Não somos órfãos... - Américo Domingos
No mundo atual, é expressivo o número de pessoas que abandona sua crença religiosa, desiludido, sem sentir mais qualquer aparato, principalmente a fortaleza humana que lhe fornecia sustento e firmeza na prática de sua devoção. Contudo, o crescimento acentuado da secularização, processo ligado ao afastamento ou perda de relevância da religiosidade nos vários aspectos da vida atual do indivíduo, embora forte, não se mostra detentor do troféu da invencibilidade, porquanto a religião, em outros arraiais, continua a ter peso muito importante no dia a dia de cada ser.
Quanto à fé despojada da razão, uma das consequências infelizes é o intenso esvaziamento de fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana, sobretudo na Europa, o que já se previa pela adesão dela ao religiosismo, voltada principalmente para os interesses materiais, enquanto outras crenças estão se tornando fortes.
A intromissão do poder temporal no cristianismo nascente, acarretando uma postura religiosa destoante, fez com que muitas pessoas confundissem o Cristianismo de Jesus, genuíno, inundado de espiritualidade, com o “cristianismo dos homens”, em completa decadência, desde o tempo do imperador Constantino. Assim, como ensina a Doutrina Espírita: “No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram” (1). Tudo isso foi antevisto pelo Mestre, dizendo que “não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (2).
Portanto, essa decadência religiosa, tão apontada pela sociologia, está endereçada diretamente para a Igreja Institucional e ambos ignoram que o próprio Jesus frisou a presença de bons tempos, nos quais não deixaria a humanidade órfã, voltando a ter contato de novo com ela (3). Ainda por cima, ressaltou que antes tinha muitas coisas para dizer, mas a humanidade de então não tinha condições de suportá-las (4).
Enquanto muitos grupos, inclusive acadêmicos, anunciam um futuro religioso sem qualquer perspectiva otimista, outras fontes científicas relatam venturosas pesquisas, revelando a importância da espiritualidade na prevenção e tratamento das doenças. Nas religiões são encontrado o maior número de pessoas evidenciando hábito de vida mais saudável e mais propenso a adoecer menos e, ainda por cima, mais refratário à depressão e, quando é acometido por ela, revela maior chance de recuperação vertiginosa.
Experenciando a espiritualidade, o paciente enfrenta com denodo as doenças e tolera melhor os sentimentos de raiva, culpa, remorso e ansiedade. Diante da morte, sente-se seguro, pois já carrega consigo, bem despertado o amor, principalmente, palmilhando o caminho da fraternidade, durante a sua vida. Compreende que não está sozinho e sente que a transcendência não é uma utopia e, sim, um significado de ideal e força, alicerçado em uma imortalidade radiante dentro de si. Exteriorizando plena espiritualidade, o ser sabe que a morte não interrompe a vida, a qual já se manifestava esfuziante antes da fecundação dos gametas sexuais.
Ainda que a vivência da espiritualidade não seja intrínseca aos religiosos, sendo até pouco desenvolvida em alguns setores mais dogmáticos, ela se manifesta bem forte, exatamente na Doutrina Espírita, cujos profitentes possuem uma crença alicerçada na fé raciocinada.
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