CELE (Centro Espírita Luz Eterna): Da estrebaria à mansão
Poucos momentos históricos ocorreram há 77 anos. No ano de 1947, a Índia, a maior colônia britânica, se tornou independente e foi dividida em duas nações, a Índia e o Paquistão. O secretário de Estado dos EUA, George Marshall, anunciou o Plano Marshall, que visava à reconstrução da economia europeia e o combate à fome e à pobreza. O transístor foi inventado nos Laboratórios da Bell Telephone por William Shockley, John Bardeen e Walter Brattain, um feito que permitia controlar o fluxo de eletricidade em circuitos eletrônicos, amplificando ou atenuando a intensidade da corrente elétrica.
Enquanto isso, algo também importante aconteceu: no dia 4 de abril do mesmo ano, em Curitiba, capital paranaense, o CELE (Centro Espírita Luz Eterna) foi concebido e, diferente de todas as instituições espíritas brasileiras, o CELE nasceu em uma estrebaria, desativada e adaptada, é claro. Alguns meses depois, a estrebaria ficou pequena para receber o número crescente de frequentadores, migrando a sede da instituição para um porão, quando os irmãos Sinibaldo, Geraldo e Mirtilo Trombini, membros de uma respeitadíssima família paranaense, receberam a visita de um velho amigo e confrade, Antônio Gonçalves Filho, mais conhecido por Toni. O encontro foi na antiga Casa Raymundo, uma casa comercial de propriedade dos irmãos Trombini, situada na então Avenida Pilarzinho, hoje Avenida Desembargador Hugo Simas.
Os quatro eram velhos conhecidos de Morretes, litoral paranaense, onde iniciaram juntos suas lides espíritas. No bate-papo que se seguiu, surgiu a ideia de uma sessão mediúnica. “Aceita por todos e efetivada minutos após com resultados confortadores”, diria mais tarde Sinibaldo Trombini, no 25º aniversário do CELE. “Passados dias, nós, os irmãos Trombini, sentimos a necessidade de novas reuniões, concretizadas já com convites a companheiros e amigos. Faltava uma sala para abrigar, tempos depois, mais de duas dezenas de praticantes. Surgiu então a ideia de transformarmos a velha estrebaria, existente na dita Casa Raymundo, em um salão que, mesmo precariamente, pudesse atender as reuniões do grupo em formação”.
Quatro meses se passaram e, em 1º de agosto de 1947, na presença de muitas pessoas, era organizado o “Centro Espírita Luz do Céu, Luz Eterna”, denominação sugerida por espíritos comunicantes e prontamente aceita por todos. Escolhida e empossada a primeira Diretoria, a proposição apresentada a seguir e aprovada de imediato foi a filiação do Centro à Federação Espírita do Paraná. Mais alguns meses e, não mais sendo possível manter o Centro na estrebaria, o Sr. Augusto Suckow ofereceu os porões de sua propriedade, também casa comercial, situada em frente da Casa Raymundo.
Somente nas festividades do primeiro aniversário, festejado a 4 de abril de 1948, surgiu a ideia da compra de um terreno para instalação definitiva da sede do CELE. O negócio foi concretizado com a ajuda da Federação Espírita do Paraná.
O CELE iniciou suas atividades organizando um grupo de estudos da doutrina e prática da mediunidade. Parece que desde o início sua principal vocação foi o estudo doutrinário. Poucos dias depois, foram organizados dois grupos de atendimento mediúnico, com passes e receituário. Finalmente, em 9 de maio de 1952, o CELE enveredava pela sua terceira vocação: a promoção social. Na época, foi fundada a União Assistencial Dr. Joaquim Trajano dos Reis, que funcionou durante três anos e foi sucedida pela União Assistencial aos Necessitados – UAN. Em 1971 as atividades de promoção social do CELE passaram a ser desenvolvidas como um departamento do Centro.
Com a missão de praticar e difundir a Doutrina codificada por Allan Kardec com seriedade e responsabilidade, o Centro Espírita Luz Eterna valoriza os três pilares do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião, bem como o estudo como fonte de reflexão e obtenção de novos conhecimentos e prática efetiva do bem, do amor e da caridade.
UM PERÍODO DE MUDANÇAS
Por volta de 1965, o Centro Espírita Luz do Céu, Luz Eterna passou por profundas modificações. Sinibaldo Trombini nos conta como foi: “Em palestra com nosso companheiro Hugo Marçal, soubemos da existência de um grupo de espíritas jovens que necessitavam de um local para se reunirem e se dedicarem à doutrina espírita. Conversamos com o mano Geraldo, e com os irmãos Arthur e Rubens Mômoli, para acolhermos em nosso Centro esse grupo, a fim de provocarmos uma renovação que somente poderia beneficiar-nos. Já éramos conhecidos como ‘donos do Centro’, pois a referência para esta casa era ‘Centro dos Trombini’. Isso não ficava bem. O fato é que, um grupo de jovens dinâmicos, citando-se, principalmente, Alexandre Sech, Célio Trujilo Costa, Neuton e Ney Paulo de Meira Albach, Hilton Gomes da Silva, Maria Tereza Albach, Maderli Silveira Sech, Teinar Alice Alves Costa, somando-se a alguns frequentadores antigos, como os Trombini, os Mômoli, Luiz Gobel Júnior e Anna Aurélia Born Gobel, passaram a imprimir ao CELE suas características, que perduram até hoje.
