Aos Espíritos consoladores
Donde éreis vós, ó formas imprecisas
De arcanjos tutelares,
Cujas vozes suaves como brisas
Trouxeram-me nas dores,
No auge do meu sofrer, nos meus penares,
A irradiação de brando refrigério!...
Frontes aureoladas de esplendores,
Seres cheios de amor e de mistério,
Cujas mãos compassivas
Ungiram meu coração resignado
Com o bálsamo do olvido do passado,
E com os místicos olores
Das meigas sempre-vivas
Da fé mais luminosa e mais ardente...
Seríeis o fantasma imaginário
Da mórbida exaltação d'alma do crente?
Não, porque sois os cireneus piedosos
Dos que vão em demanda do Calvário
Da Redenção, nos sofrimentos rudes;
Vindes das mais remotas altitudes
De sublimados mundos luminosos!...
Seres do Amor, jamais traduziria
O cântico de luz
Que trouxestes ao leito da agonia
Que eu transpus,
Cheia de desenganos e gemidos!...
Verto ainda os meus prantos comovidos
Lembrando-me do vosso Stradivárius,
Repetindo as cadências dos hinários
Dos orbes da Ventura e da Harmonia,
Onde habitais, glorificando o Amor
Que d'alma faz um ninho de alegria
E um foco de esplendor!
Em que sol deslumbrante, em qual esfera
Viveis a vossa eterna primavera?
Ó irmãos consoladores,
Que vindes confortar os pecadores
Penitentes da vida transitória,
Dai-me um pouco de luz da vossa glória,
Estendei-me uma única migalha
Da vossa paz, que nutre e que agasalha
Os corações iguais ao meu!...
Tenho sede do amor que enfeita o Céu!
Espíritos da luz radiosa e infinda,
Minhalma é fraca e pobre ainda;
Todavia, imortal,
Quero ter dessa luz resplandecente,
E quero embriagar-me inteiramente
Com os vinhos da alegria celestial.
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Cármen Cinira
NOME literário de Cinira do Carmo Bordini Cardoso: nasceu no Rio de Janeiro, em 1902, e faleceu em 30 de agosto de 1933. Sua espontaneidade poética era tão grande que ela própria acreditava
serem os seus versos de origem mediúnica. Glorificou o Amor, a Renúncia, o Sacrifício e a Humildade, em obras como: Crisálida, Grinalda de Violetas, Sensibilidade.
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