Em paz com a vida - Jorge L. de Oliveira
Juanita Nittla é enfermeira-chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Royal Free de Londres. No ano passado, ela contraiu tuberculose e ficou afastada do trabalho durante alguns meses. Ainda assim, neste ano, atua intensivamente, com sua equipe, nos cuidados de pacientes da Covid-19 que necessitam respirador.
Entretanto, o número de respiradores é insuficiente ao atendimento de todos os infectados, e ela precisa tomar decisão difícil, recomendada pela equipe médica: desligar o respirador dos pacientes inconscientes e sem reação positiva ao tratamento médico, pois outros enfermos com esperança de cura aguardam um respirador. Essa é uma desencarnação, segundo ela, indolor, mas triste e solitária, pois os parentes da vítima não podem presenciar seu decesso. A morte silenciosa é presenciada apenas pela equipe de saúde da UTI.
Calcula-se que, atualmente, no mundo, mais de 140.000 pessoas já tenham morrido por contaminação desse vírus. Esse número ainda pode quintuplicar, ou aumentar muito mais do que isso, até surgir uma vacina para imunização das pessoas.
A morte do corpo, fenômeno que precede o que os espíritas chamamos de desencarnação, nada mais é do que o abandono de um revestimento temporário, formado pelo corpo espiritual de cada um de nós, o perispírito, que conserva sua aparência, pelo tempo que o Espírito precise, no mundo espírita. É também nesse mundo que se encontram nossos parentes e amigos que nos antecederam ou até mesmo ali permaneceram antes de reencarnarmos. E, assim como ao reencarnarmos, somos recebidos com alegria pelos familiares e amigos daqui, ao desencarnarmos, somos acolhidos com não menor contentamento pelos d'além...
Não há por que, pois, temer a morte. Oremos pelos que se vão para o outro lado da vida, mas também pelos que ficam. Vivamos com a consciência tranquila e, ainda que aparentemente morramos sós, estaremos apenas desencarnando em paz e cercados da companhia dos amigos do mundo real, que antecede e sucede a este: o mundo espiritual.
Para os que imaginam que chegamos ao fim do mundo, o poeta português Runa brinda-nos com este belo poema intitulado:
O mundo não acaba hoje
o nevoeiro dissipou-se
como por encanto
mas o céu continua escuro
e insondável
um veludo carregado
movendo-se lentamente
da esquerda para a direita
atrás de um destino incerto
é o último dia do calendário maia
vejo tudo isto da minha varanda
falésia de cimento
cercada pela manhã baça
à espera que aconteça alguma coisa
um sinal qualquer que me arrebate
mas não posso continuar a olhar o céu
está na hora de me vestir
e ir embora para o trabalho
o mundo não acaba hoje.
RUNA. O mundo não acaba hoje. Disponível em: http://seguindooes coardotempo.blogspot.com. Acesso em: 20 de abril de 2020.
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