respeitando o espaço do outro. Em um grupo sempre existem diferentes perfis, e no caso de crianças e jovens devemos observar também que estes estão em uma fase mais suscetível a opinião daqueles que são próximos, o seu círculo de amizades. Além disso, a arte é de caráter subjetivo, a leitura de uma poesia por exemplo pode despertar diferentes sentimentos, inclusive a indiferença. Uma música de cunho ofensivo, sexual e etc., pode ser mais atraente para uma pessoa que um arranjo clássico e vice-versa. Kardec (2004, p. 350-352) já tratava essa questão nas perguntas 565 e 567 de “O Livro dos Espíritos”, conforme vemos abaixo:

565. Atentam os Espíritos em nossos trabalhos de arte e por eles se interessam?

“Atentam no que prove a elevação dos Espíritos e seus progressos.”

567. Costumam os Espíritos imiscuir-se em nossos prazeres e ocupações?

“Os Espíritos vulgares, como dizes, costumam. Esses vos rodeiam constantemente e com frequência tomam parte muito ativa no que fazeis, de conformidade com suas naturezas. Cumpre assim aconteça, porque, para serem os homens impelidos pelas diversas veredas da vida, necessário é que se lhes excitem ou moderem as paixões.”

Com as coisas deste mundo os Espíritos se ocupam conformemente ao grau de elevação ou de inferioridade em que se achem. Os Espíritos superiores dispõem, sem dúvida, da faculdade de examiná-las nas suas mínimas particularidades, mas só o fazem na medida em que isso seja útil ao progresso. Unicamente os Espíritos inferiores ligam a essas coisas uma importância relativa às reminiscências que ainda conservam e às ideias materiais que ainda se não extinguiram neles.

Acredite, algumas pessoas não tiveram a oportunidade de ter o contato com a boa arte. Por isso é imprescindível entender que a arte é um complemento ao acolhimento e direcionamento dentro do contexto da Evangelização.

Quer um exemplo prático de como unir tudo isso?!

Arte e JEAL uma História de Amor!

Na Juventude Espírita André Luiz (JEAL), fazemos da arte uma aliada na formação e desenvolvimento dos jovens, principalmente no âmbito emocional. O tema do ano de 2019 é o próprio título deste artigo Evangelização e Arte: Caminho que conduz a Deus.

Num processo gradativo ao longo dos anos temos estabelecido atividades mensais e compromissos do aprendizado doutrinário na sua expressão artística, com a realização de atividades, como a apresentação anual no aniversário da casa com grupos de Dança, Coral e Teatro, e com a realização a cada dois anos do Seminário da Juventude que é planejado e posto em prática pelos próprios jovens. No ano de 2018 tivemos a sua 9ª edição, com o tema “#boraconversar: Está na Hora de falar sobre suas emoções”, onde tivemos um dia de confraternização e interatividade por meio da arte, com apresentações abertas a outras juventudes e ao público em geral. (imagem na galeria de fotos)

Fonte: Instagram da JEAL. [1]

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E para finalizar deixo aqui as palavras de Léon Denis sobre o assunto:

“A Arte bem compreendida é poderoso meio de elevação e renovação. É a fonte das mais puras alegrias; ela embeleza a vida, sustenta e consola nas provas. Quando ela é sustentada, inspirada por uma fé sincera, por um nobre ideal, a arte é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e aperfeiçoamento”. (DENIS, 1922, p.21).

Abraços fraternos!

 

Referências:

WILKON, M. Felipe. Espiritismo e autoconhecimento. 2013. Disponível em <http://www.espiritoimortal.com.br/espiritismo-e-autoconhecimento/>. Acesso 03 Mar. 2019.

DIANA, DANIELA. O que é Poesia?. 2012. Disponível

Em: <https://www.todamateria.com.br/o-que-e-poesia/> Acesso 03 Mar. 2019.

DENIS, Léon. O Espiritismo na Arte. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014. 

BAZZOTTI, Cecília. Estudos com enfoque na Dança e o ensinamento dos  Espíritos Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Ivone do Amaral Pereira e Camilo Cândido Botelho. 2012. Disponível em:<http://ceciliabazzottiarte.blogspot.com/2012/07/blog-post.html>. Acesso: 09 Mar. 2019.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2004. Disponível em:<https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/135.pdf>. Acesso 15 Mar. 2019.

 

[1] Disponível em:<https://www.instagram.com/p/BmuIhrEFDF7/>. Acesso em: 15 Mar. 2019.