Que mundo maravilhoso!

Londres é linda mesmo no inverno.  Sinto-me abraçada pelas cores e climas em todas as estações do ano. Ontem choveu muito. O verde do gramado interno, onde árvores muito altas deixam seus galhos balançarem ao sabor da canção sonora do vento. E eu busco na internet a música “What A Wonderful World”, em português traduzido como “Que Mundo Maravilhoso”, interpretada por Louis Armstrong em 1967 e muito bem aceita no Reino Unido.

Enquanto aprecio o cenário lindo de minha janela, busco entender essa canção, que traz tanto alento e desperta nossas almas, como uma oração a Deus. Fico pensando o que levou os autores da música, Bob Thiele e George David, a comporem essa prece de alma, que ainda toca corações no mundo inteiro, especialmente após o filme lançado em 1988, intitulado Good Morning, Vietnam.

Que mundo maravilhoso todos nós poderemos ter, de acordo com as lentes dos olhos da alma. Podemos ver as árvores verdes, e em destaque rosas vermelhas também, fazendo florescer para todos.

É dando que se recebe, e se eu penso comigo mesma, que o mundo é maravilhoso, minha mente me leva a sentir o céu azul, pincelado com nuvens cinzas brancas. E após a chuva cristalina, o sol se irradia no abençoado dia, clareando a noite da alma que chora, em desespero, por não conseguir ainda as lentes de visão da verdadeira vida. Mesmo assim, ofereço dicas de como clarear suas nuvens de dor, pois acima de qualquer tipo de nuvem tempestuosa há sempre um sol a brilhar.

Deparo-me, enquanto ouço a música, com as gotículas no ar, formando o arco-íris, trazendo cores tão bonitas no céu.  Vejo que em outras janelas meus vizinhos curiosos com a minha janela aberta no inverno, me debruçando e apreciando tudo, resolvem também olhar para a mesma direção, e então vejo nos seus rostos um sorriso cumprimentando-me pela manhã, fazendo um sinal de bom dia, enquanto ouvem a música cujo volume eu aumento...

Quando tudo fica em silêncio por horas, podemos abrir nossas janelas da alma, e jogar uma música no ar... Fiz isso, e senti que sorrisos ficaram mais tempo nos rostos, em que às vezes o fleumático, em face da cultura deste povo anglo-saxão, pouco sorri. Mas quando sentem segurança, e sentem a porta aberta do coração do estrangeiro que sou, passam a saber que estou sempre cumprimentando, dizendo no meu sotaque brasileiro How Are You?  Como vai você? Notam que tem algo diferente neste sangue de coração brasileiro, que abraça a todos com o olhar, e sorri sem distinção, encorajando a fraternidade em tornar-se ativa.

Uma vez no Rotary Club, novata neste país, 22 anos atrás, fazia apenas dois anos que eu aqui estava, disse aos rotarianos no almoço, no prédio da Estação Charing Cross: Eu Amo Vocês!!! Eles pareciam bebês perdidos nos primeiros segundos, mas depois, com a assiduidade das reuniões semanais, consegui introduzir o abraço, ampliando o contacto fraternal, não somente estendendo a mão e falando à distância: How Do You Do?

E assim foi crescendo a interação, e em poucos meses o abraço já era oferecido por todos. E eles sempre mencionavam que eu lhes trouxera o abraço... E, lembrando-me disso agora, enquanto ouço a música aceno aos meus vizinhos em suas janelas, recordando os rotarianos de que eu fazia parte e pensando comigo mesma: Que mundo maravilhoso!

Assim vou indo... espalhando harmonia, alegria, compreensão, silêncio de ouro, que guardo no cofre dos tesouros da alma, e espalhando o olhar fraternal, onde quer que seja, em Londres ou em qualquer das terras de além-mar.

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Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies.



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