As mudanças começaram a sentir-se com a modificação do nome da instituição para Centro Espírita Luz Eterna, com a elaboração de novos Estatutos e com a reorganização geral dos trabalhos mediúnicos. Foi criada a Escola Espírita de Evangelização, que funciona até hoje com a denominação de Infância Espírita, e a Mocidade Espírita Obreiros do Bem, posteriormente, Mocidade do Centro Espírita Luz Eterna.
Em reunião de Diretoria de 24 de abril de 1966, Neuton de Meira Albach apresentou a sugestão para criação de uma “Escola de Médiuns”. Em 10 de junho de 1968, falou-se pela primeira vez em fazer um centro de estudos sobre mediunidade. Finalmente, em 6 de fevereiro de 1970, iniciou-se o Centro de Orientação e Educação Mediúnica – COEM, sem dúvida a maior contribuição do CELE para o movimento espírita.
Mas, antes da elaboração definitiva do COEM, vários programas teóricos foram iniciados, reaproveitados posteriormente, em 1981, na elaboração do Programa Básico de Doutrina Espírita – PBDE, outra grande contribuição do CELE. Paralelamente a isso, o CELE elaborou, aplicou e publicou “Seminários sobre o Passe”, “Seminários para Dirigentes de Trabalhos Práticos” e outros trabalhos.
Além disso, as sucessivas gerações de jovens da Mocidade do CELE tiveram intensa participação no Movimento Espírita, colaborando na criação do Programa de Estudos da Doutrina Espírita Para as Mocidades – PEDEM (1972), com ampla repercussão; publicação de jornais como “Evos de Paz” e “Semeando”; realização de eventos como “O Século de Kardec” (1987); e movimentos dinamizadores como o “Novos Rumos” (1988 a 1990).
Nesses mais de setenta anos de existência, o CELE recebeu a visita de inúmeras personalidades, destacando-se: Arthur Lins de Vasconcelos Lopes, ilustre líder espírita; Armando de Oliveira Assis, presidente da Federação Espírita Brasileira; Divaldo Pereira Franco, José Jorge e Newton Boechat, excelentes oradores; Henrique Rodrigues, engenheiro eletrônico, excelente polemista espírita; Antonio Cesar Perri de Carvalho, presidente da Federação Espírita Brasileira; Hamendras Nat Banerjee, conhecido estudioso indiano da memória extracerebral; Clev Bekster, pesquisador americano da sensibilidade das plantas; Hernani Guimarães Andrade, nosso mais famoso parapsicólogo, assim como caravanas de espíritas de diversos países.
Localizado na Avenida Desembargador Hugo Simas, em Bom Retiro – Curitiba/PR, o CELE possui, além do departamento Infância Espírita que busca atender às necessidades da criança, pensando em seu momento como Espírito em fase de infância, quatro importantes grupos de estudos como:
PBDE (Programa Básico da Doutrina Espírita): destinados a pessoas que queiram adquirir conhecimento dos fundamentos e princípios da Doutrina Espírita, e seu conteúdo é ministrado com apostilas que contêm uma síntese dos temas abordados nos encontros que acontecem semanalmente, durante um ano, todas às quintas-feiras e sextas-feiras, às 20h e 14h respectivamente.
COEM (Centro de Orientação e Educação Mediúnica): um programa de estudos e orientação sobre mediunidade, desenvolvido pelo Centro Espírita Luz Eterna em 1970 com base no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. O COEM tem duração de dois anos e é realizado semanalmente. As aulas são divididas em teoria e prática e são realizadas com técnicas variadas, sempre às quartas e quintas-feiras às 20h e 14h respectivamente.
EAK (Estudando Allan Kardec): visa o estudo e o aprofundamento das obras básicas e complementares da Doutrina Espírita. Dividido em duas turmas, uma no período da tarde e outra no da noite, o programa visa a análise individual dessas obras que compõem os pilares da Codificação e tem seus horários nas quintas-feiras das 20h às 22h, e às sextas-feiras das 14h às 16h.
Promoção Social: que desde sua criação tem como objetivo promover o ser humano, estimulando-o a desenvolver suas potencialidades, bem como ampará-lo em suas necessidades materiais, morais e espirituais, além de oferecer aos participantes e voluntários a oportunidade do trabalho no bem e a vivência da verdadeira caridade, acolhendo gestantes nos primeiros meses de gestação com realização de entrevista pessoal, apresentação de documentos e visita domiciliar para avaliação de cadastro e muito mais.
Nota do autor:
Para conhecer mais sobre o CELE e o funcionamento de todas suas atividades, e ou colaborar de alguma forma, clique aqui.
Referências:
- https://cele.org.br/
- https://kardecpedia.com/
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