Theodoro José Papa

Há longos anos, vindo das belas e longínquas plagas no extremo sul da romântica e histórica Itália, da pequenina Rizzicone, da brava Réggio Calabria, onde nasceu em 4 de julho de 1907, por aqui chegou no verdor dos anos e no alvorecer de sua existência, pleno de sonhos, Theodoro José Papa, digno trabalhador, coração franco e aberto, alma límpida e generosa.

Membro de tradicional família italiana, extremamente católica, desde os primeiros anos de sua infância, na cidade pequena da Calábria, via sua mãe cair por terra, em acessos, e com vizinhos e parentes a socorrê-la com vinagre e tapas no rosto até recuperar os sentidos. Seu pai já estava no Brasil desde 1912, onde desempenhava em Araraquara o cargo de Engenheiro Agrônomo da Prefeitura. Em 1914 a família veio para o Brasil. Ele tinha sete anos apenas. A família instalou residência na Morada do Sol. Durante quase 4 anos, assistiram às mesmas cenas; quedas, gritos, socorros e atendimento médico, sem resultado algum. Foram 4 anos de provas e sofrimentos.

Por questões profissionais, em 1918, a família transferiu residência para Ribeirão Preto, onde seu pai, a convite do Prefeito, Dr. Marcelo Bittencourt, passou a exercer as mesmas funções de agrônomo, passando toda família a residir numa casa no alto da rua Tamandaré, anexo à Escola Profissional, pois o Horto em que seu pai iria trabalhar abrangia uma grande área, inclusive o Bosque Municipal e parte do Morro de São Bento. Vivia-se o pós-guerra e Ribeirão Preto iniciava seus grandes passos com a riqueza cafeeira transbordante, escrevendo belas páginas de sua opulenta e radiosa história. Largos horizontes abriam-se à frente dos seus olhos contemplativos e os seus já iluminados ideais. Ao lado estava a Chácara Olímpia, onde residia a família do Sr. Lino Engrácia, com o qual logo a família fez amizade, e Theodoro brincava com o filho menor da família, que depois tornou-se Dr. João Engrácia de Oliveira.

Passados 3 meses, que foram cobertos de alegria, a família julgou que a genitora estivesse curada, devido à simples mudança de ares. Mas o engano foi total, e um dia que não se apagou da memória da família, principalmente dos filhos, que, apesar de estarem na faixa de 9 a 12 anos, viram a mãe correr, gritar e chorar pela rua do Horto, com cerca de 12 funcionários que procuravam acalmá-la, sem resultado. O médico foi avisado e chegou de charrete com o marido. Aplicou-lhe injeção e ministrou remédios. Após algum tempo, ela se acalmou, voltando tudo à serenidade. Com a saída do médico aproximou-se um funcionário conhecido do expediente do Horto que disse ao marido: “Sr. Papa, essa doença de sua esposa não é para médicos.” E como médium auditivo e vidente, que era, passou a relatar e a explicar toda aquela fenomenologia, que o marido aceitou de momento, pedindo orientação sobre aquele fenômeno e como deveria proceder. A indicação foi clara, indicando um médium de nome José Perujo e sua esposa. D. Fraquita, dando assim início ao tratamento com passes e água fluidificada. Além dos passes, começaram a fazer reuniões mediúnicas na sua própria casa, durante os anos de 1919 a 1922, desenvolvendo assim a progenitora excelente mediunidade de incorporação, e por seu intermédio eram transmitidas as mais belas comunicações. Ela era uma mulher analfabeta; contudo, um certo dia manifestou-se o espírito de um Bispo Católico, que repetiu uma missa em latim perfeito, que seu marido conhecia muito bem. Com seu desenvolvimento, desapareceram os acessos e todas as suas consequências. Agora, sim, ela estava realmente curada e em sua casa, na rua Tamandaré, durante 6 anos, todos assistiram, em plena luz do dia, aos mais belos fenômenos mediúnicos, razão por que toda família passou a dedicar-se à nobre causa da Codificação Kardequiana.

Com 15 anos, Theodoro se empregou na Casa Bardaro, que tinha a maior oficina de serralheria, funilaria e instalações hidráulicas, tornando-se logo um perito oficial nessas laboriosas atividades.  Em 1926, com 19 anos, estabeleceu-se por conta própria na Rua Saldanha Marinho, entre a Rua Duque de Caxias e a Rua Mariana Junqueira, com o comércio de louças e ferragens, continuando, todavia, nos fundos da casa comercial com a oficina em que continuou o trabalho no qual se tornara perito oficial, exercendo com a mais alta proficiência o honrado mister.

