Marília Barbosa

Marília Ferraz de Almeida Barbosa, carioca, nasceu no dia 21 de fevereiro de 1900, na Fortaleza de Santa Cruz, na antiga Capital da República, Rio de Janeiro. Baiana de coração, iguaçuana de alma.

Em plena idade infantil foi residir com seus pais em Salvador, capital da Bahia, onde passou sua adolescência. Era filha primogênita de Simpliciano Augusto de Almeida e Luiza Marcondes Ferraz de Almeida. Seus pais procuraram dar-lhe educação aprimorada, e deles recebeu a bênção do exemplo e da dignidade, o gosto pelo estudo e pelo trabalho, o estímulo para o seu espírito cristão.

Cresceu no seio de numerosa família ao lado de quatorze irmãos, sendo ela a primogênita. Participou ativamente no encaminhamento e educação dos irmãos, servindo-lhes de segunda mãe com dedicação e desvelo sem par.

Com dez anos de idade substituía a sua mãe extremosa na direção do lar, quando a genitora adoecia. Meiga e compreensiva, era surpreendentemente obedecida por todos, que a respeitavam, tanto quanto seus próprios pais. Nada se fazia naquele lar sem ouvi-la, e sua opinião ponderada e prudente era acatada por todos.

Alguns de seus irmãos, partiram cedo para espiritualidade, como o Anízio, o Rubens, o Otacílio, a Zenur e a Zilah. Outros mais tarde, cultuando-lhe a doce lembrança, como o Jerônimo, a Maria de Lourdes e a Zenaide. Estas duas últimas foram suas grandes colaboradoras na sua obra apostolar, a que se consagrou por toda a vida.

Marília Barbosa tinha natural vocação para o magistério. No tempo de solteira, lecionou na Bahia. Regressando ao Rio, dedicou-se ao ensino na Baixada Fluminense, lecionando também no   Colégio Nacional, em Paraíba do Sul, onde fez inúmeros amigos. Foi, porém, na florescente cidade dos laranjais, Nova Iguaçu, que sua obra de educação iria afirmar-se definitivamente.

Antes de mencionar sua mais fabulosa obra educacional, impõe-se a referência ao seu maior aliado, maior amigo e grande coautor de suas vitórias e retumbantes sucessos: Leopoldo Machado, a quem ela conheceu ainda em Salvador. Tempos depois, no Rio de Janeiro, reencontraram-se. Surgiria o afeto entre os dois. Casados, foram morar em Paraíba do Sul.

O casamento ocorreu no dia 29 de dezembro de 1927, quando Leopoldo estava implantando seu trabalho em Paraíba do Sul, na filial do Colégio Nacional. Três anos depois, a convite do coronel Alberto Mello, prefeito de Nova Iguaçu, cujos filhos estudaram com Leopoldo no Méier, foram para Nova Iguaçu.

Juntamente com Leopoldo, sua cunhada Leopoldina de Barros, sua sogra Anna Izabel e o estímulo econômico de Manoel Quintão, amigo ainda dos tempos de Salvador, fundaram em Nova Iguaçu o Colégio Leopoldo, no dia 1º de fevereiro de 1930. O colégio foi o primeiro estabelecimento regular e oficial de ensino no Recôncavo Fluminense.

Seu magnífico exemplo de probidade magisterial, de tolerância religiosa, seus gestos de bondade, simplicidade e modéstia, dados às gerações de seus educandos, constituíram um marco de luz na sua vida mestra e espírita.

Marília, com seu espírito amoroso e bom, foi uma esposa boa e dedicada para Leopoldo. Companheira de todas as horas, confidente, secretária, conselheira, a quem Leopoldo atendia com docilidade.

Em 1948, por ocasião do 1º Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, ela aderiu gostosamente à campanha de Leopoldo “Espiritismo de Vivos”, fundando Mocidades, participando de trabalhos de persuasão, adotando hinos espiritualizados nas sessões magnas, aplaudindo os programas de moços, o Teatro Espírita, a poesia, esquetes, declamações, piquenique, evangelização da infância.

Foi o braço direito de Leopoldo, no movimento de Mocidades Cristãs Espíritas.

Seu lema era servir, servir aos irmãos, servir à Doutrina. Por muito acompanhar o esposo nas suas andanças e conferências, também no seu impedimento assumia a tribuna. Dentro de pouco tempo, passou a ser solicitada para falar nas várias Instituições Espíritas, e sua palavra simples e terna, espontânea e evangelizada, deixava a todos embevecidos.

Foi presidente do Centro Espírita “Fé e Caridade”, dinamizando seus trabalhos de ajuda aos menos favorecidos, fundando várias obras sociais, inclusive sua primeira Mocidade e Escola de Evangelização para Infância. Por ocasião das férias escolares, Leopoldo viajava por vários estados e cidades do interior, e ela sempre o acompanhava a serviço da Doutrina.

Certo dia, em uma visita à Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, visitando uma favela juntamente com irmãos da casa Francisco de Assis, uma criança lhe perguntou: - No Natal do ano que vem a senhora volta? Surgia, a partir disso, o Lar de Jesus.

Certa noite, ao saírem da oração no Fé e Caridade, em Nova Iguaçu, encontraram uma família dormindo ao relento. A família estava de passagem por Nova Iguaçu e não tinha onde pernoitar. Surgiu, então, a ideia do Albergue Noturno, concretizada pouco tempo depois com os companheiros do C. E. “Fé, Esperança e Caridade”. Com a ajuda de todos, dentro em pouco estava funcionando o Albergue Noturno “Allan Kardec”, obra assistencial nascida do coração, iniciativa e espírito de cooperação. O nome Mãe Marília, como era chamada carinhosamente por todos, surgiria naturalmente dessa sequência de trabalhos pelo próximo.

Dia 13 de setembro de 1949, vítima de problemas oncológicos, Marília Barbosa despediu-se desta vida. Mas desencarnou tranquilamente, recomendando a todos não chorar a partida, porém orar sem lamentações, visto que, apesar das saudades, estava feliz pelo dever cumprido.

Mãe Marília vive, desde então, na memória de todos que a conheceram, seus amigos, seus parentes, seus ex-educandos, seus admiradores.

Em reconhecimento do seu valor e do seu trabalho em prol da coletividade, o governo municipal, atendendo ao desejo do povo, deu à praça principal do bairro Caonze, em Nova Iguaçu, bem em frente ao referido Lar de Jesus, o seu nome, em um legado de amor e ternura à posteridade.

Foi por isso que Luiz Picinin, ao fundar o Lar Infantil erguido na cidade de Cambé, PR, deu-lhe o nome de Lar Infantil Marília Barbosa, numa homenagem que os espíritas da cidade prestavam àquela que tanto ajudou as crianças e os adultos menos favorecidos do nosso país.

 

Nota do autor

A foto do topo desta matéria refere-se ao funeral de Marília Barbosa.



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