O Espiritismo segundo os espíritas - Rogério Coelho
O Espiritismo detalha a moral de Jesus, colocando-a ao alcance de todas as criaturas.
“O homem está sempre disposto a negar aquilo que não compreende.” - Pascal
As pessoas mal informadas a respeito do Espiritismo e cuja capacidade de análise é muito superficial exclamam vez por outra: “Espiritismo é coisa do diabo!... A Bíblia condena o Espiritismo!... Só o diabo é que se comunica pelos médiuns para enganar os crédulos e ingênuos!...”
Partindo da argumentação de que só o diabo pode se manifestar do outro lado da tumba, é curioso observar que ele trabalha contra ele mesmo, pois graças ao intercâmbio mediúnico um número incontável de incrédulos passou a acreditar que a morte não é o fim de tudo; que o túmulo não é o epílogo senão o recomeço de uma nova vida! Graças às comunicações dos Espíritos é que muitas criaturas se esclareceram quanto ao real significado da vida, quanto à sua origem e destino e muitas outras se consolaram e encontraram a paz ante o episódio da “morte” de um ser querido.(1)
Já prevendo a futura comunicação entre os mundos espiritual e corporal, aconselhou João, o Evangelista: “(...) experimentai se os Espíritos são de Deus.” (2) Ora, essa recomendação é muito importante, sem dúvida alguma! Devemos passar pelo filtro da razão mais severa todas as comunicações recebidas, inclusive as do próprio mentor de nossa Sociedade Espírita. O mundo espiritual, como o corporal, está repleto de Espíritos levianos, brincalhões, pseudossábios, cínicos medíocres, traiçoeiros...
Junto ao cuidado proposto pelo Evangelista, devemos também alinhar a recomendação de Paulo que escreveu aos tessalonicenses: “examinai tudo, retende o bom”. (3) Assim, devemos sempre examinar com muita atenção as comunicações dos Espíritos e só aproveitarmos aquelas que não ferem a razão e tampouco a lógica e que são portadoras de lições oportunas, rejeitando, em contrapartida, todas as que não primam pela verdade e não têm finalidade útil.
O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, não se encontra atrelado a dogmas que engessam o discernimento. A Doutrina Espírita não é (como creem vulgarmente), uma receita para fazer as danças das mesas ou para executar passes de escamoteação e tampouco é uma oficina do maravilhoso ou sobrenatural... O Espiritismo simplesmente ensina e detalha a moral de Jesus, colocando-a ao alcance de todas as criaturas que se esforçam por vencerem-se a si mesmas e buscar o aperfeiçoamento, ou seja, a iluminação interior.
Em seu aspecto religioso, o Espiritismo nada possui que possa ao menos superficialmente lembrar ou admitir dogmas, fórmulas, bulas, prática de culto exterior, paramentos próprios, casta sacerdotal ou hierarquias... Sua Filosofia, erguida em base científica, é estabelecida sobre a prova certa e insofismável da Imortalidade da Alma.
É para fornecer esta prova que os Espíritas evocam os Espíritos de além-túmulo, enquanto que de muitas outras vezes eles se manifestam espontaneamente.
Os médiuns são dotados de uma faculdade natural que os tornam aptos a servir de intermediários aos Espíritos e a produzir com eles os fenômenos que passam por milagres ou por prestidigitação, aos olhos de quem quer que ignore a sua explicação.
A faculdade mediúnica não é privilégio exclusivo de certos indivíduos. Ela é inerente à espécie humana posto cada um a possui em graus diversos ou sob formas diferentes.
Assim, para quem conheça o Espiritismo, todas as maravilhas de que acusam esta Doutrina não passam de fenômenos de ordem física, isto é, de efeitos cuja causa reside nas Leis da Natureza.
O Espiritismo nos ensina a suportar a desgraça sem a desprezar, a gozar a felicidade sem a ela nos apegarmos; coloca-nos acima dos interesses materiais, sem por isso marcá-los com o aviltamento, porque nos ensina, ao contrário, que todas as vantagens com que somos favorecidos são outras tantas forças que nos são confiadas e por cujo emprego somos responsáveis para conosco e para com os outros.
Vem, então, a necessidade de especificar esta responsabilidade, as penas ligadas à infração do dever e as recompensas de que desfrutam os que a obedeceram; mas aí, então, as asserções não são tiradas senão dos fatos e podem verificar-se até à perfeita convicção.
Tal é esta Filosofia, onde tudo é grande, simples; onde nada é obscuro, porque tudo é provado; onde tudo é simpático, porque cada questão aí interessa a cada um de nós.
Tal é esta Ciência que, projetando uma viva luz sobre as trevas da razão, de repente desvenda os mistérios que julgávamos impenetráveis, e recua até o Infinito, o horizonte da inteligência; tal é a Doutrina Espírita, que pretende tornar felizes e melhores todos os que concordam em segui-la e que, enfim, abre à humanidade, uma via segura para o progresso moral.
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1 - Este texto está baseado num artigo de A. Briquel, publicado no jornal “La Discussion” de Bruxelas, no dia 31.12.1865 e transcrito para a “Revue Spirite” de Fevereiro de 1866.
2 - BÍBLIA, N.T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983, cap. 4, vers.1.
3 - I Tess., 5:21.
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