Em 1933 casou-se com a jovem Albertina Vanini Papa, de peregrinas virtudes, de cujo feliz e frutuoso consórcio matrimonial uno e duradouro advieram os filhos Vera Lúcia, Dr. Marcos Vinícius e Elisabete. Em 1968, encerrando todas as atividades materiais, passou a dedicar-se somente às atividades religiosas e assistenciais, fazendo-o com humanismo admirável, tornando-se afetuoso líder espírita, distribuindo a mancheias a bondade e o amor que brotavam, abundantemente, de seu coração de todos conhecido.

Há ainda outros aspectos na vida de José Papa que não podem ser esquecidos e que não só marcaram sua personalidade como a adornam, sua devoção aos Evangelhos de Jesus, procurando segui-los na prática da bondade, do amor, da fraternidade, da humildade e da pregação, como evangelizador convicto e convincente, iluminado pelo ideal de fazer o bem.

Sua produção intelectual, formada por um conjunto de obras que o coroaram de êxito e admiração, é a seguinte:

Cenas de Nossa Vida - Teatro;

Luz na Ribalta - Teatro;

Contando à Nova Geração a História do Espiritismo em Ribeirão Preto;

Fatos e Fenômenos Mediúnicos;

Rumo a Damasco;

O Batismo;

Fenômenos Mediúnicos nas Velhas Escrituras;

A Viga Mestra;

Poemas;

Mais Poemas;

Outros Poemas;

Meus Poemas “Os últimos?”;

Inspiração (Homenagem a Chico Xavier).

Ainda teve participação na vida jornalística. Ele colaborou durante muitos anos com os Jornais O Diário, Diário da Manhã, A Cidade, Diário de Notícias e Jornal Espírita Verdade e Luz (USE). É de se lembrar, porque vem fundamentalizar o grande espírito de José Papa, ter sido ele o idealizador e fundador da "Creche Vovó Meca", no Conjunto Habitacional Geraldo Correa de Carvalho. Exerceu a Presidência da mantenedora da “Creche Vovó Meca” e de outros departamentos, a Unificação Kardecista de Ribeirão Preto de 1937 a 2004.

Outras atividades culturais por ele desenvolvidas: em 1949 fundou o Ginásio Espírita Apóstolo Paulo, o qual funcionou até 1972; fundador e coordenador do Teatro Experimental Eurípedes Barsanulfo, da Unificação Kardecista de Ribeirão Preto; autor de diversas peças teatrais, registrado na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais; foi tesoureiro da Federação do Teatro Amador da Alta Mogiana no ano 1964-1965, tendo sido colaborador de Bassano Vacarini na realização do III Festival do Teatro Amador do Estado de São Paulo.

Concedeu inúmeras entrevistas aos meios de comunicação de sua cidade e de outros estados sobre assuntos de interesse da comunidade, levadas ao ar pelas emissoras de rádio e televisão e outras publicadas em revistas e jornais locais. Membro da Ordem dos Velhos Jornalistas de Ribeirão Preto. Poderíamos ainda lembrar o orador fluente, vibrante, o conferencista eloquente, sincero, espontâneo e declamador, membro da Academia Ribeirão-pretana de Letras. Recebeu Cartão de Prata da Prefeitura Municipal, em 30 de junho de 1993, como homenagem às pessoas que fizeram história em Ribeirão Preto. Foi citado na "História de Ribeirão Preto". A Câmara Municipal de Ribeirão Preto concedeu a José Papa a maior e mais importante láurea que poderia alguém receber. E no festivo dia 17 de dezembro de 1967 recebia, para orgulho sadio de seus descendentes, para rejúbilo seu, para reconhecimento público, em memorável solenidade, o merecido diploma e o imortal brasão da cidadania ribeirão-pretana.

Theodoro José Papa faleceu em 26 de março de 2004, na sua residência da rua Visconde do Rio Branco n 830, cercado de familiares e amigos, deixando como sugestão estas últimas palavras, que foram transmitidas por sua filha Vera Lúcia: “Deixem de lado tudo que for ruim, fiquem com tudo de bom que vocês aprenderam.

Fontes:

Anuário Espírita de 2000

https://www.unificacaokardecista.org.br/theodoro-jose-papa



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