Nunca desfalecer

Hugo Gonçalves, o nosso saudoso diretor e dirigente do Lar Infantil Marília Barbosa e do C.E. Allan Kardec, de Cambé, sempre lembrado pelos que o conheceram, na sua figura ímpar e amorosa, tinha uma frase lapidar. Sempre a repetia, para os amigos, principalmente, dada a sua longevidade, pois viveu até os 100 anos de idade. Quando perguntávamos a ele como ele estava, costumava responder: pedalando a bicicleta para ela não cair.

Considerando a sabedoria dessa frase sua, nós aqui a colocamos para nosso próprio aprendizado. Há uma história de Meimei, no livro “Pai Nosso”, psicografado por Chico Xavier, que vale a pena rememorarmos, pois está bem de acordo com essa frase. Trata-se de “O Arado Enferrujado”. Quem a leu vai se lembrar. Coloca Meimei que um arado fazia seu serviço de modo exemplar – sempre trabalhando. Os vermes que desejavam inutilizá-lo nunca o conseguiam, pois o lavrador atento, por esse lhe ser tão útil, o conservava sempre em bom estado. Em vão os vermes buscavam destruí-lo.

Um dia mudaram de tática. Começaram a induzi-lo a pensar que estava cansado, muito cansado, que trabalhava demais e precisava descansar. E tanto o fizeram que ele assimilou a ideia. Pediu ao lavrador que lhe desse um descanso, após tantos anos de serviço. O lavrador achou justo. Ele foi colocado num canto.

 Sem cuidados do lavrador, sob a chuva e o sol, começou a ter sinais de ferrugem. Os vermes aproveitaram o repouso, para atacá-lo.

Quando ele percebeu a situação, implorou ao lavrador que o colocasse novamente no trabalho. Era tarde. Ele foi completamente inutilizado pelos vermes que o enferrujaram e a ferrugem provocou estragos demais.

Essa história infantil da Meimei é na verdade muito adulta. Vale para todos nós, os trabalhadores da seara de Jesus.

Estamos todos os habitantes da Terra necessitados do amparo de Jesus. A hora é difícil para uma grande parte. Sofrimentos têm atingido a muitos. A dor campeia, fazendo o seu serviço de aprimoramento dos habitantes do planeta. Degraus de luz estão sendo galgados em cima de provações várias.

Haveremos de um dia, não necessitarmos mais das dores do mundo, mas até que o amor nos atinja, aflições teremos nessa vale abençoado, que é aonde se encontra o choro e o ranger de dentes.

Trabalhar e trabalhar sempre. Pedalar a bicicleta para ela não cair. Frase de Hugo Gonçalves que nos ensinou a todos os trabalhadores do Centro Allan Kardec de Cambé.

O trabalhador do bem nunca deve parar. Caso o faça, pode acontecer-lhe o que aconteceu com o arado.

Kardec pergunta aos Espíritos em O Livro dos Espíritos qual é o limite do trabalho e eles respondem que é o limite das forças, ou seja, cada qual o deve fazer enquanto seu corpo permitir.

No livro Paz e Renovação, psicografado por Chico Xavier, o espírito de Batuíra envia-nos na página Trabalho e Sacrifício, os seguintes dizeres:

Filhos, todo trabalho é santo, contudo, é forçoso não esquecer a santidade maior do trabalho de sacrifício na exaltação do bem:

Quando tudo parece obstáculo intransponível;

Quando a dificuldade econômica nos exaurir as últimas energias;

Quando a enfermidade parece eliminar-nos todas as forças;

Quando a solidão nos envolve no seu manto imponderável de cinza;

Quando a calúnia nos fere, de rijo, ameaçando prostrar-nos o coração;

Quando a maioria dos companheiros nos estende o fel da dúvida, em troca de nossas esperanças mais belas;

Quando a tentação nos cerca o espírito necessitado de segurança, ofertando vantagens materiais à custa da nossa deserção do dever a cumprir;

Quando o desânimo, por frio doloroso, busca entorpecer-nos as fibras mais íntimas;

Quando o cárcere de nossos testemunhos se ergue, aflitivo, portas a dentro da própria casa, aprisionando-nos em superlativo sofrimento moral...

Nesses minutos supremos, é preciso trabalhar mais, confiando-nos à bênção divina, que brilha infatigável no trabalho maior.

Trabalhar sim, porque é trabalhando no bem de todos que enxugaremos as próprias lágrimas e venceremos as próprias fraquezas, de modo a que todo mal nos esqueça, por invulneráveis às arremetidas da sombra.

Filhos, não vos deixeis abater diante da luta.

O apostolado da redenção inclui todas as dores. Lembremo-nos de que perseguido e tentado, Jesus trabalhou sempre... Ainda mesmo na cruz, à frente da morte, trabalhou na obra do perdão sem limites. E não nos esqueçamos de que é pelo trabalho que poderemos responder ao divino apelo, que há muitos séculos, fluiu da divina palavra:

-- Sê fiel e dar-te-ei a coroa da vida.

Sejamos sim, perseverantes no trabalho do bem, fiéis à sabedoria do Espiritismo que nos foi presenteado pela misericórdia divina.

Nunca desfaleçamos. Nas fileiras espíritas, grandes trabalhadores nos servem de exemplo, trabalhando infatigavelmente, mesmo no limite de suas forças.

Não desfaleçamos nas horas de testemunho. Sigamos com Jesus e Kardec.



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