A ópera de um romance espírita

Há 25 anos foi encenada no palco do Teatro Villa Lobos, na cidade do Rio de Janeiro, a ópera Ciro e Célia – Uma História de Amor, composta por Alba das Graças Pereira, com base no romance espírita Cinquenta Anos Depois, do Espírito Emmanuel, na psicografia do médium Francisco Cândido Xavier. As apresentações ocorreram de 21 de outubro a 6 de novembro de 1996, de segunda a quarta-feira, às 20h30, numa encenação em três atos, representando um evento único na história do movimento espírita brasileiro e das artes nacionais.

Na ocasião exercia o cargo de Assessor de Comunicação Social Espírita da USEERJ – União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro, tendo oportunidade de colaborar na divulgação do evento, apoiando a iniciativa que passou por vários percalços, principalmente pela dificuldade de conseguir as verbas necessárias, o que culminou numa apresentação sem orquestra, com a execução musical adaptada para teclado, fato que não diminuiu a importância e o brilho das apresentações, sendo que estivemos presente na sua estreia.

Essa apresentação operística espírita é pouco conhecida, isso porque, logo após, a compositora e letrista Alba das Graças Pereiro veio a desencarnar vitimada por câncer, juntando-se ao elevado custo para fazer as apresentações, assim limitando o alcance da peça musical.

Sobre a compositora

Nascida em Araguari, Minas Gerais, em 11 de março de 1948, Alba das Graças Pereira retornou ao plano espiritual em 14 de junho de 2000, na cidade do Rio de Janeiro. Foi professora primária e depois estudou música a que se dedicou até seu retorno ao Mundo Espiritual. Na década de 1970 residiu com Corina Novelino, em Sacramento, MG, época em que teve a oportunidade de auxiliar Corina no preparo do seu livro Eurípedes - o Homem e a Missão, cuja referência consta do prefácio do respectivo livro. Teve notável presença na música para as atividades espíritas.

Sobre o romance de Emmanuel

Em Cinquenta Anos Depois, Emmanuel é o escravo judeu convertido ao cristianismo, chamado Nestório, nascido em Éfeso no ano 131. De origem judaica, é escravizado por romanos que o conduzem ao país de sua anterior existência. Nos seus 45 anos presumíveis, mostra em seu porte um orgulho silencioso e inconformado. Apartado do filho, que também fora escravizado, volta a encontrá-lo durante uma pregação nas catacumbas onde tinha a responsabilidade da palavra. Cristão desde a infância, é preso e, por manter-se fiel a Jesus, é condenado à morte. Com os demais, ante o martírio, canta, de olhos postos no Céu e, no mundo espiritual, é recebido pelo seu amor de outrora, Lívia.

O romance, entretanto, tem como personagem principal a vida de Célia Lucius, nobre romana convertida ao cristianismo, que suporta as mais duras provas durante sua existência, tendo como pano de fundo as mudanças culturais e religiosas em Roma e seus impactos na sociedade.

Célia, expulsa de casa injustamente pelo pai, refugia-se em um monastério em Alexandria, no Egito, disfarçada como o Irmão Marinho. Ao morrer, descobrem que se tratava de uma mulher, muito abnegada e bondosa, que superou muitas injúrias, sempre com espírito cristão. Passou à história com o nome de Santa Marina, embora os detalhes de sua vida, de acordo com Emmanuel, tenham sido alterados.

Um pouco da ópera

Tanto o libreto quanto a música são de autoria de Alba das Graças Pereira. No libreto, a autora agradece o auxílio do Espírito Rossini que, segundo revelação de Francisco Cândido Xavier, foi quem inspirou a obra.

A ópera retrata o ano 131 da era cristã, na Roma ao tempo do Imperador Élio Adriano, trazendo como personagens principais Nestório, Ciro, Célia, Helvídio, Alba Lucínia, Cneio Lucius, Cláudia Sabina e Lólio Úrbico, contando ainda com a participação de 19 personagens secundários, crianças, um coro e três balés.

São três atos, cada um contando com oito cenas, onde os personagens desenvolvem o conteúdo adaptado do romance Cinquenta Anos Depois, em lindas canções.

Um fato histórico

A existência de uma ópera espírita encenada, ou seja, que foi levada ao palco de um teatro, e com o apoio da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, órgão oficial do governo, é, de fato, um acontecimento histórico, inédito, não só no Brasil, mas no mundo.

Temos um preito de gratidão a Alba das Graças Pereira e todos os que colaboraram à época para essa verdadeira odisseia, num trabalho gigantesco, de muito amor e ideal, e que não pode ficar esquecida pelo movimento espírita brasileiro.

Quem sabe, passados 25 anos desse marco histórico, não surgirá nova oportunidade de vermos Ciro e Célia – Uma História de Amor, abrilhantando os teatros, levando a mensagem consoladora e esclarecedora do Espiritismo para os corações e as mentes dos que procuram um novo objetivo para suas vidas?

Sonhemos, pois quem sonha faz o voo da alma e, com este artigo, singela homenagem, quem sabe não vamos despertar novos idealistas espíritas para abraçar a ideia e fazer ressurgir a primeira, e provavelmente única, ópera espírita?

 

Bibliografia:

PEREIRA, Alba das Graças. Ciro e Célia, Uma História de Amor. Rio de Janeiro: 1996.

Marcus De Mario é do Rio de Janeiro/RJ, onde coordena o Grupo Espírita Seara de Luz; mantém o canal Orientação Espírita no YouTube; criador e diretor do Ibem Educa; palestrante e escritor com mais de 30 livros publicados.

Foto: G1 portal de notícias



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