Quem tem um dicionário da linguagem balbuciar?

Certa vez, numa dessas viagens de trabalho para a divulgação dos ensinos espíritas, a que nos colocamos à disposição dos nossos “diretores” espirituais Jesus-Kardec, vi-me numa cena que jamais esquecerei.  A sala de espera para prioridades, onde famílias com crianças e os acima de 65 anos, como é o meu caso, podem ficar sentados esperando a hora do embarque. Aproveitei o tempo e estive observando três pequeninos e remeti-me à infância dos meus filhos e depois dos netos. Naquele ambiente com alto-falante, ruídos intensos, em um mundo só deles, dialogavam e trocavam os canudos coloridos, as três crianças. Não tinham mais do que 2 a 3 aninhos, a provável americana de pele escura, o chinesinho e a brasileira.

As mães se entreolharam e trocavam frases em inglês sobre os seus amores ali, descontraídos da vida. Sentia-se uma alegria no ar. Um misto de saudade e vontade de retornar me passou na mente e no meu coração. Deixar meus netinhos, a bebezinha Maya com 8 meses, e os demais que guardo em meu coração de avó em país distante, é sempre muito difícil controlar a emoção.

Amo crianças, não importa de onde venham, onde estejam. Sempre tenho vontade de me aproximar e dialogar entre balbucios e sons que acabamos por fazer, pensando que seremos mais bem entendidos. Mas me mantive sentada, em silêncio, me permitindo ouvir as mães e tentando entender o linguajar dos pequenos, observando os pimpolhos. Certamente dá para montar um alfabeto pelos balbucios acompanhados dos gestos. Penso que algum neuropediatra já deve ter estudado a língua dos bebês que ainda engatinham, começando a andar.

A graciosidade e pureza da criança é, para nós adultos de terceira geração ou quarta, um exemplo de reflexão. Muitas vezes, por anos, escondemos a nossa criança interior. A criança é pura, o espírito angelical infantil, ainda desprovido de todas as manifestações no corpo físico, alicerça a base da fraternidade, quando recebe a boa educação moral dos pais.

E aquelas três crianças, sem balbuciar o mesmo idioma, provenientes de países diferentes, mantinham um diálogo de olhares, gestos e entendimento que eu não tive como deixar de acompanhar cada minuto. O diálogo era muito interessante. As brincadeiras com os canudos coloridos, a destreza de um deles dividindo parte dos canudinhos coloridos entre eles, entregando, colocando nas mãozinhas e balbuciando alguma coisa longa.  Depois corria e balbuciava um som, que entendi como que pedindo de volta. Coletava os canudinhos, e levava para uma cadeira vazia, e ali esparramava e balbuciava e, juntos jogavam pra cima, e davam gargalhadas, quando os canudos caíam em sua cabecinhas. Era, como veem, uma alegria só.

A americana veio até mim, depositou canudinhos no meu colo, e descobri seu nome quando a mãe chamou-a: Jennifer, come here (Jennifer, venha aqui).  Fiz meu gesto e disse: It is OK, Jennifer. A mãe sorriu, e os outros dois acharam interessante trazer canudos para meu colo. Coloquei o casaco e a bolsa de mão ao meu lado, e me deixei entrar no mundo deles, falando em inglês e português. Superlegal essa experiência. As mães se tranquilizaram quando eu disse em inglês: Tenho 8 netos, a bebê com 8 meses, Maya. E informei que escrevi livros para crianças, e esse mundo a mim me encantava.  Ficaram mais tranquilas ainda, e deixaram que os pequeninos fizessem a experiência deles, com os canudos no meu colo, põe e tira, leva e traz, cai e ajunta do chão, sorriem, falam algo pra mim, e eu sem o dicionário dos balbucios... Foram momentos que eu não queria que terminassem. Pensei comigo: nasce neste momento no meu coração mais um livrinho de historinhas. Após a chamada para o embarque das prioridades, sentei-me muito atrás, longe dos assentos das famílias com bebês. Mal ouvia a continuidade dos diálogos, pois mães e filhos se deram tão bem e se acomodaram próximas, nos assentos fronteiros.

Durante a viagem, mil pensamentos em como otimizar ainda mais o meu tempo ao aterrissar em Londres. Fiquei tentando organizar uma agenda, para encontrar o esperado tempo para me dedicar novamente aos livros infantis.

Agora, entre a quarentena, a impossibilidade de viagens e os cuidados com a saúde de todos, é chegado o abençoado tempo para eu possa dedicar-me novamente aos livrinhos infantojuvenis.

Desde março, conseguimos colocar para todas as famílias em suas residências, na vivência diária de todos, sem poderem sair, videolivros grátis em inglês, que trazem a espiritualidade para os infantes. Outros já estão para serem editados. Crianças das aulas de educação espírita das Casas espíritas do Reino Unido foram convidadas a gravar historinhas, que então são transformadas em videolivros coloridos, bem atrativos e com conteúdo educacional. 

Sinto-me feliz de poder contribuir, aproximar pais e mães, para esse trabalho de amor, na escola da mater-paternidade que Deus confiou à família terrena.

Meus livrinhos estão no BUSSAUDIOVISUALS. Para acessar, clique em vídeos, no canal da BUSS no YouTube: https://www.youtube.com/c/bussaudiovisuals/videos

Gratidão a todos, aproveitem e exercitem seu inglês junto de seus filhos, seja aqui ou em terras de além-mar.

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Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies.



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