Juventude e Espiritualidade

Eu me considero uma pessoa extremamente de bem com a vida. Pela alegria de ter “filhos do coração” no mundo todo, também na sequência, tenho netos nascidos na Austrália, Reino Unido, em vários lugares, que me dão muita alegria. Alguns já estão na Universidade e aqui, no Reino Unido, me chamam de grandma (vovó).

Pensando nos meus filhos, já adultos, nos netos, alguns pequenos outros adultos e outros fazendo pós-doutorado, resolvi escrever sobre um assunto que adoro tratar na educação dos jovens: Espiritualidade.

Os bebês descobrem as mãozinhas, reconhecem o mundo ao seu redor. Quando eles começam a falar, andar, ir para a escola primária, começa a preocupação maior por parte dos pais.

Na fase da juventude, descobertas e perguntas aparecem o tempo todo.  As mentes dos jovens estão constantemente bombardeadas com situações incomuns, pensamentos de toda ordem e a vontade de atender aos convites que aparecem.  Compram e compram mais, com o dinheiro dos pais, e, é óbvio, sem ter seu próprio sustento. De outras maneiras, vivenciam situações que requerem responsabilidade que esses imaturos jovens ainda não adquiriram. É uma fase de conflitos internos e espirituais consigo mesmos e com a vida.

Os mais jovens processam em sua mente inúmeras dúvidas. O caminho do jovem vem cheio de anseios, incertezas, diante dos desafios das mudanças hormonais, quando surgem medos e quase uma não conformidade com tudo ao seu redor. Tenho observado isso bem de perto, pois acompanhei o crescimento de jovens netos do coração, e mais de longe meus próprios netos nesta encarnação.

Dependendo da educação recebida, esses jovens valorizam ou se afastam dos pais e familiares, e se conectam mais com amigos na escola, ou amigos da internet, quando o controle dos responsáveis pela educação da criança e do adolescente falha.  Uma verdadeira cascata de informações e situações estimulantes e convidativas, especialmente pelo acesso à internet, que avançou em grandes proporções nos últimos 10 anos, quase como uma invasão de mentes, com informações boas e ruins, para a formação dos jovens.

A ansiedade em se mostrar “dono de si” encobre sua fragilidade e insegurança, e sem a total independência ainda alguns se perturbam facilmente e muitas vezes se fecham em si mesmos, quando o diálogo falha na família.

Em muitas situações de confronto, eles desnudam a própria alma e mostram que ainda não estão prontos. Nessa tentativa, machucam-se mentalmente, espiritualmente e, muitas vezes, fisicamente.

Os vícios facilitados batem na porta das famílias, sem que elas estejam preparadas para entender o que acontece, e com isso, como na inocência ou na não observância de situações, a dependência química se instala dentro da própria casa da família, dentro da pessoa que amamos tanto – nossos filhos.

Tudo isso não é novidade para muitas famílias, pais e educadores mais espiritualizados. O agravante é a terceirização da educação inicial que, a rigor, perante Deus, deveria ser sempre dos pais.

A escola instrui, o lar, a família, educa.  A família equilibrada proporciona condições para uma educação equilibrada, em valores morais e afetivos, em clima de respeito e disciplina, que acontece por meio de diálogo, companheirismo, brincadeira, valores que são mostrados como base da colmeia da família. É o amor no trato, na educação.

Estudos feitos nos Estados Unidos e em outros lugares nos informam que há falta de espiritualidade dentro do lar. Os jovens questionam a existência de Deus, porque os próprios pais, muitos sendo ateus, não têm como lhes passar valores espirituais.

Os jovens ouvem jovens. Precisamos despertar e valorizar os jovens que têm um maior contato com a Espiritualidade. Estes entendem que a vida não nasceu aleatoriamente, por acaso, que tudo ao nosso redor foi pensado, planejado, materializado por um “arquiteto espiritual”, Deus.

O jovem com esse conhecimento, que tem potencial para falar em público com outros jovens, deve ser estimulado e ter oportunidade de falar nas escolas, clubes, gravar curtos vídeos, difundir o conhecimento no qual os jovens podem buscar apoio nos seus momentos de dificuldades e também quando se isolam, se sentem expulsos de grupos e enfrentam situações semelhantes. E quando acontece esse momento difícil, pensam no suicídio.

As instituições espíritas que contam com jovens, filhos de trabalhadores, ou amigos da casa, devem dar oportunidades a esses jovens de participarem, de ajudarem no planejamento do Mês Espírita, no aniversário da Casa, de mostrarem seus trabalhos, ou até mesmo pequenas leituras ou pequenas palestras nos dias de trabalhos públicos. Seguramente, isso os ajudará a ter gosto pelo trabalho e vincular-se à casa espírita. Deixar os jovens falar sobre tudo, de maneira responsável, de forma que ajude os jovens leigos, sem teto nem chão, em suas dores morais, equivale a valorizar a vida, a fechar a porta do suicídio.

Allan Kardec, em seus fantásticos livros que "matam a morte", traz-nos informações relevantes que nos abrem portas para novas investigações do porquê da vida:

Quem sou?

De onde vim?

Para onde vou?

Por que alguns sofrem desde o berço e outros têm tudo e não valorizam nada?

Os jovens podem entender isso e, assim, melhorar sua própria existência, entendendo seu valor e compreendendo que seus pais e eles mesmos são Espíritos eternos a caminho da evolução.

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Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies. 



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