Visitando a velha amiga Janet Duncan
Era o dia mais curto do ano no Reino Unido, em pleno inverno europeu. Londres estava mergulhada num mar de luzes natalinas. Uma festa aos olhos de curiosos que realizavam o sonho de passar as festas de final de ano nesta cidade encantadora, e talvez uma das mais caras da Europa.
Planejar tudo dá certo. Após a viagem de overground, que podemos dizer ser um metrô de superfície, mas na realidade é um trem como qualquer outro, chego à estação de Walthamstow Central, no nordeste da capital londrina. Em toda parte, o agito de final de ano. Música é que o que não falta nas estações. Ouvem-se admiravelmente as cordas de violinos numa beleza ímpar. É um trabalho digno de músicos, que estudam a vida toda, embora muitos não cheguem ao Sol que buscam, mas oferecem lindas melodias por alguns trocados que os transeuntes colocam na caixa dos instrumentos.
Eu confesso que amo tudo isso. Caminhar sob o barulho e a música, sob as luzes decorativas, sob os sinos de Natal nas lojas chamando a atenção dos passantes. Ainda – naquele momento – havia tempo de as pessoas fazerem as últimas compras para o preparo das ceias familiares. Alguns, como uma amiga cujos filhos viajaram, disseram-me que iriam trabalhar na Church perto de suas casas servindo ceia de Natal aos mais simples, aos homeless, e que já fizeram isso antes, fato que traz uma alegria na alma, vendo sorrisos nas faces de pessoas que fogem do frio e se aconchegam dentro da Igreja. Fiz isso apenas uma vez, numa igreja anglicana perto de Piccadilly Circus, que abriga os sem casa, chamados homeless, para que possam dormir nos bancos da igreja nas noites durante todo o inverno. Estive lá na noite de Natal, servindo chocolate quente, com as tortinhas de frutas famosas inglesas, algo super tradicional em Londres.
Encantada sempre fico, com as idas e vindas de pessoas, que descem e sobem no trem, e eu desci na estação, e segui a pé, subindo a colina Church Hill, rumo à casa de Janet Duncan. Muitos já a conhecem, alguns do exterior vinham a Londres e sempre queriam visitá-la, pegar um autógrafo no Evangelho Segundo o Espiritismo traduzido por Janet para o Inglês. Então, essa fantástica lady, exemplo da garra e perseverança no serviço da divulgação da Doutrina Espírita, acolhia a muitos. Alguns me contactaram e arranjamos um horário para o encontro, entrevistas, áudio e vídeo. Devagar vamos colocando novamente ao público essas entrevistas curtas e longas, em Inglês ou com legenda em inglês, em nosso canal da BUSS no YouTube, o BUSSAUDIOVISUALS, para a visitação de todos.
Cheguei à casa de Janet, da qual já tenho as duas chaves de ferro que abrem as portas, também muito antigas. Parecem ornamento de museu. Os ingleses não são de mudar as coisas tudo rapidamente, são muito tradicionalistas. Janet havia chegado do Hospital. Com a idade avançada (96 anos), Janet costumava receber pessoas do mundo todo, que vinham conhecê-la, por conta de ter traduzido primeiro Evangelho Segundo o Espiritismo em língua inglesa, como mencionei acima. Do inglês, tem-se a facilidade de se traduzir aos demais idiomas, como o hebraico.
Nestas visitas a Janet, apesar de ela estar mais na cama, conversamos muito e eu continuo aprendendo sobre livros e melhorando o meu inglês, que uso em qualquer lugar, seja aqui ou em outras terras além-mar.
Elsa Rossi, escritora espírita radicada no Reino Unido, é presidente do Allan Kardec Study Group-Centre for Spiritist Teachings e presidente da União das Sociedades Espíritas Britânicas – BUSS.
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