Criança precoce - Juan Orozco

Esta reflexão abordará, sob a ótica da Doutrina Espírita, criança que evidencia na infância atitudes, comportamentos, experiências, habilidades e talentos, conhecidos como precoces para a pouca idade, com admirável capacidade e aguçada inteligência em áreas dominadas por adultos.

Não será objeto desta reflexão a precocidade na infância de comportamentos, sentimentos e atitudes como manifestações viciosas da inferioridade do Espírito, oriundas de existências anteriores, pois conduziria para outra temática. Mesmo porque, em certas crianças, o instinto precoce poderá se revelar para os vícios como para as virtudes, com sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram. O que se tratará é a precocidade relacionada a um certo grau de evolução moral, intelectual e espiritual.

Waldehir Bezerra de Almeida, no livro A criança: à luz do Espiritismo, no “Capítulo 7 - Criança precoce”, expressa que a criança precoce é “... aquela que apresenta habilidades e/ou quociente intelectual não compatíveis com a sua idade cronológica. Precoce é toda criança que amadurece moral e intelectualmente antes do tempo normal, que muito cedo demonstra capacidade de realizar coisas que seriam próprias de crianças mais velhas ou mesmo de adultos.”

Em seguida, lista algumas características desse tipo de criança:

“- Linguagem precoce, com vocabulário avançado para sua idade;

- Habilidade de leitura e escrita em tenra idade;

- Ritmo de aprendizado rápido;

- Curiosidade e interesses diversos;

- Capacidade de concentração e boa memória;

- Habilidade em gerar ideias originais;

- Grande bagagem de informações sobre temas de interesse;

- Perfeccionismo na realização de tarefas, por isso prefere fazer trabalho independente;

- Senso de justiça exacerbado, questionando regras e autoridade;

- Paixão por aprender, demonstrando persistência em tudo que faz;

- Lembranças de fatos que não se deram na vida atual;

- Sonhos bastantes lógicos e incomuns para sua idade.”

O autor comenta: “Por tudo isso, a precocidade ou a prodigalidade em criança levanta muitos questionamentos por parte de pais, familiares e educadores”.

Waldehir Bezerra busca resposta no livro O que é o Espiritismo, de Allan Kardec, no Capítulo 3, para a questão 118: Qual a origem das ideias inatas, das disposições precoces, das aptidões instintivas para uma arte ou uma ciência, abstração feita da instrução?”

Parte da resposta é: “... As ideias inatas são o resultado dos conhecimentos adquiridos nas existências anteriores e que se conservaram no estado de intuição, para servirem de base à aquisição de novas ideias. (...) Sendo assim, podemos inferir que os filhos podem ser mais avançados moral e intelectualmente do que seus próprios pais.”

Nesse aspecto, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, na questão 197, se “Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade”, a resposta é: “Algumas vezes o é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.”

Na pergunta seguinte, “Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?” A resposta é: “Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”

Nesse aspecto, Waldehir Bezerra comenta: “Ensinam os Espíritos que as faculdades extraordinárias das crianças e sua elevação moral são conquistas do Espírito em outras existências e que aquelas estão inscritas no seu inconsciente profundo, ou seja, na memória espiritual, manifestando-se logo na infância. A prodigalidade intelectual de certas crianças, voltadas para as ciências e artes, não passa de lembranças do que já aprenderam em vidas pregressas.”

E acrescenta: “A pluralidade de existências esclarece racionalmente a diversidade de caracteres e a diferença das aptidões entre as crianças, muitas vezes sendo elas da mesma família.”

Na mesma direção, no livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, em “Regeneração da Humanidade”, temos noção do choque de gerações em que se poderá perceber diferenças de progressos moral e espiritual no período de transição planetária:

  • As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e modos de ver inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo pelas disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir à qual das duas pertence cada indivíduo.

Tendo de fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão, em geral, precoces, juntas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá tão-só de Espíritos eminentemente superiores, mas de Espíritos que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.”

Nessa mesma linha de pensamento, Waldehir Bezerra comenta: “A criança é um Espírito adulto, com erros e acertos, que retorna à carne para se aperfeiçoar, fazendo o uso do livre-arbítrio. (...) Desse modo, a criança, na ótica reencarnacionista, é um Espírito que traz consigo um patrimônio moral que lhe marca a individualidade. Ela é portadora de uma aparelhagem física herdada dos genitores, mas com o fantástico registro de experiências passadas, em outros corpos, que ficaram gravadas no seu perispírito, corpo espiritual indestrutível. Retorna o Espírito na condição de criança, esperançoso de sua recuperação, na grande maioria das vezes, pela doação do amor e da energia educativa dos seus pais.”

Assim, não será difícil perceber, atualmente, em uma criança precoce a eclosão de atitudes, comportamentos, experiências, habilidades e talentos que evidenciam marcante estágio evolutivo de vidas anteriores, que as gerações mais antigas somente realizaram bem mais tarde.

Contudo, por mais precoce seja o Espírito de uma criança, ela terá que passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza, para cumprir o seu caminho evolutivo.

“Deus criou iguais todos os Espíritos, mas cada um destes vive há mais ou menos tempo, e, conseguintemente, tem feito maior ou menor soma de aquisições. A diferença entre eles está na diversidade dos graus da experiência alcançada e da vontade com que obram, vontade que é o livre-arbítrio. Daí o se aperfeiçoarem uns mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. Necessária é a variedade das aptidões, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais.” (Resposta à Questão 804 em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec)

Além disso, “ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala. Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida atual, tanto menos longas e penosas lhe serão as provas que se seguirem.” (Resposta à Questão 192 em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec)

Bibliografia:

ALMEIDA, Waldehir Bezerra de. A criança: à luz do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2023.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.



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