O comportamento espírita-cristão - Rogério Coelho
O Espiritismo oferece recursos para superar aflições e desequilíbrios
“Na verdade, é já realmente uma falta entre vós terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” Paulo. (I cor., 6:7.)
A questão das demandas aqui analisada transcende o âmbito das alçadas dos tribunais, vez que elas (as demandas) expressam-se em uma escala muito mais ampla no cerne dos lares e das instituições.
Esclarece Emmanuel[1]: “(...) aí se movimentam através do desregramento mental e da conversação em surdina, no lodo invisível do ódio que asfixia corações e anula energias ao óleo da animosidade recalcada.
De modo geral, inúmeras criaturas preferem a atitude agressiva, de espada às mãos, esgrimindo com calor na ilusória suposição de operar o conserto do próximo. Prontos a protestar, a acusar e criticar com grande estardalhaço, costumam esclarecer que servem à Verdade. Por qual motivo, porém, não exemplificam a própria fé, suportando a injustiça e o dano heroicamente, no silêncio da alma fiel, antes da opção por qualquer revide?
Quantos lares seriam felizes, quantas instituições se converteriam em permanentes mananciais de luz, se os crentes do Evangelho aprendessem a calar para falar, a seu tempo, com proveito!”
Se já estamos na Doutrina Espírita há algum tempo e o nosso comportamento frente às injustiças, calúnias, vicissitudes, morte, ainda é o mesmo de antes, significa isso que apenas estamos na superfície do Espiritismo, mas o Espiritismo não está em nós.
Sendo Jesus nosso “Modelo e Guia”, conforme assertiva dos Espíritos Superiores[2], e sendo Espírita somente aquele que “se esforça – perseverantemente – para reformar-se moralmente e combater suas más inclinações” [3], não é digno de ser chamado discípulo do Cristo ou Espírita senão aquele que satisfaça essas condições.
O discurso de Jesus, para o discípulo sincero, deverá ser o parâmetro comportamental para o curso de sua vida. Há que se compreender tudo isso, ter convicção mesmo, porque “o primeiro e mais imediato efeito da adoção das diretrizes da Doutrina Espírita, é a transformação moral do homem, que serve de base para a sua constante renovação interior, comandando-lhe o “modus-vivendi”.
Pela mediunidade de Divaldo Pereira Franco, aprendemos com o Espírito Vianna de Carvalho[4] que “(...) com muita justeza, Allan Kardec situa, na transformação do homem, o efeito positivo do Espiritismo, porque elucida a gênese dos problemas que afetam o indivíduo e simultaneamente oferece os recursos para equacionar as dificuldades de qualquer natureza, que produzam aflição e desequilíbrio.
Doutrina de Responsabilidade pessoal conscientiza a criatura dos deveres para com a vida e dos resultados que defluem dos seus próprios atos, sendo, ele próprio, o semeador e o colhedor da gleba que lhe diz respeito.
A adoção do Espiritismo faz-se revelada, quando o indivíduo é de caráter rebelde e torna-se dócil; agressivo e faz-se gentil; tirano e modifica-se para compassivo; avaro e passa a ser generoso; maledicente e adota a compreensão; intolerante e transforma-se em piedoso; atrabiliário e converte-se em equilibrado; perturbador e apresenta-se pacificado... Quando consegue sair da faixa das depressões para o otimismo; do medo para a confiança; do ódio para o amor; da vingança para a solidariedade; da violência sistemática para a fraternidade; do orgulho para a humildade... Quando a confiança substitui a suspeita pertinaz; a esperança toma conta da paisagem da dúvida; a alegria sem exagero sobrepõe-se à tristeza causticante; a prece revela-se um hábito em lugar da blasfêmia ou da revolta surda... Quando a doença de qualquer espécie deixa de ser desgraça para converter-se em processo de purificação e os problemas em geral recebem lentas, mas, seguras soluções reais, aquelas que lhes vão às nascentes, impondo terapia de paz e alegria... Quando a morte de um ser amado não representa infortúnio traumatizante, antes sendo uma libertação que traz conforto e serenidade.
Já não ressuma vibrações deletérias, antes habituais, porém, atrai com magnetismo benéfico, irradiando bem-estar que aos outros contagia. Confia em Deus, sem misticismo pernicioso, e age com perseverança, na mesma postura, seja no júbilo ou sob dificuldades, mantendo a mesma positiva insistência no bem.
Silencia o mal e não o vitaliza; acolhe a perseguição e não revida; entende cada qual no estágio em que se encontra, conforme as suas conquistas morais; sem impor-se, libera aqueles que lhe compartem a vida sem a mesquinhez do domínio enganoso; sofre, porém não desanima, mesmo quando outros desertam... É, em suma, feliz, sem embargo das conjunturas naturais que defronte”.
[1] - XAVIER, F. Cândido. Pão nosso. 17.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996. cap. 143.
[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.
[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. XVII, item 4, § 5º.
[4] - FRANCO, Divaldo. Reflexões espíritas. Salvador: LEAL, 1992. cap. 25.
Comentário