Moldura da ação - Rogério Coelho

Quem não fala no bem, dificilmente o fará!

"Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação." - Paulo, (Efésios, 4:29)

Os escribas e fariseus, ciosos de suas ordenações exteriores de superfície, (verdadeiros túmulos caiados), não perdiam ocasião para tentar minimizar ou eliminar tudo que não pudessem compreender ou que lhes estava em flagrante superioridade. Jesus, então, sempre lhes oferecia "um prato cheio" porque Seus atos e Seu verbo grandiloquentes estavam sempre escandalizando-os.

Ao repararem que Seus discípulos estavam comendo sem antes lavar as mãos (o que para eles era antes um ato religioso que de higiene, e porque era mais fácil lavar as mãos do que expungir o coração das sujidades morais) aproximaram-se de Jesus e O inquiriram[1]: "por que transgridem os Teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem o pão”.

Após salientar a enorme hipocrisia farisaica, Jesus lavrou a sentença contida no capítulo quinze, versículos onze e dezoito do Evangelho de Mateus: "o que contamina o homem não é o que entra pela boca, mas o que sai da boca isso é o que contamina o homem; porque o que entra pela boca, desce ao ventre e é depois lançado fora; mas o que sai da boca procede do coração."

Receber da vida a bênção da luz ou a experiência da sombra é opção de cada criatura, ao utilizar bem ou mal as preciosas concessões do tempo e das oportunidades.

Diz o brocardo popular que "o peixe morre pela boca."  Isso pode também ser aplicado ao homem: na verdade, se ingerirmos veneno, o corpo físico perece, mas reencarna para ressarcir; ao passo que continuará "morto" antes e depois da morte, o Espírito cujo coração é um minadouro de iniquidades. Daí o acerto do asserto de Jesus registrado por Mateus.

Atualmente, a malversação da palavra tem ocorrido com frequência nunca dantes observada.  Jamais foi ela (a palavra) tão denegrida e achincalhada como nos tempos atuais!

Irmão José[2], pela psicografia de Carlos Baccelli, diz-se impressionado com a avalancha "(...) de palavras ociosas que frequentam a boca dos homens.  

Com o devido respeito aos nossos irmãos da Terra,"- diz esse Mentor amigo - "os assuntos levianos e inúteis a que se entregam no dia a dia consomem-lhes a maior parte do tempo, visto que de modo geral, do que o homem fala, muito pouco se aproveita para a sua edificação. Os assuntos mais sérios giram em torno do ganho material, da política, do poder...

A palavra, no entanto, dá notícias da vida mental de quem a profere, colocando à mostra os seus mais íntimos interesses”.

Abordando as questões sobre a natureza e a identidade dos Espíritos, Allan Kardec inicia um esclarecedor diálogo com os Espíritos superiores perguntando[3]: "por que sinais se pode reconhecer a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos?

Resposta: "pela linguagem, como distinguis um doidivanas de um homem sensato.  Os Espíritos superiores só dizem coisas sensatas. Os Espíritos inferiores caracterizam-se pela ignorância e imperfeição de seus discursos”.

Atentemos para a conclamação de Irmão José2: "saneemos as palavras que proferimos, disciplinando as ideias que nos frequentam a cabeça. Procuremos um alimento intelectual que não se deteriore nas palavras que pronunciamos.

A palavra invigilante que nos escapa dos lábios nem sempre pode ser detida em seu poder destruidor. E os estragos produzidos pela palavra só podem ser reparados através de atitudes que, não raro, nos custam muito esforço e muita renúncia.

Em Jesus, a palavra era a moldura perfeita da ação, tanto quanto a ação era o perfeito complemento da palavra”.

VERBO & VIDA

"N`Ele" - continua irmão José - "a coerência maior entre o verbo e a vida!... Eduquemos, portanto, a nossa língua; selecionemos os temas de nossa conversação; elevemos o nível de todo diálogo de que participemos; adequemos o nosso vocabulário ao Dicionário do Evangelho; habituemo-nos a falar construindo; não aceitemos provocações verbais.

Sob o ponto de vista espiritual, não "tropecemos" nas palavras, em nossa jornada ascensional para Deus. A melhor dicção é aquela que nos conclama ao bem; a linguagem mais erudita é a que nos sensibiliza o coração. 

Quem não fala no bem, dificilmente o fará! Palavra ociosa é fruto de mente ociosa e toda mente ociosa é causa de doença, obsessão e loucura”.

Infalivelmente seremos chamados às falas nos tribunais divinos e ai de quem malbaratou a palavra, porque avisados já estamos desde há dois mil anos, quando Jesus declarou em severa e nobre advertência[4]: "mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar contas no dia do juízo”.


[1] - Mt., 15:2.

[2] - BACCELLI, C.A. Evangelho e doutrina. Votuporanga: DIDIER, 1995, cap. 30.

[3] - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª. parte, cap. XXIV, questão 268-1ª.

[4] - Mt., 12:36.



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